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No Coração do Mar leva seu elenco a extremos em uma luta contra a natureza

Roberto Sadovski

03/12/2015 12h37

É bom tirar logo o elefante da sala: No Coração do Mar não é Moby Dick. Ou seja, não é a batalha obsessiva do capitão de um navio contra uma baleia monstruosa. Ainda assim, a tragédia do baleeiro Essex, que em meados do século 19 foi atacado por uma cachalote e viu sua tripulação à deriva por meses, foi a inspiração do escritor Herman Melville para escrever sua obra prima, um dos maiores trabalhos de literatura da história – ele surge na pele de Ben Wishaw como uma moldura para o filme, uovindo o relato do último sobrevivente da tragédia, décadas depois, como fonte para seu livro. O filme de Ron Howard, entretanto, não mira tão alto, terminando como uma recriação linear e por vezes muito inspirada da última viagem do Essex. É um filme de Hollywood à moda antiga, de cenas grandiosas e ancorado por um astro.

O astro em questão é Chris Hemsworth, em sua segunda parceria com Howard depois do excelente drama de fórmula 1 Rush. Ele é Owen Chase, imediato do capitão George Pollard (Benjamin Walker), que de cara entra em conflito com seu imediato por acreditar merecer o comando do Essex por mérito, e não por berço como Pollard. Em busca de baleias para delas extrair óleo e alimentar a "indústria" (o filme não é nada sutil em mostrar empresários como criaturas vis que visam unicamente lucro), eles partem para águas distantes no Pacífico, até encontrar um cardume insuspeito. O que encontram também é uma enorme baleia branca, que ataca o Essex, deixando o navio em frangalhos e sua tripulação em meio ao oceano, remando sem rumo em três botes.

O drama de No Coração do Mar concentra-se menos nos homens e em seus conflitos, e mais nos enormes sacrifícios que eles tiveram de fazer para se manter vivos até um resgate cada vez mais improvável. Embora a campanha do filme mostre com generosidade o ataque da baleia ao navio, não é este o foco de Ron Howard, mais interessado em explorar os extremos que um homem pode trilhar para sobreviver. É um estudo dos cantos escuros da alma humana e das decisões horríveis tomadas para se manter vivo. Ainda assim, não estamos falando de um diretor acostumado a viajar à escuridão, e sim do responsável por Apollo 13 e Uma Mente Brilhante, que adocica histórias mais pesadas e embala tudo num pacote menos reflexivo, mais mirado no entretenimento. Não é um pecado, mas a história do Essex se beneficiaria de um tratamento mais denso.

Ainda assim, No Coração do Mar é um espetáculo que serve como evidência que Chris Hemsworth é, de fato, um astro de vida longa, material nem sempre em abundância no cinemão. Embora seu sotaque às vezes derrape, ele é a conexão da platéia com a história, e sua simpatia deixa mais fácil a conexão com a plateia, especialmente quando a tripulação do Essex é obrigada a atos trágicos. Hemsworth, por sinal, não fugiu do trabalho ao encarar uma dieta radical para surgir como alguém largado aos caprichos da natureza. Se não é uma transformação impressionante como a de Tom Hanks em Náufrago, ao menos mostra sua dedicação em conferir verossimelhança ao personagem. É em seus ombros, e no quanto acreditamos em sua jornada, que repousa o triunfo de No Coração do Mar.

Assista ao trailer do filme

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.

11 Comentários

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robsoncps

Eu sou suspeito para falar das produções norte americanas, pois eu simplesmente adoro o cinema dos maravilhosos EUA, suas produções, seu povo e tudo mais e embora o ator desse filmes seja australiano ele precisou dos EUA para ter reconhecimento. qualquer ator do mundo precisa de Hollywood, caso contrário será apenas mais um desconhecido, mas para isso precisa ter talento. Eu amo os EUA e o seu povo, para mim os melhores povos do mundo. Mesmo com essas tragédia que lá acontecem, a gente sabe que lá os culpados acabam punidos, diferente daqui. Eu acho engraçado que vários atores de outros países conseguem destaque nos EUA, o que não acontece com nenhum ator daqui. E pelo amor não me venha falar de Santoro porque ele não é ator para o padrão norte americano, não chega nem perto. Não tem para ninguém, qualquer ator do mundo precisa do EUA para ter destaque, caso contrário será apenas um ator insignificante.

Kaka Lopes

Ja li a obra esquita por Herman Melville (Moby Dick)... O livro em si é fascinante... O filme me parece bom.. Adoro filmes onde o personagens vão ao extremo em busca da sobrevivência :)