“É o mesmo filme, só que com mais grana”, dizem diretores de Anjos da Lei 2

"Alguns executivos olharam pra gente com sangue na boca!" A resposta de alguns chefões do estúdio à proposta dos diretores Phil Lord e Christopher Miller para a continuação de Anjos da Lei talvez não tenha sido a rota mais segura. O primeiro foi de azarão a prioridade quando faturou 200 milhões de dólares em 2012 – nada mal para a adaptação da série de TV que, entre outras coisas, revelou Johnny Depp ao mundo. Então não é de se espantar que algum engravatado não tenha achado graça quando ouviu uma proposta que, basicamente, avacalha com o próprio conceito de um produto corporativo desenhado para maximizar os lucros.

Anjos da Lei é, afinal, um filme incomum. Ao analizar o conceito da série – em que policiais se disfarçam de adolescentes em um colégio para prender traficantes –, Lord e Miller soltaram uma gargalhada. "Não dava para levar a coisa a sério", conta Lord, que dividiu a ligação com Miller em pleno trânsito de Los Angeles. "Então o que fizemos foi uma comédia assumida, tirando sarro dos filmes de duplas policiais." Funcionou. Não só por percorrer terreno familiar, mas por contar com a química insuspeita de Jonah Hill (o policial Schmidt, inteligente mas com físico de gelatina) e Channing Tatum (Jenko, o fortão que não concatena as ideias). O sucesso então "pediu" uma continuação, o que deixou os diretores em pânico.

Jonah Hill, Channing Tatum e armas…

"Eu sou o primeiro a admitir que não tínhamos uma idéia sequer", revela Miller em tom solene. "Sério, achei que a graça tinha esgotado nos créditos do primeiro filme." Ao segurar a batata quente com seu parceiro no crime, Miller levantou a possibilidade de levar a piada mais além, e a dupla não demorou muito a rascunhar idéias. "A maior crítica que todo mundo faz quando um filme assim ganha uma continuação é que basicamente os responsáveis repetem o mesmo roteiro com o benefício de um orçamento maior", explica Lord. E foi o que fizeram. Todo o mote em Anjos da Lei 2 não era apenastirar sarro do conceito das continuações sem ideias novas, como também esfregar isso na cara na platéia.

Sem nenhuma sutileza, claro. Afinal, quando o comandante Hardy (Nick Offerman) passa a nova missão a Schmidt e Jenko ele deixa tudo bem claro: o "departamento" (leia-se, o "estúdio") quer que tudo seja a mesma coisa. Tudo igual! Mesma missão (desbaratar uma quadrilha de traficantes), mesmo modus operandi (se disfarçarem de estudantes, só que dessa vez numa universidade), obedecendo ao mesmo superior, o capitão Dickson (Ice Cube) nas mesmas situações. A mesma empreitada com mais grana para torrar. "Foi uma reunião tensa, e eu achei que a gente ia ganhar um bilhete azul", entrega Lord. "Só que, no meio dos engravatados, a chefe do estúdio estava lendo o roteiro e rachando o bico. Foi quando eu percebi que a coisa ia rolar."

… e mais armas, e tiroteios, e armas…

Deu certo – mais uma vez. Lançado na pior temporada do verão americano desde 1997, Anjos da Lei 2 deixou muito peso-pesado para trás e saiu de cena com 314 milhões de dólares em caixa (e contando). É, de longe, a comédia mais engraçada a chegar no cinema em 2014 e a prova de que, nas mãos certas, nenhuma ideia é absurda demais. "A gente não viu o projeto como um filme de parceiros policiais", continua Miller. "Schmidt e Jenko são mais como um casal. Na primeira vez eles começam seu namoro a duras penas – o desafio aqui é não deixar que a rotina mate o romance." Para abraçar o conceito, os diretores contaram com os melhores parceiros na pele de Hill e Tatum. "Eles não se conheciam antes de rodar o primeiro filme, e a gente também não havia planejado colocar duas personalidades diferentes só para ver o que acontecia", explica Miller. "Mas já no primeiro teste juntos eles mostraram uma química absurda, sem falar que Jonah e Channing topam tudo que a gente coloca na mesa. Tudo!"

Phil Lord e Christopher Miller viram sua importância no xadrez da indústria de cinema aumentar desde que surgiram, em 2009, com animação Tá Chovendo Hamburguer – antes tinham criado a série Clone High e dado um tapa em How I Met Your Mother. Anjos da Lei foi um bom começo. Mas 2014 mostrou que a dupla tem mais de um cartucho na manga. A começar por Uma Aventura Lego, que eles lançaram no começo do ano para se tornar um sucesso de bilheteria – e uma nova franquia: foram 470 milhões em todo o mundo, mais que Noé, RoboCop e a continuação de 300. Uma Aventura Lego provou que é possível criar um filme baseado em um brinquedo infantil e lhe conferir humor, personalidade e emoção – lição que Battleship não aprendeu em 2012. A dupla, desde então, aparece ligada a uma infinidade de projetos, como o reboot de Os Caça-Fantasmas (que eles não vão fazer) a um filme da Marvel ("Lego e Anjos da Lei meio que são super-heróis, certo?", desconversa Lord)

… e mais armas, mais tiroteios, mais – ei, Ice Cube! – armas

A piada em Anjos da Lei 2 se estende aos créditos (não saia da sala até o final!), em que eles disparam uma dúzia de propostas para continuacões da franquia Jump Street e não deixam nenhuma possibilidade, por mais absurda, intocada (a minha favorita é Jump Street Legends, que resgata Booker, os fortes entenderão….). Quando eu sugiro que eles deviam colocar Samuel L. Jackson em algum lugar convidando Schmidt e Jenko para se unir aos Vingadores, a dupla dispara um "não é uma má ideia" que pareceu muito sério. Mas a piada corta dos dois lados, já que um terceiro Anjos da Lei é inevitável. Com toda e qualquer possibilidade esgotada ao final do segundo filme, qual a solução? Silêncio do outro lado da linha…. "Bom, acho que teremos de ser criativos de verdade", finaliza Lord.