Topo

Diretor de Quarteto Fantástico enterrou sua carreira com... um tweet!

Roberto Sadovski

10/08/2015 19h15

joshtrank600

"Um ano atrás eu tinha uma versão fantástica disso. E teria recebido ótimas críticas. Vocês provavelmente nunca verão essa versão. É a realidade." O tweet, vindo da conta do diretor Josh Trank, foi postado no dia da estreia do filme e removido pouco depois, provavelmente depois do apelo de algum assessor desesperado (ou de sua própria consciência). Mas já era tarde. Quando os números surgiram na manhã da segunda-feira, Quarteto Fantástico, que tinha previsão de abrir com 45 milhões de dólares nos EUA, surgiu com pálidos 26 milhões, ficando em segundo lugar no fim de semana, incapaz de tirar a coroa de Missão Impossível: Nação Secreta. O filme tem ridículos 9% de aprovação no Rotten Tomatoes, site que aglomera as críticas que ele recebe – menos que Pixels, menos que o remake de Férias Frustradas, outros dois filmes igualmente malhados. A culpa, claro, recaiu sobre Trank e seus dedinhos equivocados.

A poeira vai demorar a assentar, mas uma coisa é certa: a carreira de Josh Trank foi para o buraco. Promissor com Poder Sem Limites, o diretor foi escalado para o reboot cinematográfico dos primeiros heróis da Marvel e meteu os pés pelas mãos. Claro que, em um filme deste tamanho, o diretor não é o único a ficar com o ônus de um fracasso. Mas detonar seu filme e jogar a culpa no estúdio no dia da estreia pegou muito, muito mal.

E não que o produto final seja um espanto. Quarteto Fantástico foi uma produção problemática. A Fox tinha de fazer o filme sob o risco de ver seus direitos reverterem para a Marvel, então a coisa foi toda decidida por comitê. Em nenhum momento os personagens e sua história foram levados em conta: a equação era fazer um produto jovem (o elenco descolado, oriundo quase todo do cinema indie ianque), ousado (ou seja, sombrio e "realista") e alinhado com o que, na mente dos executivos, o público estava a fim de ver. Aparentemente, não era isso.

josh-trank-tweet

Difícil mesmo imaginar qual seria o filme original de Trank, mas o produto em cartaz entrega sua natureza desconjuntada. Várias cenas em todos os trailers simplesmente não estão no corte final. O roteiro original, com três grandes cenas de ação com a equipe unida, foi retalhado e remontado, com o Quarteto surgindo unicamente no clímax da aventura. O elenco voltou para refazer diversas cenas – em uma sequência, por exemplo, Kate Mara ora surge com uma peruca, ora aparece com o próprio cabelo –, e o terceiro ato é uma bagunça que não parece fazer parte do mesmo filme. Ainda assim, Trank não pediu para ter seu nome removido do filme (ele podia ter feito isso), e abrir a boca contra seus financiadores no dia da estreia pode parecer uma atitude, no mínimo, covarde.

E tem consequências. Um amigo, que trabalhou em outras produções da Marvel dentro da Fox, contou-me domingo passado que o estúdio de fato não teve confiança no pulso de Trank, e seu comportamento errático no set foi o que bastou para que o produtor e roteirista Simon Kinberg tivesse de colocar as mãos no fime. "Naquela altura seria difícil salvar qualquer coisa", continuo meu amigo, um produtor que pediu para ficar no anonimato. "Eu não queria estar na pele de alguns executivos do estúdio agora, cabeças vão rolar." Josh Trank, segundo este mesmo produtor, terá de buscar refúgio no cinema independente: "Acho quase impossível ele trabalhar com um grande estúdio de novo, já que ele mostrou que não sabe trabalhar em equipe e verbalizou isso da pior maneira". Em um ponto, parece que analistas, executivos e produtores em Hollywood concordam: a Fox não tem mais como salvar Quarteto Fantástico, e a melhor solução seria devolver os direitos para a Marvel, embolsar alguma compensação e se afastar o máximo possível desse desastre.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.