Os Amantes Passageiros: Almodóvar precisa de férias
Os Amantes Passageiros é o pior filme da carreira de Pedro Almodóvar. E não digo "pior" no sentido "ah, o pior dele é melhor do que a média". Digo pior no sentido insuportável da coisa. É histérico, confuso, cansativo, ilógico e frustrante. Almodóvar, como Woody Allen e Lars von Trier, tem seus defensores mesmo quando cometem fimes de quinta categoria. Mas é muito, mas muito difícil ter qualquer simpatia com Os Amantes Passageiros. O cineasta espanhol é autor de algumas obras primas. Mas há anos ele tenta resgatar sua genialidade e só bate na trave. Talvez seja hora de encarar férias. Longas férias.
Depois do pavoroso A Pele Que Habito, uma tentativa mal sucedida de criar um filme de terror e ficção científica (mas bem sucedida no campo da comédia involuntária), Almodóvar decidiu olhar para o passado e arriscar uma comédia rasgada, o que ele não fazia desde Kika, de 1993. Os Amantes Passageiros traz personagens que beiram o caricato em um cenário de cores fortes. Na verdade, um cenário mesmo: o filme se passa na classe executiva de um avião da Espanha a caminho do México. Um problema no trem de pouso faz com que os pilotos tenham de circular em busca de uma pista para uma aterrisagem de emergência. Enquanto isso, os dramas do grupo de passageiros se desenrola e, por vezes, entra em choque.
Aí vem o primeiro problema. Nenhum dos personagens é interessante, nada que acontece à bordo ou em terra tem impacto na história. O que liga todos é o trio de comissários gays (em um estereótipo exagerado para um diretor que sempre tratou a sexualidade com delicadeza) que exageram no álcool, criam um clima de intimidade na classe executiva e fazem com que cada passageiro revele sua história. Mas não existe gente de verdade ali, são arquétipos, idéias que Almodóvar usa para simular profundidade.
E este é o segundo problema. Parece que o cineasta que fazer de Os Amantes Passageiros um retrato da crise em seu país, misturando política, dinheiro e sexo (no caso do filme, muito sexo) em uma situação-limite. A metáfora se perde por terminar em soluções fáceis e primárias: não existe uma visão clara do que ele quer mostrar, só coincidências e ingenuidade. Entre abraçar a comédia e sugerir um comentário sério sobre o estado das coisas, o filme fica num limbo, como o próprio avião sem destino e aparentemente condenado à destruição.
Nada sutil, mesmo a falta de sutileza sendo o forte de Almodóvar: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos é o melhor exemplo de seu cinema histérico. Sem fazer um grande filme desde 1999, quando lançou o irretocável Tudo Sobre Minha Mãe, Pedro Almodóvar vive um vazio de idéias. Os amigo dão uma força (não se engane com os nomes de Antonio Banderas e Penelope Cruz no cartaz, eles surgem numa ponta estilo piscou/perdeu), os fãs fazem fila. Mas isso não é cinema. E Os Amantes Passageiros não justifica a devoção.
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