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Velozes & Furiosos 6 estreia com 260 milhões de dólares... como pode?

Roberto Sadovski

27/05/2013 07h38

100 milhões de dólares. Arredondando um tantinho para cima, é o que Velozes & Furiosos 6 arrecadou em sua estreia nos cinemas ianques este fim de semana. No resto do mundo, ao menos nos países onde o filme também debutou (inclusive no Brasil), a caixinha registrou mais 158 milhões de dólares. A soma é maior que o resultado total de cada um dos três primeiros filmes da série. A bem da verdade, quando o terceiro filme, Desafio em Tóquio, derrapou nas pistas em 2006 – sem Vin Diesel ou Paul Walker ou Dwayne Johnson –, a idéia de criar uma série sobre corridas urbanas já tinha ido para o vinagre. O que sobrava de Velozes & Furiosos eram os carrões tunados e as mulheres curvilíneas – sendo que só os primeiros eram vendidos como miniaturas.

Tudo mudou quando a Universal trouxe Diesel de volta, agora também como produtor, e o elenco do filme original se reencontrou em Velozes & Furiosos 4, de 2009. O diretor Justin Lin, o mesmo que comandou a aventura em Tóquio, começou a transformar a série em algo além do fetiche de carros coloridos e anabolizados explorado à exaustão nos dois primeiros filmes, de 2001 (dirigido por Rob Cohen) e 2003 (este de John Singleton). Ainda assim a reunião, um plot sobre traficantes mexicanos e Paul Walker indeciso entre ser agente do FBI e bandidão casca grossa, fez uma bilheteria só decente, não ficando nem entre as quinze maiores de 2009. Algo mais radical precisava ser feito. E foi.

Vin Diesel, todo pimpão em seu carro novo

Velozes & Furiosos 5 trouxe a ação para o Rio de Janeiro e uma guinada radical no "gênero" da série: sai de cena o tema das corridas urbanas; entra em seu lugar um heist movie, ou filme de roubo. No Brasil, a gangue de Dom Toretto (Vin Diesel) e Brian O'Conner (Paul Walker) arma um plano para roubar 100 milhões de dólares de um bandidão carioca. No encalço dos criminosos acelerados, entra em cena Hobbs, o gigantesco agente do FBI interpretado por Dwayne Johnson – que, por sinal, ajudou a dar novo fôlego a outras duas séries, Viagem ao Centro da Terra e G.I. Joe. Jogando a lógica pela janela e orquestrando sequências de acão tão bonitas quanto improváveis e espetaculares, Justin Lin deu um passo além e Operação Rio – que teve lançamento mundial na capital carioca com todo o oba oba de Hollywood – surpreendeu com 630 milhões de dólares nas bilheterias mundiais. Nos Estados Unidos, terminou 2011 como a sexta maior arrecadação daquele ano.

Isso tudo e um gancho esperto para armar o filme seguinte.

Tyrese Gibson aprende a voar mais alto que o Superman

Velozes & Furiosos 6 é tudo que a aventura anterior foi, só que elevado à décima potência. O cenário agora é Londres. Dom, Brian e cia., agora vivendo em países sem extradição para a América com o fruto do roubo milionário, são coagidos por Hobbs a ajudar a capturar um criminoso internacional que… bom, vai saber qual é afinal o plano de Shaw (Luke Evans). Basta entender que bilhões de dólares estão em jogo, além da segurança do mundo livre. Em troca, Hobbs é obrigado a garantir que toda a gangue será perdoada por seus crimes, além de trazer de volta à família de Toretto sua namorada, Letty (Michelle Rodriguez), que para todos os efeitos havia morrido no quarto filme da série (quanto menos essa parte da trama for explorada, acredite, é melhor).

Apesar do fiapo de roteiro para amarrar o filme, e o total descaso com toda e qualquer lei da física, Velozes & Furiosos 6 merece não só cada centavo da bilheteria absurda de sua estreia, como também deve ter uma carreira brilhante pelo resto da temporada do verão americano. O motivo é um só: o filme entrega exatamente o que promete. Diversão acelerada, diversidade de gênero e raça (isso sem precisar de sistema de cotas) e uma mensagem bacana para um filme do gênero – a de que, no fim das contas, a família é o único laço que importa. Quando o pacote é entregue com um tanque destruindo tudo em uma rodovia lotada, um avião cargueiro do tamanho de um país sendo derrubado por três carros com ganchos (em uma pista de decolagem que parece infinita) e, claro, carrões turbinados, não tem como não ser feliz no cinema.

Dwayne Johnson e Gina Carano observam a destruição

E não é o fim, claro (com as centenas de milhões nos cofres do estúdio, nem poderia ser). O epílogo de Velozes & Furiosos 6 amarra toda a série com seu capítulo mais deslocado: o terceiro filme. Ambientado em Tóquio, Velozes 3 trazia um moleque americano (Lucas Blak) aprendendo com Han (Sung Kang) a arte do drifting. A certa altura, Han é morto – o que não impediu que o personagem voltasse nas três aventuras seguintes. O novo filme explica o que aconteceu, coloca Desafio em Tóquio no lugar certo da cronologia da série (depois do sexto e antes do sétimo, já prometido para o ano que vem) e introduz um novo jogador que vai aumentar ainda mais a testosterona em cena.

É uma sobrevida maior do que uma série sobre carros e machos alfa poderia sonhar. Desavergonhadamente trash, mas feito com a melhor produção que centenas de milhões de dólares pode comprar, Velozes & Furiosos 6 (e, pode apostar, o sétimo também) não vai além do nobre propósito de proporcionar entretenimento e deixar mais ricos artistas que já estão nadando em dinheiro. Cinema também é tudo isso.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.