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Quentin Tarantino processa site que divulgou roteiro de seu próximo filme

Roberto Sadovski

27/01/2014 18h07

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Eu não entendo essa vontade que alguns fãs de cinema sentem em estragar sua própria experiência. Aparentemente, Quentin Tarantino também não, mas ele pode levar a discussão para outro patamar. Vamos lá. O próximo filme do diretor seria mais um western, batizado The Hateful Eight. "Seria", no passado: a primeira versão do roteiro, que Tarantino deixou na mão de seis pessoas (ele não disse quem, mas dá pra supor que foram atores e/ou seus agentes), vazou na internet, levando o cineasta a engavetar o projeto. Na manhã de hoje, o Deadline revelou que Quentin decidiu processar o Gawker, site que deixou um link para seu texto à disposição de seus leitores.

E Tarantino está certíssimo.

Desde que a internet existe, o cinema tenta  combater os "espiões" que vazam fotos, arte conceitual, até roteiros inteiros de filmes que, obviamente, ainda não estão prontos para o público. Outras vezes, os estúdios usam esse oceano de informação a seu favor, ajudando na divulgação de um filme e abraçando as ferramentas que, obviamente, não vão para lugar nenhum. Tarantino sabe disso, tanto que ele mesmo convidou seus fãs a lerem o roteiro de Django Livre – ao menos uma de suas versões –, que circulava livremente pelas interwebs. O caso agora é outro. O documento legal que o diretor divulgou, por meio de seu advogado, implica o Gawker não como um site jornalístico que reporta o vazamento do texto, e sim como o lugar onde este roteiro estaria arquivado para seus leitores. "Gawker Media faz jornalismo predatório, faz tudo por dinheiro, mas desta vez foram longe demais", mostra o documento. "Em vez de fazer o papel jornalístico e dar a informação, o Gawker se promove como a primeira fonte para se ler o roteiro ilegalmente, deixando explícito que é ali que o leitor pode fazer o download do texto, disponibilizando diversos links para tal."

Ouch.

O que traz de volta o assunto da auto sabotagem. Em um mundo perfeito, os fãs de cinema descobririam o que acontece no filme que eles querem assistir da forma mais lógica: indo ao cinema e assistindo ao filme. A vontade de saber tudo, sempre mais, sempre antes, fez com que a forma que os filmes são vendidos tenha se alterado. Trailers que entregam praticamente a trama inteira. Publicidade massacrante que, não raro, revela pontos importantes de um filme ainda em sua concepção. Como jornalista que cobre cinema, eu mesmo sou bombardeado com informação demais – é responsabilidade de quem está neste barco pesar o que é melhor para sua cobertura e o que é melhor para a experiência de seu leitor. Ler o roteiro de um filme antes (sem saber como diretor vai executá-lo) e divulgar o que acontece é um desserviço. Mas é a natureza da fera. Tarantino deu um passo para, talvez, domar essa fera. Mas você acredita nisso?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.