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"A sociedade só ouve quem está armado", diz ator de Jogo do Dinheiro

Roberto Sadovski

27/05/2016 17h06

 

jack o'connell

"Poderia ser um documentário sobre algo que não está longe de acontecer", dispara, de cara, o ator Jack O'Connell. "É um filme sobre coisas que vemos hoje, sobre o que está no noticiário todos os dias." O assunto é Jogo do Dinheiro, em que George Clooney e Julia Roberts dividem a cena com O'Connell, embora caiba a ele a posição inicial de "vilão" da história. Mas as aparências podem enganar.

Jogo do Dinheiro acompanha Lee Gates (Clooney), apresentador de um programa sobre economia e investimentos, que analisa bolsa de valores e o mercado monetário como um Silvio Santos do dinheiro. Nos bastidores, Patty Fenn (Roberts) é a diretora do show, meio de saco cheio daquele mundo e quase com um pé na porta. As coisas mudam quando Kyle Budwell (O'Connell) invade o cenário e, ao vivo e armado, ameaça explodir uma bomba. O motivo? Ele perdeu todas as economias ao seguir uma dica de investimento de Gates, e exige saber o que diabos deu errado.

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George Clooney com Jack O'Connell em Jogo do Dinheiro

"Muitos enxergam Kyle como o bandido da história", continua O'Connell, ao telefone direto de Londres. "Muita gente, inclusive políticos, preferem atirar primeiro e perguntar depois." O ator, que teve destaque em 2014 ao protagonizar Invencível para Angelina Jolie, acredita que, embora sejam extremas, as ações de seu personagem não são de todo erradas. "Sua luta é contra o 1 por cento, aqueles que detém todo o dinheiro e todo o poder", continua. "A sociedade precisa trabalhar em sua habilidade para se comunicar para que surjam menos Kyles. A verdade é que seu fracasso é o fracasso de todos nós."

Jogo do Dinheiro é o quarto filme que traz a mão de Jodie Foster na direção – e o primeiro em grande escala, com dezenas de figurantes e rodado em locação, em pleno distrito financeiro de Nova York. Sua trama espelha outros filmes que colocam o "homem comum" no centro do furacão, como O Quarto Poder, com John Travolta, e Um Ato de Coragem, com Denzel Washington: o sujeito que assume um rosto para os 99 por cento e faz sua voz ser ouvida, o que só acontece quando ele tem uma arma na mão.

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O'Connell em Invencível, de Angelina Jolie

"Eu vou mais além, cara", empolga-se. "Eu adoro a autenticidade que eles conseguiam no cinema dos anos 70, como Um Dia de Cão e Perdidos na Noite. Rede de Intrigas é um de meus filmes favoritos, eles não poupavam ninguém." Para O'Connell, o grande triunfo de Jodie Foster como diretora é trazer uma sensibilidade semelhante em um filme atual: "É bacana lembrar que Jodie esteve em Taxi Driver, fez parte do mesmo tipo de cinema que ela está fazendo agora. Ela não tem nenhuma amarra, é isso que me atrai".

Fazer a transição para o outro lado das câmeras também está nos planos de Jack O'Connell. "Aos poucos eu vou aprendendo como as engrenagens funcionam, mas nõ tenho pressa", explica. "Gosto de cinema, gosto do que vejo hoje em TV, dirigir com certeza é o próximo passo." O ator começou a trabalhar uma década atrás em séries na TV inglesa, ao mesmo tempo em que fez sua estreia no cinema em 2006 como um skinhead em This Is England. Foi em 2013 que O'Connell se fez notar – no cinema nos dramas Starred Up e 71: Esquecido em Belfast, e na TV na série Skins –, o que levou Angelina Jolie a colocá-lo como protagonista de Invencível.

Jack O'Connell and Director Jodie Foster on the set of TriStar Pictures' MONEY MONSTER.

Jodie Foster dirige o ator em Jogo do Dinheiro

Para Jogo do Dinheiro, O'Connell se despiu de seu sotaque britânico e adotou o estilo nova-iorquino. "Jodie queria o máximo de realismo, e meu trabalho é deixar minha diretora feliz", brinca. "O importante era acreditar em Kyle, acreditar em suas motivações." O ator enfatiza que ter George Clooney por perto ajudou a amenizar a tensão: "George me ajudou a entender a escala do filme, a importância do assunto. Mas também colocou humor na história, o que sempre é importante pra humanizar a situação".

Apesar do elenco sólido e do roteiro bem estruturado, a diretora Jodie Foster não vai muito além da carpintaria bem feita em Jogo do Dinheiro. Ainda assim, consegue cutucar a questão do acúmulo de capital, da irresponsabilidade da mídia que não vai além da superfície do que reporta e da imensa desigualdade quando o assunto é distribuição de renda. É um filme para adultos em meio a avalanche de produtos pop no cinema. "Não é nada mal assistir algo que nos faça questionar o mundo em que vivemos", conclui O'Connell. "É um assunto que geralmente seria filmado como documentário. Fazer uma ficção com essa abordagem é um triunfo."

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.