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Mel Gibson deve experimentar a “fórmula Neeson” no thriller Blood Father

Roberto Sadovski

29/03/2014 02h05

Edge of Darkness

O último filme minimamente relevante protagonizado por Mel Gibson foi Sinais. Isso lá atrás, em 2002. Por anos, o astro nascido nos Estados Unidos e criado na Austrália foi sinônimo de sucesso e prestígio, carregando duas séries em seus ombros (Mad Max e, depois, Máquina Mortífera) e ganhando uma pá de Oscar com Coração Valente, em que assumiu também a função de produtor e diretor. Mas isso foi antes de Mel se tornar persona non grata com uma série de escândalos relacionados a homofobia, racismo e violência doméstica. A vida boa proporcionada pelos milhões que ele ganhou como "astro de Hollywood" (e, principalmente, como criador, em 2004, do polêmico A Paixão de Cristo, bancado do próprio bolso ao custo de 30 milhões de dólares, que faturou 612 nas bilheterias mundiais) não apaga o fato de que Gibson se tornou veneno nas bilheterias. A solução? Tomar o caminho de Liam Neeson e seu Busca Implacável.

O Deadline conta que Mel está em negociação para protagonizar o thriller Blood Father, em que ele faria um ex presidiário que tem de proteger a filha de 16 anos de terroristas que querem matá-la… É, eu sei, bem sono. Mas Gibson pode estar no caminho certo. Afinal, ninguém apostaria que seu chapa Liam Neeson, ator de prestígio que sempre emprestou sua voz de barítono e expressão grave a filmes classudos, pudesse se tornar herói de filmes de ação. E foi justamente o que aconteceu em 2008 quando, aos 56 anos, ele assumiu a ponta em Busca Implacável, thriller da linha de montagem europeia de Luc Besson, dirigido por Pierre Morel (que depois dirigiu John Travolta no mesmo esquema em… errr… Dupla Implacável), que o colocou como ex agente da CIA que tem de recuperar a filha sequestrada por escravistas modernos. O filme foi um sucesso acachapante, faturando 255 milhões de dólares com um orçamento de 25 milhões. Neeson gostou da brincadeira e repetiu a fórmula em Desconhecido (130 milhões com um budget de 30 milhões), A Perseguição (80 milhões de faturamento, 25 de investimento), Busca Implacável 2 (agora uma franquia, 380 milhões com um orçamento de 45) e o recente Sem Escalas (150 mi em caixa, 50 investidos).

Gibson, com cara de marinheiro Popeye, passeia pelo set de Os Mercenários 3

Gibson, com cara de marinheiro Popeye, passeia pelo set de Os Mercenários 3

Em Blood Father, que tem roteiro de Peter Craig (escriba de Atração Perigosa, de Ben Affleck), Gibson não quer dar mole ao azar, e deve trabalhar com o diretor francês Jean-François Richet, que fez os dois Inimigo Público Nº 1, com Vincent Cassel. A produção começa em maio no Novo México para um lançamento em 2015 – embora ainda não tenha distribuição fechada. O que pode ser um problema para o ator de 58 anos, que viu seu recente Plano de Fuga penar para conseguir espaço nos cinemas (nos Estados Unidos o filme passou batido). Dos que chegaram a ser exibidos pós-Sinais, O Fim da Escuridão empatou o orçamento de 80 milhões, e ninguém deu muita bola para Um Novo Despertar, filme estranho com Jennifer Lawrence e direção de Jodie Foster. A tentativa de morder um público "alternativo" fracassou quando Machete Mata, de Robert Rodriguez, morreu na praia. O próximo filme com Mel Gibson é a festa de ação geriátrica Os Mercenários 3, com Stallone, Schwarzenegger e cia. – o astro faz o vilão, Conrad Stonebanks, tomando a posição ocupada nos filmes anteriores por Eric Roberts (!) e Jean-Claude Van Damme (!!).

A verdade é que as atribulações pessoais colocaram Gibson de escanteio, e ele perdeu a grande virada do cinemão: astros ainda tem valor, mas perderam espaço para os grandes produtos. As bilheterias hoje são dominadas pelos super-heróis, por séries já estabelecidas e pelas ideias originais de cineastas ousados. Por isso que a "grande volta" de Arnold Schwarzenegger ao cinema, depois de alguns anos governando a Califórnia, não fez nenhum barulho. Mas Schwarza é esperto e está de volta como o T-800 em Terminator: Genesis, que sai em 2015. Stallone tratou de criar um produto atraente com Os Mercenários – já seu Alvo Duplo, de Walter Hill, foi visto por moscas no cinema. Kevin Costner entrou no bonde dos super-heróis em O Homem de Aço mas foi lá experimentar a "Fórmula Neeson" em 3 Dias Para Matar. O cinema é cheio de histórias de retornos triunfantes, e sua natureza cíclica torna possível que o público abrace, mais uma vez, Mel Gibson. Se Blood Father falhar, uma reunião de Máquina Mortífera estaria assim tão longe?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.