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Warcraft dá seus passos... e Super Mario Bros. completa 20 anos. Game on?

Roberto Sadovski

01/06/2013 04h33

Se os filmes baseados em quadrinhos de super-heróis são o melhor aluno da classe, o atleta bacana, o sujeito mais cool do colégio… filmes baseados em jogos de video game são o moleque sofrendo bullying, o perdedor que apanha de todos e nem chega perto de ficar com a cheerleader no final. Como o cinema gosta de mostrar, porém, sempre há o momento de dar a volta por cima. Caso em questão: World of Warcraft, o maior MMORPG do planeta, com mais de 8 milhões de seres humanos conectados e jogando ao redor do globo, finalmente vai virar filme. Não é pouca coisa. Cameron Diaz gasta suas horinhas online no jogo. Dwayne Johnson, Mila Kunis, Vin Diesel, Kate Beckinsale e Hugh Laurie também. Minha entrevista com Brandon Routh no lançamento de Scott Pilgrim Contra o Mundo quase se tornou uma declaração de amor do Superman de Bryan Singer sobre o jogo. South Park ganhou um Emmy com o episódio "Make Love, Not Warcraft". Nos quadrinhos (olha aí o link da coisa!), WoW é publicado pela mesma DC Comics do Superman e Batman.

É coisa de gente grande. E é algo absurdamente difícil de traduzir para um roteiro de cinema. Afinal, com sua natureza colaborativa e a possibilidade de construir um mundo aos poucos, WoW não é como um livro ou uma HQ, não tem roteiro fechado a ser adaptado. Um filme deixa de fora o elemento interativo que faz do jogo tão popular. Para os não iniciados, MMORPG é a sigla para massively multiplayer online role-playing game. A grosso modo, jogo de interpretação de papéis online para múltiplos jogadores. Sendo ainda mais grosso, tem um catatau de gente plugado na internet vivendo dentro de um universo de fantasia ao lado de outro catatau de gente – sejam guerreiros, magos, clérigos, elfos etc e tal. Quando você lê a notícia de algum infeliz que morreu depois de uma semana sem comer ou dormir, só jogando, é certo que World of Warcraft estava on.

World of Warcraft é isso aí: guerreiros, mundos mágicos… tudo que a gente sempre vê, só com que um prisma novo

Claro que, com tanta gente prestando atenção, Hollywood ia fixar o olhar em WoW. Nem é difícil imaginar o motivo. Além dos filmes de super-heróis que fazem a registradora tilintar, o grande barato do cinemão tem sido investir em fantasia, os exemplos mais óbvios sendo O Senhor dos Anéis (que ainda está nos cinemas faturando 1 bilhão por filme com a trilogia O Hobbit) e Harry Potter. World of Warcraft tem a marca, tem a atmosfera e tem o público salivando para ver a coisa toda na telona (mesmo que eles não estejam atrás dos teclados). A Legendary Pictures (do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e Círculo de Fogo de Guillermo Del Toro) tem os direitos do jogo desde 2006, e desde então procura um modo de desvendar a fórmula. O primeiro diretor a se oferecer foi Uwe Boll, responsável pelos desastres House of the Dead, Alone In The Dark, Bloodrayne e Postal – todos baseados em games; todos entre os piores filmes da história. Ele foi respeitosamente ejetado dos escritórios da Legendary. Sam Raimi foi o seguinte, e esteve envolvido com o projeto até 2010, quando decidiu visitar a terra de Oz. Agora a bola da vez é Duncan Jones. E a bola está rolando!

Duncan Jones é um diretor de dois filmes no currículo e imenso talento. Lunar e Contra o Tempo são pérolas da ficção científica moderna: baratos, criativos, eficientes e emocionantes. Jones agora ganha uma caixinha de areia bem maior para brincar, já que o produtor Charles Roven (O Cavaleiro da Trevas, O Homem de Aço) anunciou que o filme – batizado somente Warcraft – pode ir para a frente das câmeras no começo de 2014, apontando um lançamento para o ano seguinte. Com Assassin's Creed, game que terá Michael Fassbender como produtor e protagonista, também agendado para 2015, finalmente os filmes baseados em vídeo games poderão ter um pouco de respeito. Tudo depende, claro, de quem vai apertar o start.

Boa sorte para Duncan Jones, que vai transformar isso aí em filme…

Curiosamente, esta semana marcou duas décadas que a primeira adaptação de um game chegou aos cinemas – com resultados desastrosos! Em 28 de maio de 1993 Super Mario Bros. mostrou o quanto é fácil para cineastas prepotentes não entenderem nem uma sombra do que faz os personagens de um jogo populares e carismáticos. A dupla Annabel Jankel e Rocky Morton, que basicamente não fez mais nada depois de Super Mario Bros., transformaram a história do encanador que enfrenta um monstro para resgatar uma princesa numa distopia sombria sobre uma Terra paralela em que dinossauros evoluíram e dominaram o planeta. Só que não, já que a idéia ficou em algum lugar entre o roteiro canhestro e a execução desastrosa. Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper tentaram emprestar alguma dignidade à coisa. Mas para que se importar?

Com um começo tão equivocado, foi difícil Hollywood abraçar a "cultura dos games" ou levá-la à sério, o que ficou ainda pior com a série de bombas que seguiram: Double Dragon, Street Fighter (e sua continuação), Wing Commander, Doom, Silent Hill, DOA, Hitman, Max Payne… Todos péssimos, todos eu tive o prazer de conferir em cinemas vazios, fosse no Brasil ou nos Estados Unidos (ok, Double Dragon foi em VHS, deve ter destruído a vontade de viver de meu VCR). Tomb Raider tinha Angelina Jolie mas por duas vezes não funcionou; Príncipe da Pérsia, de produção primorosa, não foi a lugar algum; Resident Evil é minha série favorita de filmes ruins, mas pouco lembram o game em que se baseou. Curiosamente, a indústria dos games atropelou a cinematográfica em faturamento, e a tecnologia entrega obras primas como Call of Duty e Batman: Arkham City. Mas os donos das marcas não parecem dispostos a entrar no jogo de Hollywood nem tão cedo. Tirando Assassin's Creed e Warcraft, tentativas de levar Bioshock e Halo, por exemplo, não saíram da gaveta, mesmo com Robert Zemeckis e Peter Jackson envolvidos.

Talvez seja melhor assim. E talvez Warcraft mude o cenário e mostre que os games podem ser fonte tão bacana para boas histórias como qualquer outra mídia. Mas, sem a gente segurando os controles, a pergunta que fica é: qual o motivo?

Para celebrar os vinte anos de Super Mario Bros., eu deixo vocês com o trailer do filme… e a lembrança de que a coisa pode ficar muito, mas muito ruim…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.