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Vin Diesel pensa que é astro, mas não passa de um artista de um truque só

Roberto Sadovski

31/10/2015 07h41

The-Last-Witch-Hunter-13O Último Caçador de Bruxas é um filme ruim. Perdão: é muito ruim. O cenário é pobre. Os efeitos digitais parecem saídos de algum PS3. Os diálogos são constrangedores, dirigidos de forma ginasial e amadora. O elenco é deliciosamente canastrão, mas não o bastante para que o público mergulhe com ele na piada. Michael Caine, em particular, transparece na cara dura que está ali para ganhar um cheque gordo. é o tipo de filme que um Casper Van Dien da vida protagoniza para alguma produtora de quinta. A estreia nos cinemas ianques foi vergonhosa, com pálidos 13 milhões de dólares em caixa, perdendo para Perdido em Marte (em suas quarta semana em cartaz), Goosebumps e Ponte dos Espiões (ambos em sua segunda semana). Depois de ajudar o sétimo exemplar da série Velozes & Furiosos ultrapassar 1 bilhão de dólares nas bilheterias, por que diabos Vin Diesel foi se envolver neste fiasco anunciado?

A resposta é simples: o ator tem a ilusão de que é um astro de cinema. Ou seja, que seu nome na marquise é o suficiente para atrair multidões – e dólares. Mas não é. Tirando Velozes & Furiosos, Vin não conseguiu iniciar nenhuma outra série de sucesso. Longe da pele do bandido bacana Dom Toretto, ele termina encabeçando alguma ficção científica B: a série Riddick é bacana, mas nunca conquistou o grande público; quanto menos falar de Missão Babilônia, melhor. Todo o resto de sua carreira está lá atrás, antes dos milhões amealhados atrás do volante. Operação Babá, uma comédia aos moldes Um Tira no Jardim de Infância (Schwarza, sempre uma inspiração), faturou bem, mas isso já foi há uma década. Triplo X, sua tentativa de lançar um novo herói, distanciando-se justamente do primeiro Velozes & Furiosos (inserir risada aqui), morreu na praia em 2002 – a continuação foi com Ice Cube… ICE CUBE! Os outros filmes simplesmente não registraram.

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Vin no sétimo Velozes: a única série em que ele gera receita

Desde 2009, portanto, sua profissão basicamente se resume a Velozes & Furiosos. Quando a série patinou no terceiro filme, o estúdio confiou em Vin para trazer o elenco original de volta no quarto capítulo, mudar sua orientação no quinto e partir para o abraço nos seguintes. Foi uma jogada de gênio, e com todo o papo de família, somado ao fascínio por carros velozes e cenas de ação vertiginosas dos amantes do cinema do gênero, ele acertou em cheio – e só aí. Os bilhões de Velozes são resultado de um esforço de equipe, um triunfo de marketing, a sorte de criar o filme certo na hora certa – e não de "Vin Diesel, astro de cinema". Ele se mostrou um produtor de visão, mas visão limitada. Afinal, Vin também assinou a produção de O Último Caçador de Bruxas, o que faz dele responsável por cada equívoco em cena. O ator chegou a alardear que uma continuação já estaria engatilhada mesmo antes do lançamento do primeiro filme, mas os números precisam de um milagre nas bilheterias internacionais para a sequência sair da gaveta. E o mundo não parece lá muito interessado na batalha do imortal Kaulder (seu personagem, anota aí) com a Rainha Bruxa.

Não que Vin Diesel esteja lá muito preocupado. Ele ainda é um sujeito carismático e inteligente – o curta que o colocou no mapa, Multi-Facial, também traz sua assinatura como roteirista e diretor, e é muito bacana. Extremamente bem relacionado. Que entende bem a mecânica financeira do cinemão hollywoodiano. E está há um bom tempo alimentando um namoro com a Marvel, a marca mais bem sucedida do cinema atual. Vin, afinal, foi a voz de Groot em Guardiões da Galáxia e continua sugerindo que pode fazer parte de outro projeto para o estúdio, talvez o fantasioso Inumanos. Para ser mais respeitado como ator, encontrou lugar no próximo filme de Ang Lee, o drama de guerra (ou pré-guerra, para ser mais exato…) Billy Lynn's Long Halftime Walk – eu vi uma prévia do filme em junho, e Lee promete inovar ao usar a tecnologia de imersão 3D em um drama intimista. Mais um Triplo X está a caminho, e Vin agora assina também como produtor, esperando usar um pouco de sua mágica de Velozes & Furiosos nele. E por falar em, Dom Toretto, o oitavo (!) filme terá Nova York como palco. Vai faturar uma fábula. Mas sem o nome de Vin Diesel adornando, sozinho, o poster.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.