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Nova aventura de Percy Jackson, O Mar de Monstros, é só um souvenir para fãs do livro

Roberto Sadovski

18/08/2013 04h00

Uma amiga me disse, há algumas semanas, não entender como Katy Perry ou Justin Bibier tinham um filme. Astros e estrelas muito novos, carreira meteórica, desde já alvo de uma biografia, um documentário, revelações pessoais somada à euforia dos fãs. Na verdade, é uma equação simples. Um filme – ou um disco, um show em blu ray, uma compilação de vídeos, recortes de revistas, sites na internet – não passa de um produto agregado. Não existe para ter substância ou legar-se à eternidade: é mais um souvenir com endereço bastante específico. É uma lembrança para, em alguns anos, os fãs olharem para trás e enxergar um recorte de sua vida.

Percy Jackson e o Mar de Monstros é basicamente a mesma coisa. Segundo filme com o personagem criado por Rick Riordan, a aventura existe unicamente para a satisfação dos fãs. Não foi colocado muito esforço na produção. Parte do elenco do primeiro filme não aparece (Pierce Brosnan foi substituido pelo infinitamente mais em conta Anthony Head). Chris Columbus, que dirigiu a aventura anterior, Percy Jackson e o Ladrão de Raios, surge como produtor, deixando o comando da aventura nas mãos de Thor Freudenthal (que tem no currículo Um Hotel Bom Pra Cachorro e Diário de Um Banana). Os efeitos especiais são dignos de um especial para TV. É um filme competente. E só.

A verdade é que Percy Jackson já nasceu na esteira de Harry Potter. O primeiro livro, O Ladrão de Raios, foi publicado em 2005, quando a série de J.K. Rowling já dominava também os cinemas. Riordan foi esperto ao se afastar de magos e castelos e mergulhou num mundo de deuses e semideuses, em que Percy desconhecia sua origem divina. Quando sua herança é revelada, ele precisa defender o Olimpo, a Terra e o Acampamento Meio Sangue (sua versão de Hogwarts) de outros semideuses vingativos. O Ladrão de Raios virou filme em 2010 pelas mãos de Chris Columbus (que, não por coincidência, assinou a primeira aventura de Potter nos cinemas, A Pedra Filosofal) e foi um sucesso apenas moderado, passando longe do fenômeno intencionado pelos produtores.

Percy e seus amigos enfrentam… monstros?

Este novo filme é, para ser bem honesto, melhor que a aventura anterior. Mas sua existência se deve apenas à vontade de faturar uns trocados em cima dos fãs: eles, e só eles, vão acompanhar a jornada de Percy (Logan Lerman) e seus companheiros em busca do Velocino de Ouro, artefato místico capaz de devolver a vida à barreira mágica que protege o Acampamento. Daí ele parte para o tal Mar de Monstros, que fica no Triângulo das Bermudas e basicamente não é habitado por monstro algum.

Thor Freudenthal faz um trabalho correto com o roteiro completamente incoerente. Em uma cena, por exemplo, Percy não sabe como chegar a um barco e termina sendo auxiliado por um cavalo marinho; na cena seguinte, ele mostra domínio total dos mares e se mostra capaz de comandar as marés a seu favor. Mas o grande pecado é o filme – ou a série – carecer de um vilão como Voldemort. Em seu lugar surge o semideus traído Luke (Jake Abel, que arrancou gritinhos de fãs que viam o filme a meu lado). O elenco, por sinal, é digno de um episódio de Malhação: jovem, bonito e para lá de verde. Mas não existe nenhum senso de perigo, nenhuma tensão, as soluções são fáceis e o vilão do clímax, um bobão. Como souvenir para fãs, Percy Jackson e o Mar de Monstros já nasce campeão. Mas é difícil que a série avance no cinema além deste segundo capítulo. Podia ser pior. Podia ser Eragon

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.