Hugh Jackman entrega a aventura mais humana do mutante canadense em Wolverine Imortal
"Hugh Jackman como Wolverine é Sean Connery como James Bond." O diretor de Wolverine Imortal, James Mangold, fez a comparação semana passada na Comic Con. Mas ele está errado. Connery nunca escondeu que interpretar Bond não era exatamente um prazer, mas um fardo. Jackman, por outro lado, se mostra totalmente confortável ao voltar, repetidamente, ao mutante canadense. E não parece disposto a encerrar o ciclo. Depois de três filmes com os outros X-Men, e de uma malfadada incursão solo (o fraquinho X-Men Origens: Wolverine), Jackman arregaçou as mangas e não descansou até fazer um filme digno do personagem. Em outras palavras: uma aventura agressiva, movimentada, inteligente e emocionante.
Conseguiu. Wolverine Imortal pode não ser o filme definitivo do mutante, mas também não tenta ser mais um X-Men coalhado de mocinhos e bandidos, que muitas vezes atrapalham a história com uma demonstração vazia de poderes e efeitos visuais. A verdade é que, se não fosse um personagem tão familiar, que pipoca garras de adamantium nas mãos, seria injusto dizer que é um "filme de super-heróis". A obra de Mangold (que, aqui, ganha o prêmio de cineasta mais eclético em atividade em Hollywood) é uma jornada de conhecimento, a saga de um homem definido pela violência que, após matar a mulher que ama, isola-se da sociedade para tentar viver com a culpa. A ironia é tirar a ação do Ocidente e ambientá-la no Japão, onde a natureza de Logan entra em choque com outro mundo: de honra, deveres e obrigações; onde nem sempre a vontade de um indivíduo determina o curso de sua vida. Para um espírito livre como Wolverine, o choque é devastador.
Mas vamos voltar um pouco no tempo. Wolverine Imortal tem pedigree. É inspirado numa minissérie de 1982 – a primeira do personagem – escrita por Chris Claremont e desenhada por Frank Miller. Embora seja uma adaptação com diversas liberdades (por trazer uma carga cronológica que, claro, não existe nos filmes), o filme mantém intacto seu espírito: a jornada do mutante canadense em fazer as pazes com sua natureza. Para isso o encontramos nas montanhas ao Norte da América, isolado depois de, no clímax de X-Men: O Confronto Final, ele ter matado Jean Grey (Famke Janssen), a mulher que ele amava. Não importa que ele foi forçado a tal (como a Fênix Negra ela ameaçava destruir toda humanidade), mas a culpa é a mesma. É quando Logan é encontrado por Yukio (Rila Fukushima), que responde ao Mestre Yashida (Hal Yamanoushi), um homem que o mutante salvou da bomba de Nakazaki ao fim da Segunda Guerra Mundial. Tanto anos depois, Yashida está morrendo, e quer agradecer a dádiva que ganhou décadas antes.
Assim, Wolverine parte para o Japão, onde descobre que Yashida se tornou um dos homens mais poderosos da ilha – à beira da morte, ele quer recompensar o mutante lhe privando de sua imortalidade, seu fator de cura. O real motivo e a negativa de Logan desencadeiam uma série de eventos que a) o deixam sem o poder de recuperar-se de seus ferimentos, b) o colocam em choque não só com a Yakuza, a máfia japonesa, mas também com um grupo de ninjas denominado Clã das Sombras e c) colocam a vida de Mariko (a belíssima Tao Okamoto), neta de Yashida, em suas mãos. Logo a sociedade ancestral e tradicionalista do Japão se revela tão sórdida e traiçoeira quanto o mundo que Logan já conhece. Shingen (Hiroyuki Sanada), pai de Mariko, e Hanada (Wil Yun Lee) surgem como forças antagônicas que colocam em cheque a noção de honra apresentada a Logan. É neste mundo de monstros tão familiares que Wolverine prova que é o melhor no que faz – seja no topo de um trem bala, a sequência mais eletrizante do filme, seja enfrentando um exército de ninjas.
Tudo bem que, em seu terceiro ato, o filme se torne uma aventura mais genérica, com revelações pouco surpreendentes e um clímax baseado em efeitos especiais que parece alienígena ao lado do resto do filme (a mutante Víbora, honestamente, em nada acrescenta à trama; o Samurai de Prata, só vendo para crer). Até aí, porém, Wolverine Imortal é uma aventura saborosa baseada mais em pessoas do que em pirotecnia: James Mangold, mesmo nos momentos mais "super-heróicos" do filme, mostra que a força da narrativa está em personagens bem construídos, uma história bem amarrada e, principalmente, em um protagonista completamente à vontade no papel que lhe definiu como ator. Hugh Jackman, mais de uma década depois de X-Men, ainda encontra aspectos do Wolverine ocultas em suas quatro aventuras anteriores – a ponta em X-Men Primeira Classe, embora cheia de personalidade, não conta. É a mais humana aventura de um herói que, como mostra a cena pós-créditos (sem entregar muito, ela prepara o terreno para X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, que estréia ano que vem), está bem longe de deixar o cinema.
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