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“A Pixar não precisa caçar talentos”, diz produtora de Universidade Monstros

Roberto Sadovski

20/06/2013 23h49

John Ratzenberger é o amuleto da sorte da Pixar. O ator (e roteirista, e produtor, e diretor) emprestou sua voz a personagens de todos os filmes lançados pela produtora desde Toy Story. "John não pode estar de fora, e isso nem precisa estar num contrato", brinca Kori Rae, produtora de Universidade Monstros, décimo quarta animação do estúdio. "Mas seria preciso um terremoto para deixar John de fora. Na verdade, conseguir talentos para trabalhar em uma produção da Pixar nunca foi o problema."

Kori, que assume aqui pela primeira vez a produção de um longa do estúdio, explica que a Pixar tem o privilégio de atrair os profissionais mais talentosos do mercado, o que é resultado de uma constante busca pela qualidade: "Meu trabalho como produtora é trazer sempre a melhor equipe, e os melhores sempre querem trabalhar conosco". Quando pergunto se ela já teve dificuldade em chamar alguém para emprestar voz a algum personagem, a resposta é rápida: "Não. Nunca precisamos caçar talentos. Fazer um filme como Universidade Monstros é uma tarefa árdua e muitas vezes bem complicada. Mas atrair os melhores profissionais jamais foi problema". Se atrás das câmeras a equipe do filme traz os melhores profissionais do ramo, à frente o calibre do elenco é sempre de primeira. "Helen Mirren trouxe a mesma energia que ela leva a qualquer filme que ela participa, a dedicação foi a mesma", continua. E não só ela, mas também gente bacana como Sean Hayes e Alfred Molina, além do elenco do original que está de volta." E John Ratzenberger, claro.

Um dia eu quero ver uma animação feita no estilo dos desenhos conceituais…

A jornada de Universidade Monstros começou cinco anos atrás, quando John Lasseter (o cabeça da Pixar) e Pete Docter (diretor do Monstros S.A. original) bateram idéias com Dan Scanlon, que comanda o filme, para voltar ao mundo de James Sullivan (John Goodman) e Mike Wazowski (Billy Crystal). "O mais difícil sempre é acertar a história", diz Scanlon, que não trabalhava com a Pixar quando Monstros S.A. foi lançado e teve um olhar de fã em primeiríssimo lugar. "O roteiro leva tempo a ser desenhado porque trabalhamos com muitos colaboradores, com os artistas conceituais, storyboards, e tudo ajuda a enxergar que rumo a história vai tomar." No caso, Universidade Monstros é o primeiro prequel gerado na Pixar. E um estranhamente familiar.

"As experiências que a gente tem na universidade muitas vezes determinam nosso futuro", explica Scanlon. "Então foi curioso imaginar como Mike e Sully seriam nesse período, que experiências os levaram a ter a personalidade que vimos em Monstros S.A.." Visualmente, o desafio foi fazer que com o mundo de Monstros parecesse novo e original, ainda que as caras familiares fossem identificáveis de imediato. "Desenhamos várias versões dos dois", continua o diretor. "Sully surge um pouco mais magro, ele ainda não é o grande monstro campeão de sustos do filme original. E Mike é um pouco menor, seu olho parece maior. Mas o mérito, além da equipe de animadores, é mesmo a personalidade da voz de John e Billy." Pergunto se os atores gravaram suas vozes juntos, o que seria prática pouco comum em uma animação: "Fizemos de todas as maneiras, juntos, separados, e a química sempre está lá".

Esta cena é só do teaser e não entrou no filme (evite se decepcionar)

Visualmente ainda mais impressionante que o já incrível Valente, do ano passado,Universidade Monstros parece que só encontra limite para a tecnologia na imaginação de seus artistasDan Scanlon lembra, porém, que ainda assim os desafios eram constantes. "Ainda brigamos com algumas coisas, certas composições técnicas", conta. "Mas o maior desafio é o escopo do projeto, a quantidade de monstros e os diferentes designs que tinham de conviver em harmonia." Coordenar tudo isso era parte do trabalho de Kori Rae. "Quando a Pixar abraça a visão de um diretor, minha função é fazer com que toda a equipe em torno de um filme trabalhe para realizar aquela visão", revela a produtora. "Apesar de sermos uma empresa grande, ainda somos geridos por artistas, e manter sua visão é essencial."

No caso de Universidade Monstros, a idéia de Scanlon era trilhar o caminho bem familiar das comédias universitárias americanas. Em vez de fugir dos clichês, o filme os aceita de maneira inteligente e os subverte dentro de um universo muito particular. Mike e Sully vivem, então, num mundo de atletas populares, góticos estranhos, uma reitora linha dura, uma pitada de bullying e a velha história do grupo de esquisitos triunfando em uma situação impossível. É A Vingança dos Nerds… sem os palavrões e o sexo, claro.

Mike e Sully posam para a posteridade

Vale apontar que Mike e Sully não começam a trama como amigos. Eles na verdade se mostram rivais no curso de sustos da universidade, com Sully sendo 100 por cento instinto – assustar é uma tradição familiar – e Mike surgindo como o nerd que tira nota máxima nas provas teóricas e não entende do riscado na hora de assustar de verdade. Uma confusão causa a expulsão da dupla do curso, e eles precisam se unir – junto com a fraternidade mais estereotipada de perdedores da universidade – para competir no concurso de sustos da U.M., ganhar a taça e ser readmitidos como alunos.

"Eu trouxe muito de minha própria experiência na universidade para o filme", revela Dan Scanlon. "Pode parecer um exagero, mas a vida universitária nos Estados Unidos é mesmo uma sucessão de clichês, mais ou menos como os filmes mostram. O bacana de Universidade Monstros é transformar esses clichês em situações mais extremas, o que a fantasia deste universo permite." Só uma coisa faz muita falta no novo filme: a menina Boo, elo humano que causava identificação imediata no filme de 2001. "É verdade, Boo provavelmente nem existia na época", diz Scanlon entre uma risada e outra. "Mas é por isso que a turma da fraternidade que aceita Mike e Sully é tão humana. É como uma família disfuncional em que os dois surgem como figuras paternas em eterno conflito, e os fihos tentam apaziguar os ânimos." E conflito é a chave para qualquer bom filme.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.