Topo

Deadpool fatura alto, mesmo proibido para menores; Wolverine é o próximo?

Roberto Sadovski

17/02/2016 09h38

2

O dinheiro não fala: grita! Deadpool chegou aos cinemas ianques (e em boa parte do resto do globo, Brasil incluso) há pouco menos de uma semana e já fez história. Foram 134 milhões de dólares nas bilheterias nativas, o que obliterou uma pá de recordes, entre eles um extremamente significativo: maior estreia de um filme R Rated – ou seja, proibido para menores, petizada com menos de 17 anos só entra em cinema gringo acompanhado de pais/responsáveis.

A medalha pertencia a Matrix Reloaded há mais de uma década (92 milhões de dólares) e ficou na poeira. Deadpool fez mais grana em sua estreia do que qualquer X-Men, mais que O Homem de Aço, é a quinta maior estreia com a marca Marvel (atrás de dois Vingadores e dos terceiros Homem de Ferro e Homem-Aranha). Tudo isso sem abrir espaço para o público mais jovem, fatia importante para os estúdios e que os faz exigir uma classificação mais branda, como a PG-13. O dinheiro grita: e agora, como segue o jogo?

A resposta serena seria "com muita calma". Mas executivos de estúdio, no geral, são criaturas ansiosas. A vontade de ouvir o tilintar das registradoras vai, de imediato, fazer com que vários projetos mais "intensos" com personagens de quadrinhos sejam revistos. A ignorância, no caso, é acreditar que a classificação (e não "censura") alta, causada pela altíssima octanagem de palavrões e violência em Deadpool, seja o motivo dos números altos. "O público está pronto para super-heróis fora do confinamento das fórmulas mais seguras", bradou um engravatado, mal alvorecendo a segunda-feira passada. Na-na-não: a grana pintou como um oceano graças a a) uma campanha de marketing que, arrisco, já é a melhor do ano, e b) o compromisso e o respeito completo dos realizadores com o material adaptado.

Watchmen_cast

Classificação R não impediu o fracasso de Watchmen nas bilheterias

Em outras palavras: Deadpool nos cinemas é exatamente o Deadpool que os fãs encontram nos quadrinhos, traduzido à perfeição, como eu já dei meus pitacos – ou, nas palavras de James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia, "o sucesso não é por ser um filme de super-heróis desbocado, mas por ser original, bom pra cacete, feito com amor e sem medo de correr riscos". Não significa, então, que todo longa com um sujeito de colante precise abraçar um público mais, digamos, maduro. Quando funciona, ganha o direito de escrever seu nome no panteão da cultura pop. Como RoboCop, que Paul Verhoeven dirigiu em 1987, ou Matrix, cria dos Wachowski em 1999… Ah, você quer super-heróis dos quadrinhos! Revirando o túnel do tempo, não é sequer a primeira vez que um filme com essa tag chega aos cinemas classificado como R.

Watchmen, que Zack Snyder fez em 2009, trazia violência e temas nada infantis – mas não fez, em sua carreira internacional inteira, os números que Deadpool conseguiu em seu fim de semana de estreia. Os três Blade, para voltar o jogo no campo da Marvel, também não acenderam fogos de artifício (mesmo que o primeiro seja o pioneiro dos filmes de super-heróis modernos). O Justiceiro, com dois filmes proibidor para menores, teve uma carreira tão pífia nos cinemas que o personagem deve finalmente ganhar uma versão live action que presta mês que vem, na segunda temporada de Demolidor no Netflix.

O que os números de Deadpool provam, isso sim, é que existe espaço para outros formatos dentro do gênero super-heróis – e que a tal "fadiga" que muito medalhão andou cantando a bola (Spielberg, estamos de olho!), ainda está longe de ser realidade. Na verdade, vamos logo tirar um paradigma do caminho (ui): "super-heróis" não é gênero, nunca foi. É um guarda-chuva que, só na Marvel, abraça uma tonelada de gêneros diferentes. Tem ficção científica (X-Men), fantasia épica (Thor), thriller político (Capitão América: O Soldado Invernal), heist movie (Homem-Formiga), novelão espacial (Guardiões da Galáxia), e por aí vai. Deadpool? Paródia, comédia de acão, zoeira que nunca termina. Funciona – pelo simples fato de o diretor Tim Miller, os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick e o astro Ryan Reynolds terem acertado o tom em cheio.

the-wolverine-image-5

Será que o próximo Wolverine também será desaconselhável para menores?

Claro que, à distância, é tudo blablablá. No quintal da Fox, que acertou em cheio ao deixar os realizadores de Deadpool livres para criar, o papo é que o terceiro Wolverine, despedida de Hugh Jackman do personagem, já agendada para março de 2017, pode ganhar uma classificação R – na Toy Fare, feira de brinquedos para o mercado americano, um panfleto com lançamentos da Fox (capturado pelo site Comic Book Movie) apontou o caminho. Na prática, seria licença para contar tramas mais visualmente e verbalmente intensas – como a do gibi "O Velho Logan", de Mark Millar e Steve McNivel, suposta base para o novo filme – e fazer a alegria de fãs que ainda salivam para ver um banho de sangue acompanhando o mutante canadense no cinema. Se existe um personagem que, seguindo a lógica, poderia vestir bem a camisa da classificação mais restritiva, este seria Wolverine.

A essa altura tudo continua no campo da especulação. O que pode ser esperado é uma saraivada de personagens de gibi ganhando uma chance antes impensada no cinema. Assim como Guardiões da Galáxia abriu espaço para cineastas brincarem de mix tape e rechearem seus filmes com clássicos do cancioneiro popular saxão (James Gunn acertou ao integrar a trilha sonora organicamente em sua narrativa), Deadpool pode puxar filmes em que um protagonista falastrão quebre a "quarta parede", converse com a plateia e mostre consciência de que faz parte de um filme – isso só para arranhar a superfície tacanha.

Mas é assim que o cinemão funciona, com um bom filme que faz sucesso puxando um cordão de imitadores que podem, ou não, acertar no alvo. Quem se lembra das aventuras que trouxeram roupas de couro e lutas bacanas no horizonte pós-Matrix (Equilibrium, Anjos da Noite)? Ou, por eu ser um velho, aventuras nostálgicas lançadas na cola de Caçadores da Arca Perdida (As Minas do Rei Salomão, Na Rota do Oriente)? E eu nem vou levantar os clones de Conan, O Bárbaro ou O Exterminador do Futuro… Agora é o jogo do espera, para ver em que direção o dinheiro vai gritar. Mas, olha só, depois de Lanterna Verde e R.I.P.D., não é que Ryan Reynolds conseguiu finalmente se firmar no primeiro time? Persistência dá nisso!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.