Noé ganha trailer, filmes bíblicos ganham força e a polêmica não tarda...
The Wolverine seria o filme que o diretor Darren Aronofsky faria depois de Cisne Negro. Ele já havia trampado com Hugh Jackman (Fonte da Vida, filmaço, veja!) e também curte HQs (quase dirigiu um Batman: Ano Um bem bizarro). Além de tudo, ele queria liberdade e grana para fazer os filmes que tinha na cabeça, e liderar as bilheterias com uma adaptação de gibi parecia o caminho mais natural. Mas o filme que deu o Oscar a Natalie Portman teve uma performance matadora em todo o mundo, encostando nos 330 milhões de dólares em caixa – isso para um filme que custou 13 milhões. E a liberdade almejada pelo diretor chegou mais cedo.
Bom, ou quase.
Seu projeto pós-Cisne Negro foi Noé, uma visão aguda sobre o homem que falou com Deus, viu a chegada do dilúvio e construiu uma arca para preservar a vida selvagem no planeta, enquanto os erros do homem eram varridos pela fúria divina. Aronofsky amealhou um elenco matador (Russell Crowe, Jennifer Connelly, Anthony Hopkins, Emma Watson, Ray Winstone) e trabalhou com Ari Handel num texto que, apesar de espelhar as escrituras sagradas, humaniza Noé, que surge na pele de Crowe menos como um pregador e mais como um homem guiado pela obsessão. Ai chegaram os problemas, claro. O estúdio testou um corte inicial do filme com várias plateias de várias religiões e ficou assustado com a reação de grupos mais radicais. Aronofsky, por sua vez, bateu o pé para lançar o filme que ele se propôs a fazer em primeiro lugar – e o diretor não é o tipo de sujeito que dá muita trela a opiniões de executivos. No fim das contas, Noé chega aos cinemas em março de 2014 e traz um clima épico emoldurado por belas imagens. Inclusive a de centenas de animais (digitais) entrando na arca, uma cena que os técnicos da Industrial Light & Magic disseram ser o efeito mais complexo em que eles já trabalharam. Dá uma olhada no trailer e continuamos o papo.
Noé é o primeiro filme bíblico de uma nova leva que inclui Exodus, de Ridley Scott (que estreia em dezembro de 2014 com Christian Bale, Sigourney Weaver, Aaron Paul e Ben Kingsley); o drama Son of God (agendado para fevereiro do ano que vem); e uma nova versão de Ben Hur, ainda sem data para começar a ser filmada, com a direção de Timur Bekmambetov. Além destes, outros filmes com tintas bíblicas, como Gods and Kings (que seria dirigido por Steven Spielberg, mas que agora voltou para o estaleiro), The Redemption of Cain (um thriller sobrenatural que retoma o conflito dos irmãos Caim e Abel, e que pode trazer Will Smith), e Jesus de Nazaré, que Paul Verhoeven pretende adaptar de seu próprio livro, estão na fila para ganhar os cinemas – e acender polêmicas. Atenção é algo que Hollywood certamente não despreza.
O curioso é notar que os novos filmes fogem do verniz épico das superproduções bíblicas de outrora, como Os Dez Mandamentos, Sansão e Dalila e A Maior História de Todos os Tempos. A idéia dos cineastas não é louvar uma religião, e sim entender seus mecanismos e seus protagonistas. O Jesus de Nazaré de Paul Verhoeven é o vespeiro mais sensacional de toda a ficção bíblica recente. O livro, lançado em 2008, reconta as histórias do Novo Testamento de forma realista. Ou seja: saem de cena os elementos sobrenaturais e os milagres atribuidos a Cristo; entra em cena a história de um ativista político radical, fruto do estupro de sua mãe por um soldado romano, que é crucificado por suas idéias revolucionárias. Martirizado, ele é elevado a figura divina por seus seguidores mais próximos. Ou seja, prato cheio para Verhoeven, que no momento que conseguir financiamento para o filme pode pintar um alvo na testa e esperar o ataque de fundamentalistas religiosos de todos os lados. O que, provavelmente, vai também acontecer a Darren Aronofsky.
Para encerrar o papo, que tal lembrar cinco filmes bíblicos que foram alvo de protestos, polêmicas, proibições, ameaças etc etc…
5- DOGMA (Kevin Smith, 1999)
O diretor de Procura-se Amy fez uma sátira sobre a fé cega da Igreja Católica e colocou Ben Affleck e Matt Damon como anjos caídos, Linda Fiorentino como descendente de Cristo e Alanis Morrissete no papel de Deus. Um filme inteligente, mas a turma dos piquetes ainda fez barulho na frente dos cinemas – e Smith até se juntou a eles!
4- A VIDA DE BRIAN (Terry Jones, 1979)
A visão do grupo Monty Python para a vida de Brian Cohen, um judeu contemporâneo de Cristo que é confundido com o messias, foi taxada de blasfêmia. O filme terminou banido de várias cidades nos Estados Unidos e na Inglaterra por pressão de grupos que sequer assistiram ao filme. Azar o deles.
3- A PAIXÃO DE CRISTO (Mel Gibson, 2004)
Gibson entrou numa situação que não podia vencer: grupos judeus o acusaram de anti semitismo (por causa do retrato dos judeus que prenderam Cristo); grupos católicos o acusaram de mentiroso por não usar nada além da Bíblia para o plot. É um filme violento e poderoso, independente de sua religião. E religião não entra de forma alguma na mistura.
2- O CÓDIGO DA VINCI (Ron Howard, 2006)
O Código Da Vinci é um filme fraco baseado em um livro fraco. Ainda assim, grupos religiosos levantaram a voz contra o retrato de uma igreja católica determinada a esconder a história "verdadeira" de Cristo – um homem que teve descendentes e não seria nada divino. É só um filme, rapazes!
1- A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (Martin Scorsese, 1988)
Agonizando na cruz, Jesus Cristo imagina sua vida longe de seu papel como Filho de Deus, experimentando uma vida plena e mundana, com medos e desejos e dúvidas – como qualquer ser humano normal. O livro de Nikos Kazantzakis, lançado em 1951, causou furor. Mas nada comparado à produção de Scorsese, que sofreu represálias ainda durante as filmagens e chegou ao clímax do fanatismo quando um grupo fundamentalista bombardeou um cinema em Paris que exibia o filme com coquetéis molotov, ferindo treze pessoas – quatro terminaram no hospital com queimaduras gravíssimas. A Última Tentação de Cristo permaneceu banido por vários anos em diversos países, como México e Chile, e continua proibido em Singapura, nas Filipinas e na África do Sul. Ah, e é uma obra-prima do diretor de Os Bons Companheiros e Taxi Driver.
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