Que Horas Ela Volta? é o 1º filme do Brasil em uma década que merece Oscar
Que Horas Ela Volta?, filme dirigido por Anna Muylaert, ganhou a indicação do Brasil para concorrer a uma vaga ao Oscar do ano que vem. Nada mais justo. É o primeiro filme desde Cidade de Deus que não só tem "cara de Brasil", como também traz méritos para levar a estatueta.
Ja não era sem tempo. Nos últimos anos, a comissão que escolhe o representante nacional na disputa pelo prêmio da Academia apontou filmes com zero fôlego para encarar a reta final entre os indicados, como o superestimado O Som ao Redor e o apenas bonitinho mas ordinário Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Agora o papo é diferente, e o motivo é extremamente simples: Anna tinha uma história de verdade para contar.
Regina Casé, que despe-se de sua persona televisiva populista e crível como uma nota de 3 reais, dá um verdadeiro baile no papel da Val, que deixou o Nordeste para ser empregada doméstica/babá/faz tudo de uma família de posse em São Paulo. Ela deixou para trás sua filha, Jessica. Mais de uma década depois, a agora adolescente segue o caminho da mãe na capital paulistana para prestar vestibular. Hospedada na casa da família para quem Val trabalha, Jessica demonstra zero traquejo ou paciência para encarar a relação patrão/empregado tão familiar para sua mãe. E o caldo entorna.
Em pouco menos de duas horas, Muylaert despe camada a camada da nossa herança colonial, do modo como as "pessoas de bem" encaram seus empregados e da relação servil e passiva de pessoas que, não raro, terminam criando filhos alheios e vivendo uma vida que não é sua. "Ela é quase da família", dizem muitos, antes de apontar os limites das dependências de empregada por casas em todo o Brasil.
Fora do Brasil, a narrativa enxuta e a mistura delicada de drama e comédia executada pela diretora já está fazendo ondas. Batizado The Second Mother no mercado internacional, Que Horas Ela Volta? já foi laureado em Sundance, está deixando a crítica de joelhos e aponta um caminho de sucesso pelo mundo. O motivo é mostrar um país de verdade, com pessoas de verdade, não caricaturas que decoram falas ou tratados sociológicos e ódio entre classes travestido de cinema. É de verdade, um dos melhores retratos do Brasil já registrados em celuloide. Ah, e é bancado em parte pela Globo Filmes. O que deixa uma turma que faz cinema "de qualidade" bem pianinho.
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