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Overdose mutante para chegar afiado em Wolverine Imortal

Roberto Sadovski

24/07/2013 19h58

Assistir aos cinco filmes com os mutantes da Marvel em seguida – com Wolverine Imortal, que é um filmaço, estreando sexta –  me deu uma certeza: boas histórias não envelhecem. Ter uma visão clara de texto e subtexto ajuda. E Hugh Jackman era mesmo um astro esperando ser descoberto. Foi uma tarde (e uma noite) friorenta de sábado que me impulsionou a encarar a sessão quíntupla. Entre erros e acertos, uma coisa é certa: X2, de 2003, é um dos mais completos filmes de super-heróis da história. Mas a gente chega lá, aperte os cintos e vamos mergulhar no mundo dos X-Men.

X-MEN

Bryan Singer, 2000

História engraçada pra compartilhar com vocês. Estava eu em Nova York, verão de 2000, para o lançamento de X-Men. Uma confusão com o fuso horário me fez descer ao lobby do hotel para encontrar os colegas jornalistas e partir para a sessão com… uma hora de atraso. Ou seja, eu tenho mais ou menos uns 15 minutos para cortar duas dúzias de ruas em NY e chegar ao cinema. Como o Mercúrio (e não o Flash, o papo aqui são mutantes), cheguei ao cinema sem fôlego mas em cima da hora. Cinema lotado, uma fileira reservada vazia, os melhores lugares. E foi lá mesmo que sentei – seguido de Halle Berry, que ficou do meu lado e gritou e aplaudiu como o resto da sala. Era um momento histórico: X-Men era um filmaço e, mesmo com falhas e limitações, colocava a Marvel no cinema de maneira exemplar. Dois anos depois do filme de Bryan Singer estrear, Homem-Aranha chegou aos cinemas, quebrou recordes e o resto é história.

Para mim a brincadeira havia começado alguns meses antes, no frio quase glacial de Toronto, no Canadá. Eu fui um dos três únicos jornalistas do mundo a visitar o set de X-Men, o que me deixou ansioso de cara. A cena, Wolverine e Vampira num bar depois de o mutante canadense ter brigado com um infeliz numa jaula, durou um dia para ser rodada – e eu acompanhei o processo passo a passo. A cada intervalo Hugh Jackman vinha bater papo. Muito antes de se tornar astro – antes mesmo de poder ser reconhecido nas ruas – Jackman já era um sujeito bacana. Como Wolverine, ele me impressionou de cara. As garras, o cabelo, a atitude: era Logan ali, materializado, como nas HQs que eu lia desde os 5 anos. Foi um dia de trabalho jóia.

Tirando alguns efeitos visuais, o filme envelheceu bem. Está tudo ali: Patrick Stewart como Charles Xavier, o conflito com Magneto (Ian McKellen), a apresentação da Escola para Jovens Superdotados, as pistas de um mundo bem maior, e Wolverine, o mais popular deles, tomando o centro da aventura. Rever X-Men é como reencontrar um velho amigo, aquele que abriu portas para diversas possibilidades e que fez uma promessa: a partir de agora nada será como antes. E nada foi.

Bilheteria: 296.339.527 milhões de dólares

Reveja porque… a cena em que Wolverine e Dentes de Sabre se enfrentam no topo da Estátua da Liberdade ainda impressiona

Meio nhé… : "Sabe o que acontece quando um sapo é atingido por um raio?" A gente sabe, Ororo. E ainda não é engraçado…

X2

Bryan Singer, 2003

Tudo é melhor na continuação que o próprio Singer dirigiu. A trama, as metáforas com o mundo real (da luta pelos direitos civis até os jovens gays que saem do armário), os efeitos especiais, a direção, roteiro, ritmo, trilha sonora… No set do filme, desta vez em Vancouver, eu vi Singer dirigir seu elenco quando eles invadem a base de William Stryker (Brian Cox) pouco antes de Wolverine deixar o grupo para dar de frente com seu passado. Pouco depois, em um intervalo, Hugh Jackman colocou o filho pequeno no ombro e disse, "Agora papai vai te mostrar o escritório", antes de sumir pelo set.

Em X2 houve também uma aproximação maior com os quadrinhos, já que a trama inspira-se na graphic novel seminal "O Conflito de Uma Raça", em que Chris Claremont e Brent Anderson colocaram Magneto como aliado dos X-Men contra um homem que usa ódio racial como desculpa para caçar mutantes. Isso é traduzido em uma trama genial que ainda pincela o passado de Wolverine e abre espaço para cada um dos personagens ter seu momento. Uma pena que Noturno, numa interpretação brilhante de Alan Cumming, não tenha voltado nos filmes posteriores: ele traz uma inocência a este universo, uma alternativa pacifista a um mondo ainda definido por conflito.

Em um ano supostamente dominado pelas sequências de Matrix, X2 mostrou como uma continuação pode ser inteligente e, mesmo seguindo as tramas iniciadas pelo filme anterior, consegue ser uma história única, que não precisa de bula para ser saboreada. Como qualquer boa narrativa, X2 não mostra as marcas do tempo, mesmo sendo lançada uma década atrás. Um belíssimo filme que, pelo que eu tenho ouvido do set de Dias de Um Futuro Esquecido, pode encontrar paralelo na próxima aventura dos X-Men no cinema.

Bilheteria: 407.711.549 milhões de dólares

Reveja porque… o ataque à Escola para Jovens Superdotados, com Wolverine liberando sua fúria, é sensacional!

Meio nhé… : Nada a declarar, na verdade. O filme continua perfeitinho.

X-MEN: O CONFRONTO FINAL

Brett Ratner, 2006

O terceiro X-Men começou já em apuros. O filme anterior sugeria que a aventura seguinte dos mutantes lidaria com a transformação de Jean Grey (Famke Janssen) na Fênix – e depois da Fênix Negra.  Nos quadrinhos a saga tem proporções cósmicas, terminando na Lua; no cinema, obviamente, adaptações são necessárias. E de cara o capitão do navio mutante saltou do barco: Bryan Singer deixou a produção para dirigir Superman – O Retorno para a concorrência. Matthew Vaughn foi chamado para assumir o filme e, na pré-produção, decidiu que não era o momento, deixando o estúdio com um abacaxi. Entra em cena Brett Ratner, de A Hora do Rush e do interessantíssimo Dragão Vermelho. Mas, vai saber o motivo, os fãs tem alergia a Ratner, e cada uma de suas decisões foi contestada pela massa na internet.

O que Ratner fez, por sinal, foi manter o tom e o visual dos filmes de Singer, dando consistência à aventura que pecou pelo excesso de tramas: além da Fênix, temos Magneto insurgindo numa tacada final contra a humanidade e o governo lidando com a chegada de uma "cura mutante" que divide toda uma raça. O diretor até que consegue um bom equilíbrio, mas a "faxina" promovida em cena, com mutantes importantes sendo mortos e tirados do filme, incomodou. Ainda assim, o clímax na ilha de Alcatraz impressiona pela escala – e o final, com Wolverine e Jean Grey, é genuinamente impressionante.

Na revisão, O Confronto Final mostra suas barrigas e a decisão obviamente executiva de anabolizar não só o papel de Jackman, como também a Tempestade de Halle Berry. Nem sempre são escolhas que trazem o melhor para o filme, e Brett Ratner ainda assim criou uma aventura movimentada que soma elementos ao universo dos X-Men e encerra a trilogia de maneira satisfatória – mesmo que abaixo de seu verdadeiro potencial.

Bilheteria: 459.359.555 milhões de dólares

Reveja porque… a sequência na Sala de Perigo é exatamente como deveria ter sido.

Meio nhé… : Os músculos falsos do Fanático são de chorar…

X-MEN ORIGENS: WOLVERINE

Gavin Hood, 2009

Por onde começar? Encerrada a trilogia X-Men, o estúdio quis diversificar, apostando em filmes solo de seus personagens mais emblemáticos. X-Men Origens: Wolverine (que teria as origens de Tempestade e Magneto na sequência) coloca em cena a série "Origem", em que a Marvel finalmente revelou os segredos do passado do herói nos quadrinhos. E o filme de Gavin Hood começa de maneira brilhante, com o pequeno James Howlett se revelando um mutante e, ao lado de seu irmão (o Dentes de Sabre, aqui defendido por Liev Schreiber), atravessa todas as guerras modernas, mostrando que, com o fator de cura que o s mantém jovens, os dois são sempre definidos pela batalha.

A partir daí, Wolverine desanda na esquizofrenia. Não sabe se quer ser uma aventura do mutante canadense ou se quer juntar uma equipe como os outros X-Men. No meio termo, termina entupindo a narrativa de mais e mais personagens (raramente fiéis a suas contrapartes de papel) em uma trama que, honestamente, não chega a lugar algum. Hugh Jackman é o verdadeiro herói da empreitada, carregando Wolverine na base do charme e carisma. Entre uma e outra cena de ação bacana, ele vê a origem de seus ossos de adamantium (já apresentada em X2) recontada sob um prisma esquisito, enfrenta o mutante Deadpool (no caso mais grave de descaracterização equivocada da história) e termina sem memória por conta de… uma bala de adamantium no crânio! Reveja por sua conta e risco.

Bilheteria: 373.062.864 milhões de dólares

Reveja porque… vá lá, Logan saltando num helicóptero é bem legal.

Meio nhé… : Uma bala na cabeça e ele perde a memória? Fala sério…

X-MEN PRIMEIRA CLASSE

Matthew Vaughn, 2011

Com o projeto das outras origens mutantes no cinema abortado, o estúdio não podia ficar sem colocar os X-Men no cinema sob o risco de ver os direitos voltando para a Marvel. X-Men Primeira Classe foi uma reinvenção que, a princípio, parecia desespero para segurar a marca. Ainda bem que, na prática, o filme se mostrou uma das melhores aventuras dos mutantes. o nome disse é "boas decisões". A começar por Bryan Singer, de volta ao mundo dos mutantes, desta vez como produtor. Matthew Vaughn finalmente desecantou e assumiu a direção. O elenco inspiradíssimo traz James McAvoy e Michael Fassbender como as encarnações mais jovens de Xavier e Magneto. Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult e Kevin Bacon completam a lista.

Primeira Classe volta no tempo e traz Xavier como o jovem idealista, acreditando na convivência pacífica de humanos e mutantes – estes ainda não revelados ao mundo. Magneto, por outro lado, surge como adolescente em Auschwitz (em uma sequência que recria a abertura do X-Men de 2000) e passa os anos seguintes se vingando de seus carrascos nazistas, em busca do homem que matou sua mãe. Este calha de ser Sebastian Shaw (Bacon), mutante superpoderoso e quase imortal que planeja incitar uma guerra atômica no mundo pós-Segunda Guerra. Para Shaw, o planeta coberto de radiação não afetaria mutantes, mas daria cabo da raça humana. Xavier e Magneto se unem e, ao convocar sua primeira classe (eba!), treinar os X-Men para defender um mundo que os odeia.

Colocar a trama em meio da crise dos mísseis de Cuba, quando só a diplomacia pesada do presidente Kennedy impediu a Terceira Guerra Mundial, foi jogada de mestre. Mostrar um mundo onde o medo de quem é diferente sobrepuja a razão foi outro acerto: é impossível não sentir empatia por pessoas com dons especiais que, por mais que se esforcem, ainda são obrigados a encarar o preconceito de quem, supostamente, está do seu lado. X-Men Primeira Classe funciona como aventura de super-heróis e também como alegoria para as diferenças que marcam o planeta até hoje. Com um elenco no auge da forma e um diretor cheio de vontade, o resultado não poderia ser diferente. Alguém mais está curioso para ver todas as gerações de mutantes juntas num mesmo filme?

Bilheteria: 353.624.124 milhões de dólares

Reveja porque… todas as cenas de Michael Fassbender como Magneto impressionam. O cara é bom!

Meio nhé… : A maquiagem de Nicholas Hoult como o Fera não deu liga…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.