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Brad Pitt triunfa no começo do fim do mundo em Guerra Mundial Z

Roberto Sadovski

27/06/2013 18h49

Zumbis estão em toda parte. Na TV, na literatura, nos quadrinhos… Desde que George Romero os apresentou ao mundo do entretenimento, os mortos vivos já experimentaram uma dezena de variações em outra dúzia de metáforas. E sempre que algo se torna muito popular, nosso medo diminui: você não teme o que você conhece. Um dos méritos de Guerra Mundial Z é devolver aos zumbis a sensação de perigo. No mundo desenvolvido por Brad Pitt e pelo diretor Marc Forster, a horda de desmortos é letal, como um enxame anabolizado que vive para se reproduzir e destruir. É de tirar o fôlego ver os zumbis como uma massa amorfa caçando Pitt e uma penca de soldados pelos corredores e vielas estreitas de Jerusalém, em uma das sequências mais impressionantes do filme.

Mas vamos dar um passo para trás. Guerra Mundial Z é a adaptação do livro de Max Brooks… e, ao mesmo tempo, não é. Lançado em 2006, o romance acompanha um agente das Nações Unidas que coleta impressões de dezenas de pessoas sobre o conflito com os zumbis, que já dura mais de uma década. Igualmente importante são as descrições de mudanças políticas, econômicas e religiosas resultantes do "apocalipse zumbi". O filme, claro, não tem nada disso – e nem poderia. Aproveitando a idéia central do livro, Guerra Mundial Z é o marco zero da pandemia que toma o planeta. Pitt (que também assina como produtor) surge como um ex-agente das Nações Unidas que atuava em cenários de crise. Quando os mortos vivos começam seu ataque em escala global, ele precisa buscar o paciente zero, a fonte da pandemia e, assim, determinar uma cura.

Pitt conduz sua família para um lugar seguro… ou quase

Mas não é a jornada de um herói: o personagem de Pitt, Gerry Lane, é praticamente coagido a volta a ativa para assegurar que sua família permaneça à salvo no navio que serve de quartel general para a resistência americana. Assim, a "volta ao mundo" do livro ganha uma versão resumida e acelerada. A ação começa com Lane e sua família na Filadélfia – eles testemunham o ataque que dizima a cidade antes de ser resgatados. Daí, Gerry voa para a Coréia do Sul e em seguida a Jerusalém, finalmente chegando ao País de Gales – sempre com uma legião faminta de zumbis nos calcanhares. Ao fazer de Guerra Mundial Z um drama familiar, bem como um thriller e um filme de sobrevivência, Pitt e o diretor Forster (007 – Quantum of Solace) deram mais peso à missão de Gerry, ao mesmo tempo que foram econômicos em tramas paralelas que podiam tirar a força da história principal. As consequências políticas e sociais são tocadas de longe, assim como eventos cruciais para a trama são apenas mencionados: o foco, claro, é Brad Pitt.

Mas Guerra Mundial Z era um animal diferente quando começou a ser rodado. Originalmente o drama familiar do personagem de Pitt era secundário à sua busca. Na verdade, todo o terceiro ato do filme – para você se situar, tudo que acontece depois que Gerry parte de Jerusalém em um avião comercial – foi reescrito e refilmado. A trama original, depois de montada, foi considerada fraca pelos produtores. O estúdio injetou então mais algumas dezenas de milhões de dólares no filme, e todo o clímax foi reescrito (primeiro por Damon Lindelof, com o trabalho terminado por Drew Goddard) e refilmado. Cenas de Lane e sua família, como o começo com eles em casa e um momento de respiro ao fugirem da Filadélfia, também foram adicionadas para dar mais peso à sua separação. Foi uma decisão arriscada, que causou o adiamento do filme e toda a boataria de que Guerra Mundial Z, como filme, não funcionava.

A zumbizada ataca em Guerra Mundial Z

No fim, porém, foi a melhor decisão. Vai saber o que os produtores viram que causou a decisão de modificar a trama. Do jeito que está, Guerra Mundial Z foge do clima de destruição generalizada adotado (para o bem e para o mal) pela maioria dos blockbusters contemporâneos. Sim, o escopo é épico, principalmente nas cenas na Filadélfia e em Jerusalém. Mas ao escolher encerrar o filme em um laboratório, um ambiente confinado, Forster consegue aumentar a tensão e mostrar porque não se deve folgar com zumbis: como uma massa eles são uma força da natureza; como indivíduos infectados eles são ainda mais letais. Com a proximidade eles podem ser encarados como "humanos", o que pode fazer suas vítimas baixarem a guarda. Mas não deixam de ser criaturas com as quais não há como usar razão ou lógica.

Guerra Mundial Z termina como uma trama fechada – mas Pitt e Forster não jogam uma pedra em cima. "Este não é o fim, não estamos nem perto", avisa Gerry Lane a certo momento. A luta continua ao redor do globo, e o mundo de Guerra Mundial Z mostra que tem fôlego para ser expandido. Talvez até em uma direção mais radical, em algo apontado por Max Brooks em seu livro. O estúdio já encomendou uma  continuação – o que é ótimo para Pitt, como produtor e ator, que ainda não tem uma franquia para chamar de sua. Mas isso é uma outra história.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.