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Os Fantasmas Se Divertem e por que Tim Burton precisa do novo Beetlejuice

Roberto Sadovski

22/10/2013 18h10

O último bom filme de Tim Burton foi Peixe Grande. Hmmm.. deixa eu reescrever: o último filme memorável de Tim Burton foi Peixe Grande, uma década atrás. E olhe lá. Revelado no fim dos anos 80 como o grande sopro de inventividade no cinemão ianque, o diretor californiano apresentou uma estética peculiar em Os Fantasmas se Divertem em 1988, dominou as bilheterias com Batman (1989) e Batman – O Retorno (1992), foi autoral e reflexivo com Edward Mãos de Tesoura (1990) e Ed Wood (1994) e colocou sua visão à serviço da indústria em Marte Ataca! (1996) e em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999). Planeta dos Macacos (2000) foi Burton 100 por cento no modo "diretor contratado", profetizando o que estaria por vir. Peixe Grande foi um último fôlego, uma história sobre pais e filhos que diz muito sobre Burton, o artista. Depois disso, entrou em cena Burton, o esteta com uma caixa de brinquedos enorme, que já dura há quase uma década.

Não que A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Noiva-Cadáver ou Sweeney Todd sejam filmes ruins – e não são. Mas, assim como Alice no País das Maravilhas ou Sombras da Noite, parecem trabalho de algum diretor imitando Tim Burton. Parece Sam Raimi em Oz – Mágico e Poderoso. O sujeito inovador se perdeu em meio aos dólares e às bilheterias milionárias. Pessoalmente Burton é um sujeito bem humorado. A última vez que conversei com ele foi durante o lançamento de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (dirigido pelo russo Timur Bekmambetov), e Burton estava empolgado como sempre, falando do conceito do filme, das possibilidades visuais. E é aí que mora o problema: é estilo em detrimento de substância. É Burton imitando Burton. É um tédio.

O que nos leva a uma possível continuação de Os Fantasmas Se Divertem. Ou Beetlejuice. Até hoje ainda é o filme mais histérico, bem humorado e sensacional de Tim Burton. O diretor, então com 30 anos, era como o moleque que ganhou passe livre na loja de doces, e usou as ferramentas de um grande estúdio para criar arte. Michael Keaton, que depois seria seu Batman, também nunca esteve melhor. No papel de um fantasma especializado em exorcizar humanos (!), ele é "contratado" por um casal recém falecido (Geena Davis e Alec Baldwin) para expulsar a família insuportável que se instalou em sua casa. A filha do casal (Jeffrey Jones e, em modo pesadelo urbano, Catherine O'Hara) é a doce Lydia, papel da igualmente doce Winona Ryder. O autor de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, Seth Grahame-Smith, está trabalhando no roteiro há alguns anos, mas já deixou claro que um segundo Beetlejuice só faria sentido com Michael Keaton. E, talvez, com Tim Burton no comando.

Que é exatamente o que pode acontecer. O The Wrap confirmou que Burton não está mais envolvido com a fantasia Miss Peregrine's Home for Peculiar Children, o que deixa o caminho aberto para ele assumir o leme da continuação. É certo que Beetlejuice 2 (ou sabe-se lá que nome o filme teria) não é o próximo filme do diretor, mas é certo também que ele não tem nada em sua agenda. Depois do fracasso (artístico e comercial) de Sombras da Noite, voltar ao passado com quase três décadas de experiência pode ser revigorante para o diretor. Seria, na verdade, o projeto ideal: um "produto" familiar, uma pitada de nostalgia e o lugar perfeito para Burton ser Burton, sem amarras e sem limites.

O próprio Keaton está em meio a uma nova vida em sua carreira, aos moldes de Kevin Costner ou Liam Neeson. Ele é o protagonista de Birdman, de Alejandro Iñárritu, e está no RoboCop de José Padilha. Sempre como coadjuvante. Retomar o holofote como Beetlejuice (ou Betelgeuse, o nome de seu personagem) seria a cereja no topo do bolo. Vale lembrar que o fantasma nojentão ganhou vida própria depois do filme, protagonizando uma série animada e uma pá de jogos de videogame. Burton e Keaton, juntos novamente, sem um traje de super-herói para ditar as regras. Eu gosto da ideia. E você, o que acha?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.