Topo

Veja a versão maldita que Tim Burton fez de João e Maria para a Disney!

Roberto Sadovski

18/06/2014 17h20

tumblr_mnr4b463Fq1rmw1kjo1_1280

O ano era 1983. Tim Burton tinha 24 anos e ainda trabalhava como animador para a Disney. Eu digo "ainda" porque, logo depois, sua visão sombria e perturbada para a arte conceitual de O Caldeirão Mágico, animação de 1985, deixou a gerência do estúdio do Mickey de cabelos em pé, e Burton levou um bilhete azul. Antes disso, porém, e com a moral de quem havia entrado pela porta da frente com o curta-metragem Vincent, o diretor ganhou carta branca para filmar sua visão do conto clássico João e Maria. O objetivo era exibir o filme na noite de Halloween de 1983 no Disney Channel. Mas o resultado que os produtores viram foi uma versão bizarra que, claro, só podia ter saído da cabeça de alguém brilhantemente fora do eixo como Tim Burton.

João e Maria, versão Burton, tem um elenco 100 por cento oriental (uma obsessão do diretor à época), com direito a uma homenagem à Godzilla e um clímax com os heróis mirins em um duelo de kung fu com a bruxa má. Pois é. Tudo em um ambiente minimalista, emoldurado por brinquedos e labirintos, mostrando para onde pendia a sensibilidade estética de Burton. A Disney, claro, não achou muita graça do filme, que entrava em rota de colisão com os bichinhos fofinhos e as princesas encantadas que povoam o universo do estúdio. João e Maria foi exibido uma única vez e arquivado, para nunca mais ser contemplado por olhos humanos. Como já dizia Galadriel em O Senhos dos Anéis, fato virou história, história virou lenda, e muitos acharam que o filme não existia.

Tim Burton versão moleque no set de seu João e Maria

Tim Burton versão moleque no set de seu João e Maria

Mas nunca duvide do poder dos fãs. João e Maria foi recuperado para a exposição em homenagem a Tim Burton que o MoMA armou em Nova York em 2009. Foi lá, por sinal, que eu assisti à semente das ideias de um de meus diretores favoritos pela primeira vez. Quando conversei com Burton durante o lançamento de Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, apontei a tendência dos mash ups de clássicos com terror, lembrei que João e Maria – Caçadores de Bruxas estava sendo produzido e ele, com um sorriso, disparou: "Esse eu já fiz". O Pajiba apontou o caminho de um internauta que carregou João e Maria no you tube, que você confere aí embaixo – acredite, você quer ver esse filme! Sete anos depois, que é nada em anos hollywoodianos, o mesmo sujeito que comandou crianças japonesas em sets baratíssimos (ao custo de 116 mil dólares) dirigia Batman, o filme mais caro de sua época. E Tim Burton voltou à Disney logo depois, criando o clássico em stop motion O Estranho Mundo de Jack e, usando a mesma técnica, Frankenweenie. Além de Alice no País das Maravilhas, que faturou mais de 1 bilhão de dólares. Fim da aula.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.