Homem-Aranha, uma vida que não está (só) no gibi, parte 3: ação nos games
O que seria melhor do que acompanhar as aventuras do Homem-Aranha? Ora, tornar-se o Homem-Aranha, claro! Quando o herói deixou as páginas dos quadrinhos para abraçar outras mídias, o caminho lógico era promover uma interação do leitor com o herói, fazendo com que ambos se tornassem um só. Quando os consoles de video game da geração jurássica se popularizaram nos anos 80, era questão de tempo até o Cabeça de Teia ganhar uma versão em pixels, que pudesse ser controlada do lado de cá. E foi o que aconteceu em 1982, quando a Parker Brothers lançou Spider-Man para o onipresente Atari 2600. A trama é simples: o Aranha tinha de subir a parede de um prédio, resgatar reféns e desativar uma bomba armada no topo pelo Duende Verde. Em teoria, um jogo bacana. Já na prática…
Vamos ser honestos aqui. Essa história de "os video games antigos eram mais divertidos" é papo furadíssimo. Jogar mais de 5 minutos de Enduro, River Raid, Pitfall ou Didi na Mina Encantada é para testar a paciência de qualquer um. Os jogos eram feios, confusos, entediantes… Claro que a tecnologia era aquilo mesmo, e os games antigos ajudaram a abrir espaço para as novas gerações, blablablá. Spider-Man em particular é insuportável. O único mérito foi seu pioneirismo – o que não adiantou muito pelo resto da década de 80, que viu a popularidade dos consoles domésticos despencar. Em 1989, Spider-Man and Captain America in Doctor Doom's Revenge surgiu para PC e similares, mas em pouco lembrava os grandes team ups de heróis nos gibis. The Amazing Spider-Man, lançado em 1990 para o Amiga, ao menos trazia um plot mais similar aos gibis (Mary Jane é raptada por Mysterio), mas a ação foi substituida por puzzles que representavam, em vários ambientes, a obsessão do vilão por cinema.
O avanço da tecnologia fez bem ao Aranha nos games, e quando as histórias em quadrinhos e a nova geração de consoles experimentaram um boom nos anos 90, novos jogos começaram a caprichar mais nas tramas e na jogabilidade. Primeiro foi o portátil Game Boy, da Nintendo, que colocou o herói numa aventura bacana em The Amazing Spider-Man (dá para ver que o pessoal não era muito criativo com os títulos…) em 1990. Duas continuacões, em 1992 e 1993, deram segmento ao Aranha no Game Boy. Mas a coisa começou a ficar séria quando a Sega lançou The Amazing Spider-Man Vs. The Kingpin para o Mega Drive em 1990. Foram infinitas as horas que eu passei tentando resgatar Mary Jane (de novo) das garras do Rei do Crime. E foi a primeira vez que um jogo não só tentou reproduzir as habilidades do herói, como também a atmosfera de sua vida em Nova York e seu trabalho como fotógrafo para o Clarim Diário – fluido de teia não sai de graça…
O contra-ataque da Nintendo foi buscar inspiração mais direta nos gibis, e em 1992 Spider-Man: Return of the Sinister Six colocou o herói em rota de colisão com seus vilões mais perigosos: Electro, o Homem de Areia, Mysterio, o Duende Macabro, o Abutre e o Dr. Octopus. No mesmo ano, as plataformas de 16 bits receberam Spider-Man/X-Men: Arcade's Revenge, que deu ao Cabeça de Teia a missão de resgatar Wolverine, Ciclope, Tempestade e Gambit das mãos do vilão do título – uma vez à salvo, cada um se juntava ao Aranha na trama. Os gibis passaram a influenciar ainda mais os jogos nos anos seguintes. Spider-Man and Venom: Maximum Carnage, de 1994, adaptou a maxissérie dos gibis em um jogo que até hoje é um dos mais bacanas com o Homem-Aranha. No ano seguinte, Venom/Spider-Man: Separation Anxiety e The Amazing Spider-Man: Lethal Foes (este lançado apenas no Japão), estreitaram ainda mais os laços games/HQs.
Com o título simples Spider-Man, o jogo de 1995 também para o Super NES e Mega Drive deixava os quadrinhos um pouco de lado para se concentrar no tremendamente bem sucedido desenho animado do herói, em exibição na TV americana de 1994 a 1998. Apesar dos belos gráficos e da nota máxima no quesito diversão, o formato side scrolling estilo Final Fight, basicamente o mesmo em todos os jogos até então, já havia se esgotado. A tecnologia dos games caminhava para a próxima geração, mas não havia mais sentido repetir o mesmo esquema com o Homem-Aranha. Por isso que Marvel Super Heroes, que chegou aos arcades com a assinatura da mesma Capcom de Street Fighter e X-Men: Children of the Atom, foi a surpresa que gamers e fãs de gibis esperavam. Neste já clássico jogo de luta, cada herói (Capitão América, Homem de Ferro) trazia movimentos especiais e habilidades específicas – o Homem-Aranha pela primeira vez parecia uma versão animada e controlável do herói aracnídeo dos gibis, numa série que deu origem a mais seis games, misturando heróis Marvel com personagens da Capcom, começando por Street Fighter até lutadores pincelados de Resident Evil, Mega Man, Darkstalkers e até Ghosts 'n Goblins. Uma mistureba de jogo de luta com side scrolling, seguindo uma trama, aconteceu em Marvel Super Heroes: War of the Gems, de 1996.
O novo século trouxe um salto significativo na tecnologia dos games, e em 2000 a Activision lançou Spider-Man, um jogo multiplataforma que mostrava o herói de maneira inédita nos jogos. Com o Aranha capaz de se balançar entre os prédios e escalar qualquer superfície, a aventura foi um salto evolutivo para os games do herói, ganhando uma continuação no ano seguinte, Spider-Man 2: Enter Electro. Desenvolvido pela Neversoft, usando a mesma tecnologia usada no sucesso Tony Hawk's Pro Skater 2, os jogos quebravam a monotonia do mundo em duas dimensões para criar aventuras com o herói movendo-se para qualquer direção… menos para o chão: cair entre os prédios significava a morte do Aranha. Quando Spider-Man: The Movie chegou em 2002, aproveitando o sucesso do filme de Sam Raimi, a produtora Treyarch aproveitou o estilo do game da Neversoft, ampliando as possibilidades de combate do herói. Spider-Man 2: The Game e Spider-Man 3: The Game, foram adaptações perfeitas dos outros filmes de Raimi, com o Aranha navegando com liberdade quase irrestrita por uma Nova York digital, seja entre os prédio, seja no chão, seja no topo dos mais altos arranha-céus.
A tecnologia de ponta limitou os novos jogos do Homem-Aranha apenas na imaginação dos roteiristas, que criaram tramas inéditas para jogos desenvolvidos principalmente para PS3 e X-Box 360. O sucesso dos games refletiu em seu orçamento, já que as tramas passaram a ser escritos por roteiristas dos quadrinhos e a voz do Aranha e de outros personagens passaram a ser providenciadas por atores de cinema e TV. Nessa leva, surgiram Friend or Foe (2007), Web of Shadows (2008), Shattered Dimensions (2010), que permitia jogar com outras versões do herói, como o Homem-Aranha 2099 ou o Homem-Aranha Noir, e Edge of Time (2011). Os novos filmes, protagonizados por Andrew Garfield, renderam o que talvez sejam os jogos visualmente mais perfeitos com o Homem-Aranha – eu joguei uma versão de teste para The Amazing Spider-Man 2 e é de encher os olhos, com a ação intercalada com missões paralelas e o uso de até quinze (!) diferentes versões do herói.
O meu game favorito com o Cabeça de Teia, porém, não foi feito para os super consoles mega modernos. É de 2005 e gastou minhas digitais no controle do PS2: Ultimate Spider-Man. Para o leitor de quadrinhos, não tem como não se envolver completamente em um jogo que, roteirizado por Brian Michael Bendis, complementa a trama de vários arcos do gibi Homem-Aranha Ultimate, preenchendo lacunas que a trama de papel havia deixado. Divertido, com animação lindíssima, comandos que deixam o controle do Aranha perfeito, convidados especiais e uma trama bacana, em que a ação é misturada com painéis desenhados pelo artista do título Mark Bagley, Ultimate Spider-Man ainda é o jogo do herói a ser batido. Mas ninguém vai reclamar se produtores de seus games, agora chegando na novíssima geração, continuarem tentando.
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