O dia em que eu me tornei concorrente da revista Playboy...
Era uma manhã em 2006 quando meu telefone tocou na redação da SET. Era o chefe, pedindo uma palavrinha. Meia hora depois, eu passei de diretor de revista sobre cinema a concorrente da Playboy, já que estava assumindo também a redação da Sexy. Foi uma dança das cadeiras. Edson Aran, que trabalhava na Sexy, foi chamado para dar um tapa na concorrência, e lá fui eu equilibrar o trabalho em cinema com o desfile de mulheres em seu uniforme de nascimento. Por isso que a notícia de fechamento da edição brasileira da Playboy me causou uma certa melancolia. Mas também é a maior prova de que o mundo, definitivamente, é um animal complexo.
Quando assumi a Sexy, a "missão" era passar um verniz, mudar o visual e deixar o projeto editorial ainda mais moderno. Do outro lado do lago, o Aran comandava o que ele me definiu como "um boeing", já que a pressão com a Playboy era bem diferente da Sexy. Era uma concorrência entre amigos, já que sempre trocávamos ideias e sondávamos, de maneira malandra, de que forma uma revista bateria na outra. A Playboy, afinal, sempre teve artilharia mais pesada e conseguia atrair capas mais famosas. A Sexy, por outro lado, investia no humor: se a Playboy brindava suas contratadas com champanhe, a gente abria uma cerveja.
Um problema, porém, era comum: como manter relevância dos ensaios de nus com as fotos da modelo da capa vazando na internet às vezes dias antes de as revistas chegarem em bancas? Era o assunto de intermináveis papos com o Aran, e a conclusão que esse era o futuro que não fazia mais sentido combater. E o tempo mostrou-se ainda mais implacável. Para ver uma celebridade em pelo, hoje basta procurar na internet. A "função" de uma revista como a Playboy, que era mostrar mulheres famosas de forma reveladora, aos poucos perdeu o sentido. A direção da edição ianque da revista percebeu que seu "carro-chefe" não fazia mais sentido, e vai cortar os nus a partir de março. A edição brazuca fecha as portas em dezembro. O "boeing", ao contrário da Sexy, trazia um custo de manutenção altíssimo, que agora, anos depois, finalmente quebrou suas pernas.
Fico feliz, por outro lado, de ver que a Sexy agora terá um mercado inteiro para ela. Há alguns dias fui à festa de lançamento da revista e o clima era agridoce: a sombra do fechamento da Playboy já permeava as conversas, e era uma mistura de júbilo com pesar. Aqui vai um segredinho: nenhum jornalista gosta de ver uma revista fechar. Principalmente uma redação assim. Fazer uma revista masculina é sempre divertido. Equilibrar pautas que interessem ao homem (e não só a ele, outro sinal dos tempos) com um ensaio bacana de uma mulher bonita nua sempre é leve e divertido – é trabalho, mas eu honestamente consigo pensar em dúzias bem piores.
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