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Diretor John McTiernan sai da prisão direto para o set de Red Squad

Roberto Sadovski

10/02/2014 20h07

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John McTiernan vai voltar a dirigir um filme. A Variety informa que, assim que ele deixar a prisão federal no estado da Dakota do Norte, o cineasta responsável por Duro de Matar e A Caçada ao Outubro Vermelho vai comandar a aventura Red Squad, sobre um ex agente federal que invade o México com um time de mercenários para neutralizar um traficante barra-pesada. Será o primeiro filme do diretor desde Violação de Conduta, que reuniu John Travolta e Samuel L. Jackson em 2003. Red Squad soa exatamente como o tipo do filme de ação que McTiernan se especializou: militarizado, linear e explosivo. É como se ele não tivesse vivido um ano sequer do novo século; sua rotina para nós é nostalgia.

John McTiernan esteve no Brasil em 2009, no Festival de Cinema da Amazonas. Até hoje não entendi direito o motivo, mas não dava para perder a oportunidade de bater um papo com o diretor. Quando conversei com McTiernan, durante um longo passeio de barco regado a Sol e caipirinhas, o escândalo das escutas telefônicas ilegais envolvendo o investigador Anthony Pellicano já colocava a corda em seu pescoço. McTiernan supostamente pediu para o investigador gravar as ligações telefônicas de seu produtor em Rollerball, Charles Roven (que viria a trabalhar posteriormente na trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan). Implicado no caso pelo FBI, ele terminou preso em abril do ano passado. Aos 63 anos, passou de cineasta de prestígio, com amigos do porte de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, a detento da justiça americana.

Red Squad, que está sendo vendido pela produtora Hannibal Classics durante o Festival de Berlim, parece o tipo de filme anacrônico que não parece interessar aos astros de ação atuais. Curiosamente, Schwarzenegger está para estrear seu Sabotage, também sobre agentes federais enfrentando um cartel poderoso, no próximo mês. O diretor de Sabotage, David Ayer, parece beber da fonte de McTiernan: o trailer é um festival de testosterona, com Schwarza longe do modo "vou tirar sarro de minha idade" e um elenco de apoio (Sam Worthington, Josh Holloway, Joe Manganiello) mais casca grossa do que nunca.

Mas Ayer precisa comer muito feijão para ser McTiernan. De 1986 a 2003 ele dirigiu onze filmes, dando a Schwarzenegger um de seus melhores trabalhos (Predador, de 1987), revigorando o thriller da Guerra Fria com A Caçada ao Outubro Vermelho (1990), brincando com o gênero que ajudou a lapidar em O Último Grande Herói (1993) e demonstrando um lado sofisticado e sexy com a refilmagem Thomas Crown: A Arte do Crime (1999, com Pierce Brosnan). Ah, sem falar que John McTiernan é o inventor do cinema de ação atual, já que tudo que veio depois de Duro de Matar (1988) é uma pálida repetição de sua fórmula perfeita, que ele mesmo reprisou em 1995 com Duro de Matar: A Vingança. O cinema de ação do século 21 precisa de John McTiernan (que poderia dirigir um quarto Os Mercenários com o pé nas costas). Resta saber se, depois de tanto tempo longe do jogo e submetido a tanta pressão, ele vai quebrar. Ou vai encarar o jogo de Hollywood com gosto de sangue.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.