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Se Beber, Não Case Parte III é uma comédia sem risadas

Roberto Sadovski

29/05/2013 07h37

Eu consegui terminar minha sessão de Se Beber, Não Case Parte III sem esboçar uma gargalhada sequer. Um ou outro sorriso nervoso, outros tantos mais constrangidos, mas na maior parte do tempo minha mente oscilava entre o que eu teria para o almoço horas depois e o tamanho do cheque no bolso de Bradley Cooper – apenas um dos muitos atores que não tem absolutamente nada para fazer no filme. Voltando um pouco no tempo, mais precisamente em agosto de 2009, Se Beber, Não Case quase me levou ao chão do cinema de tanto rir. Era uma daquelas comédias modernas que surgem do nada e, com zero pretensão, conquistam a platéia. Mais ou menos como Penetras Bons de Bico ou Missão Madrinha de Casamento. Mas toda moeda tem o outro lado.

E o da "saga" conduzida pelo diretor Todd Phillips foi ter fôlego para um único disparo. Quando a continuação de Se Beber, Não Case estreou em 2011, basicamente repetindo o plot do primeiro filme com mais dinheiro e grosseria, talvez fosse a hora de todos apertarem as mãos e agradecerem a jornada bacana: as duas comédias renderam, juntas, mais de 1 bilhão de dólares. Mas dinheiro chama mais dinheiro, e o final da trilogia (é, agora já era uma "trilogia") chega aos cinemas no Brasil este fim de semana, acompanhado da visita de Phillips e todo seu elenco no ensolarado Rio de Janeiro. Essa Parte III, no entanto, só tem por mérito não repetir, mais uma vez, a história do original: unidos para um casamento, Phil (Bradley Cooper) e Stu (Ed Helms) acordam com a maior ressaca da história, duas vezes provocada por  Alan (Zach Galifianakis), cunhado de Doug (Justin Bartha) com alguns probleminhas de conexão na cachola. Desta vez não há casamento, muito menos ressaca, nem alguém desaparecido que eles precisam encontrar. Em seu lugar surge uma trama sobre milhões em ouro roubados, uma caçada humana, muitas drogas, violência e um retorno malfadado a Las Vegas.

Mr. Chow e o Bando de Lobos preparam o tabuleiro para um grande golpe

Absurdo número um: centrar o novo filme em Alan, provavelmente o protagonista mais antipático, indesejável, obtuso, desagradável e inconsequente do cinema moderno. Após perder seu pai (e adivinhe quem foi a causa de seu ataque cardíaco fulminante…), família e amigos de Alan decidem levá-lo a uma clínica onde ele possa receber acompanhamento médico adequado. No caminho, porém, eles são abordados por Marshall (John Goodman), mafioso casca grossa que procura colocar as mãos no fugitivo Leslie Chow (Ken Joeng), que lhe roubou mais de 20 milhões de dólares em ouro. Claro que Alan é o único com quem Chow parece ter alguma conexão, claro que Doug será mantido refém até o chinês ser encontrado, e claro que cabe ao Bando de Lobos encontrá-lo.

Absurdo número dois: Leslie Chow não é um personagem engraçado. Ele funcionou como "escada" no primeiro filme, um dos muitos elementos que amarravam a noitada etílica dos Lobos em Vegas. Se na segunda aventura a presença de Chow já forçava a barra, aqui ele ganha improváveis contornos de protagonista ao lado de Alan. É o verdadeiro motor da narrativa. Enquanto isso, Bradley Cooper e Ed Helm não passam de coajduvantes nas loucas aventuras de Alan e Chow. O que impulsiona Se Beber, Não Case Parte III, portanto, parece menos a vontade de contar uma nova história e mais as tentativas em repetir beats dos filmes anteriores – mesmo sem explicitar a intenção. O resultado é canhestro e constrangedor. Mais ainda para Cooper, recém indicado ao Oscar e com uma dúzia de projetos cada vez mais interessantes no currículo. Vai entender…

Bradley Cooper se agarra ao que resta de sua dignidade

Todd Phillips é um diretor de talento genuíno. Herdeiro de um estilo adolescente de fazer comédias popular nos anos 80, ele criou verdadeiras pérolas como Caindo na Estrada e Dias Incríveis. A boa adaptação para o cinema da série de TV Starsky & Hutch foi o trampolim para ele mergulhar em Se Beber, Não Case, que pareceu juntar todos os seus maneirismos em uma comédia bacana e engraçada, que mereceu cada centavo de sucesso. Com Galifianakis e Robert Downey Jr. ele fez Um Parto de Viagem em 2010, mas a série que chega ao fim foi o que ocupou sua atenção nos últimos anos. Em 2011 ele me confidenciou que quase filmou a Parte II no Rio de Janeiro, mas optou por Bangkok por estar mais familiarizado com a capital tailandesa (não entrei em detalhes, só para deixar claro). Ainda assim, Phillips conseguiu o que queria e trouxe o Bando de Lobos ao Brasil. Alguém arrisca uma Parte IV em meio aos Jogos Olímpicos?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.