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Os 14 melhores filmes de 2014

Roberto Sadovski

25/12/2014 20h15

2014 teve de tudo. Super-heróis, remakes, reboots, filmes originais, candidatos a blockbuster, pérolas independentes, filmes sofríveis e filmes espetaculares. No fim das contas, não foi fácil fechar a conta com os 14 melhores de 2014. Muita coisa bacana terminou fora da lista, mas, no fim, deu para traçar um bom panorama do que foi meu ano cinematográfico. Ah, vale entregar as regras: eu considero produções de 2014 que eu tenha assistido em 2014, mesmo que o filme ainda não tenha estreado por aqui – e mesmo que eu deixe algum filme deste ano de fora por não ter visto a tempo. A vida é dura… Mas, com os títulos que você lê a seguir, com certeza ela fica mais doce.

14- MESMO SE NADA DER CERTO
(Begin Again, John Carney)

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Keira Knightley canta, Mark Ruffalo produz, Adam Levine não faz feio. O filme de John Carney (Apenas Uma Vez) transforma Nova York em personagem de uma trama com amores perdidos, paixões reacesas e muita música celebrando a vontade de criar e a alegria de viver. Um filme fofo e romântico com uma trilha pop grudenta e irresistível. Só esse título nacional que foi de lascar o cano…

13- UMA AVENTURA LEGO
(The Lego Movie, Chris Miller e Phil Lord)

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Ou "como uma idea cretina se torna uma das experiências mais sensacionais do ano". Miller e Lord (que também acertaram este ano em Anjos da Lei 2) transformaram o brinquedo onipresente em uma aventura que usa com inteligência animação digital (que tem cara de stop motion), meta linguagem, uma das viradas mais inesperadas e sensacionais do cinema pop moderno e a melhor interpretação do Batman no cinema desde aquele filme com o Heath Ledger.

12- THE BABADOOK
(Jennifer Kent)

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Algumas vezes, dá para acreditar no hype. O filme de estreia de Jennifer Kent foi precedido de tanto oba oba que seria impossível atender às expectativas. Mas este Babadook vai além do que promete: é um terror sobrenatural e um drama psicológico com uma linha tão tênue separando os lados que fica difícil concluir o que acontece em cena. Essie Davis é Amelia, mãe destruída pela dor da perda do marido, que vê as paredes da sanidade aos poucos cederem, principalmente depois de ler um livro macabro com o filho (Noah Wiseman) e ter seu protagonista assombrando o que resta de sua vida. Pergunta: algumas dores realmente vão embora? Ou a gente as guarda no porão e as alimenta de vermes? Dook-dook-dook…

11- ERA UMA VEZ EM NOVA YORK
(The Immigrant, James Gray)

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James Gray é um pintor. E não é qualquer um capaz de transformar uma história tão pesada em um filme tão belo. Ewa (Marion Cotillard), imigrante russa, chega à Grande Maçã dos anos 20 e logo percebe que a segurança hipoteticamente oferecida por sua família de nada vale no novo mundo. Ela precisa se prostituir para garantir o dinheiro que vai tirar sua irmã da quarentena da Ilha Ellis (entrada dos estrangeiros no país) e logo divide a atenção de Bruno (Joaquin Phoenix), cafetão com pinta de produtor de teatro, e Emil (Jeremy Renner), mágico de araque. Um filme de perdedores em uma época que ninguém de fato conseguia vencer. Assim, construiu-se um país. E, meu caro, o que é aquela última tomada….

10- EXPRESSO DO AMANHÃ
(Snowpiercer, Joon-Ho Bong)

snowpiercer

De boas intenções etc etc etc… Foi uma tentativa de parar o aquecimento global que levou a humanidade a detonar uma "bomba fria" na atmosfera. Mas ninguém esperava uma nova era do gelo que mataria toda a vida no planeta – exceto os pobres coitados que habitam um trem gigantesco em rota eterna ao redor do globo. A elite, que pagou uma fortuna para estar no expresso há quase duas décadas, lota os vagões da frente. No fundo, a ralé que faz o trem continuar funcionando. A sátira social de Joon-ho Bong (O Hospedeiro, Mother), trabalhando em cima da graphic novel de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, não é sutil. Mas o mundo compacto que ele cria, auxiliado pelo elenco poderoso que traz Chris Evans, Tilda Swinton e John Hurt, nunca é menos que impressionante e surpreendente.

9- RELATOS SELVAGENS
(Relatos Salvajes, Damián Szifron)

relatos

Cinema los hermanos da melhor safra, que eu já comentei aqui.

8- O ABUTRE
(Nightcrawler, Dan Gilroy)

abutre

Entre o intrigante O Homem Duplicado e este O Abutre, em que eu mergulhei aqui, foi um ano jóia para Jake Gyllenhaal.

7- FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO
(Foxcatcher, Bennett Miller)

foxcatcher

Foxcatcher é cinema-incômodo. É um filme que alterna passividade e desconforto com momentos de pura fúria. É Steve Carrell como um bilionário que esconde um oceano de problemas (com sua mãe, com seu corpo, com sua sexualidade) atrás de uma tonelada de dinheiro. É Channing Tatum despindo-se do rótulo de astro para dar vida a uma pessoa perdida em sua pequenez, apesar de ser fisicamente um gigante. É Mark Ruffalo como o único sujeito normal da história – talvez por isso o único a pagar o preço supremo. Bennett Miller, de Capote e Moneyball, ainda não errou. Mas, desta vez, consegue incomodar. Por favor, não pare!

6- GAROTA EXEMPLAR
(Gone Girl, David Fincher)

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David Fincher emascula Ben Affleck, dá a Rosamund Pike um papel que separa as estrelinhas das supernovas e cria um estudo sobre casamento e o terror que ele traz disfarçado de thriller. Quer mais? Leia aqui!

5- GUARDIÕES DA GALÁXIA
(Guardians of the Galaxy, James Gunn)

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Muita gente está esperando a grande pisada na bola da Marvel. Apostaram que seria esta aventura espacial. Erraram feio

4- O GRANDE HOTEL BUDAPESTE
(The Grand Budapest Hotel, Wes Anderson)

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Assistir a um filme de Wes Anderson é uma experiência confortável, já que é possível adivinhar o que está por vir. Não necessariamente nessa ordem com o mesmo peso: gente em busca de seu lugar no mundo; direção de arte impecável; uma certa obsessão com simetria; montagem ágil e sem firulas; humor carregado de sarcasmo e/ou doçura; Bill Murray. O Grande Hotel Budapeste tem tudo isso, acrescido de notável melancolia e da prova que "cinema de autor" não significa hermetismo ou egolatria. No caso de Anderson (mais uma vez), o sinônimo é mesmo para bom cinema. Ah, eu falei sobre Budapeste e outros filmes deliciosamente hipster em Nerdovski.

3- WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO
(Whiplash, Damien Chazelle)

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Quase inacreditável constatar que o diretor de Whiplash é o mesmo sujeito que escreveu O Último Exocismo Parte 2. Ainda mais surpreendente é descobrir que tanto talento, tanto domínio de narrativa e tanta maturidade como cineasta vem de um jovem de 29 anos. Damien Chazelle é uma força da natureza tão poderosa quanto sua criação, Andrew (Miles Teller, sobrenatural), baterista de 19 anos que almeja ser o melhor. Para isso, ele não se importa em submeter-se aos caprichos de Fletcher (J.K. Simmons, a essa altura já reservando espaço para uma certa estatueta dourada em sua estante), seu mentor (e algoz) em uma das escolas de música mais tradicionais de Nova York. Chazelle rompe as barreiras da verossimelhança ao retratar obsessão e obstinação, uma mistura que agrega sangue, suor, talento, tensão e muita, mas muita boa música. Às vezes, é o que basta.

2- BOYHOOD – DA INFÂNCIA À JUVENTUDE
(Boyhood, Richard Linklater)

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Na real? É para isso que inventaram o cinema. Falei sobre Boyhood aqui. Se todo ano surgir um filme assim, a vida fica mais colorida.

1- BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
(Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Alejandro G. Iñárritu)

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Vamos lá: eu não sou fã do cinema de Iñárritu. Amores Brutos é incrível. 21 Gramas tem força, mas é um repeteco do que ele fez antes. Em algum lugar em meio à bagunça que é Babel, estou certo que existe um bom filme. Biutiful… bom, deixa quieto. Mas nada podia me preparar para Birdman. Neste conto de um homem em busca de descobrir quem ele é, o diretor mexicano consegue falar sobre vida e morte, realidade e fantasia, a linha tênue que separa o mundo diante de nossos olhos e aquele, escondido, à espreita, que só existe na mente de cada um. Michael Keaton é Riggan Thomson, astro de uma Hollywood cada vez mais dependente de produtos, um lugar que ele deixou para trás quando abandonou, duas décadas atrás, o super-herói Birdman, protagonista de uma trilogia que rendeu bilhões de dólares. O que fazer quando sua arte é empacotada em happy meals? Recuperar sua essência, diria Riggan, que se joga na tarefa de adaptar, dirigir e protagonizar, no palco da Broadway, um clássico de Raymond Carver. Recuperar sua alma, "vendida" a um sistema mais preocupado em ter do que em ser… Tudo isso feito com o próprio Birdman sussurrando em seu ouvido o quanto sua jornada é infrutífera. Iñárritu despe-se de seus tiques e cria uma experiência única e tecnicamente perfeita, concentrando a narrativa em seu protagonista em quase duas horas de um take ininterrupto, em que Riggan borra os limites entre realidade e ficção, ora mostrando-se demasiadamente humano, ora revelando habilidades que talvez não caibam no mundo real. Todo o elenco – brilhante, que inclui Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone e Andrea Riseborough – existe para dar suporte a Michael Keaton, o "ex-Batman" de Tim Burton que vai do desespero ao super poderoso, do patético ao triunfante, conduzindo com força inesperada o filme mais surpreendente, hipnotizante e espetacular do ano. Vinte e cinco anos atrás, quando saí de minha primeira maratona de quatro sessões seguidas de Batman, sabia ter visto, em Keaton, o artista completo; hoje, ao fim de Birdman, algo ecoa lá no cantinho da mente: "Eu já sabia".

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.