Quentin Tarantino processa site que divulgou roteiro de seu próximo filme
Eu não entendo essa vontade que alguns fãs de cinema sentem em estragar sua própria experiência. Aparentemente, Quentin Tarantino também não, mas ele pode levar a discussão para outro patamar. Vamos lá. O próximo filme do diretor seria mais um western, batizado The Hateful Eight. "Seria", no passado: a primeira versão do roteiro, que Tarantino deixou na mão de seis pessoas (ele não disse quem, mas dá pra supor que foram atores e/ou seus agentes), vazou na internet, levando o cineasta a engavetar o projeto. Na manhã de hoje, o Deadline revelou que Quentin decidiu processar o Gawker, site que deixou um link para seu texto à disposição de seus leitores.
E Tarantino está certíssimo.
Desde que a internet existe, o cinema tenta combater os "espiões" que vazam fotos, arte conceitual, até roteiros inteiros de filmes que, obviamente, ainda não estão prontos para o público. Outras vezes, os estúdios usam esse oceano de informação a seu favor, ajudando na divulgação de um filme e abraçando as ferramentas que, obviamente, não vão para lugar nenhum. Tarantino sabe disso, tanto que ele mesmo convidou seus fãs a lerem o roteiro de Django Livre – ao menos uma de suas versões –, que circulava livremente pelas interwebs. O caso agora é outro. O documento legal que o diretor divulgou, por meio de seu advogado, implica o Gawker não como um site jornalístico que reporta o vazamento do texto, e sim como o lugar onde este roteiro estaria arquivado para seus leitores. "Gawker Media faz jornalismo predatório, faz tudo por dinheiro, mas desta vez foram longe demais", mostra o documento. "Em vez de fazer o papel jornalístico e dar a informação, o Gawker se promove como a primeira fonte para se ler o roteiro ilegalmente, deixando explícito que é ali que o leitor pode fazer o download do texto, disponibilizando diversos links para tal."
Ouch.
O que traz de volta o assunto da auto sabotagem. Em um mundo perfeito, os fãs de cinema descobririam o que acontece no filme que eles querem assistir da forma mais lógica: indo ao cinema e assistindo ao filme. A vontade de saber tudo, sempre mais, sempre antes, fez com que a forma que os filmes são vendidos tenha se alterado. Trailers que entregam praticamente a trama inteira. Publicidade massacrante que, não raro, revela pontos importantes de um filme ainda em sua concepção. Como jornalista que cobre cinema, eu mesmo sou bombardeado com informação demais – é responsabilidade de quem está neste barco pesar o que é melhor para sua cobertura e o que é melhor para a experiência de seu leitor. Ler o roteiro de um filme antes (sem saber como diretor vai executá-lo) e divulgar o que acontece é um desserviço. Mas é a natureza da fera. Tarantino deu um passo para, talvez, domar essa fera. Mas você acredita nisso?
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