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Caótico, confuso e movido a carisma, Esquadrão Suicida ao menos é divertido

Roberto Sadovski

03/08/2016 04h59

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Esquadrão Suicida é um caos. Tem um plot que nunca funciona, recheado por personagens pelos quais não damos a mínima. Quer ver o Coringa? Ele não deve ter 10 minutos em cena. Cansado de ver um filme de ação com o clímax em torno de uma montanha de efeitos digitais? Sorry, mas o terceiro ato da aventura de David Ayer coloca o time contra um monstrão de CGI. Esperava que um filme com Will Smith no elenco não fosse centrado em… Will Smith? Bom, melhor sorte da próxima vez. Para quem esperava algo a) ousado, b) surpreendente ou c) inovador, Esquadrão Suicida é um filme de super-heróis quadradinho, linear e profundo como um pires.

Ainda assim, saí da sessão satisfeito, como quem vai em festa infantil e come bastante bolo: o prazer é ligeiro e logo foge da lembrança. A aventura dos anti-heróis pode não ser uma maravilha, mas com certeza é divertida, rápida e sem gordura. Sem falar que é infinitamente mais redonda que (e lá vamos nós de novo) Batman vs. Superman. O clima sóbrio e pomposo do filme de Zack Snyder, que parecia dar o tom da DC no cinema, foi arremessado pela janela. O que conta aqui é o fator diversão, é entregar uma aventura que, mesmo com conexões fortíssimas com o tal Universo Expandido DC (Batman e Flash dão as caras; a trama é consequência da morte do Homem de Aço no filme em que ele enfrenta o Cavaleiro das Trevas), sobrevive sozinha sem maiores problemas.

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Jared Leto capricha em seu Coringa, mas espere que ele apareça muito…

A estrada, no entanto, é árdua. Nós, o público, jamais saberemos ao certo o que foi adicionado quando Esquadrão Suicida voltou ao estaleiro depois das críticas pesadas em cima do clima sisudo de BvS. Mas o resultado está dolorosamente exposto. Com um punhado de flashbacks amontoado em outro punhado de apresentação de personagens (cada um com "tema" musical próprio), a aventura tropeça numa montagem que nunca dá sentido à trama, é didático no quesito exposição e apresenta seus personagens em velocidade supersônica, mesmo que o filme não saiba ao certo o que fazer com eles. Quando a casca grossa Amanda Waller (Viola Davis) finalmente coloca a equipe em pé, sob o olhar vigilante de Rick Flag (Joel Kinneman), é difícil esboçar algum interesse. Então… a mágica acontece, e ela repousa basicamente nos ombros de Will Smith, Margot Robbie e Jay Hernandez – este último, uma ótima surpresa!

Não é estranho que Esquadrão Suicida seja centrado no assassino profissional Pistoleiro, já que ele serve como âncora, o humano entre os meta-humanos. Capturado em Gotham City pelo Batman (Ben Affleck, vestindo a camisa), Floyd Lawton é guiado pelo amor por sua filha e a vontade que ela o veja como algo além de um matador sem alma. Colocar Will Smith no papel é inteligente por dar ao público um astro carismático com quem se identificar, ao mesmo tempo que define um protagonista, fugindo do problema que assola boa parte dos filmes com elenco gigante: a dispersão. Já Margot Robbie ficou com o filé. A Arlequina já era a "cara" do filme desde o primeiro teaser, mais de um ano atrás. A atriz entendeu o apelo da personagem e mergulhou fundo. Pena que este seja o filme errado para ela. Sua química com Jared Leto (que entrega aqui algo inédito, um Coringa apaixonado) é fulminante, e os dois mereciam mais espaço, mais desenvolvimento e uma trama menos fragmentada. Do jeito que está, a história dos psicopatas apaixonados parece um espinho incômodo no dedo da história principal; espero que Ben Affleck assuma o rojão e traga o casal para a próxima aventura-solo do Batman.

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Will Smith e Margot Robbie são os verdadeiros donos do show

Jay Hernandes, no papel do incendiário El Diablo, entrega a grande surpresa de Esquadrão Suicida, um personagem que traz um arco completo (de ódio, resignação, apatia e redenção) e realmente faz diferença na narrativa. Ele traz um elemento trágico que, embora seja conduzido pelo diretor como peso de uma bigorna, lhe confere alguma dimensão. Infelizmente, o resto da equipe está ali para fazer volume. Ora eles existem sem nenhuma função dramática (como o Crocodilo, uma maquiagem impressionante cobrindo o ator Adewale Akinnuoye-Agbaje); ora eles caem na trama literalmente do nada (Katana é a ninja que existe porque ninjas são cool); ora eles mal registram antes de desaparecer (desculpa, já esqueci o nome do personagem de Adam Beach). Jai Courtney finalmente encontra o que fazer com seu carisma grosseiro (fora do lugar no quinto Duro de Matar ou no último O Exterminador do Futuro), mas o roteiro também não encontra espaço para mais um protagonista. Seu Capitão Bumerangue termina como só mais uma engrenagem para cumprir a missão.

Ah, a missão. Em algum lugar nas gavetas de David Ayer deve repousar um roteiro menos truncado do que este que foi filmado. Esquadrão Suicida pode ser a aventura de vilões reunidos para fazer algo bom (tipo salvar o mundo), mas eles poderiam enfrentar uma ameaça menos enraizada no clichê "o mundo vai se curvar a meus pés". Mas é exatamente o que busca Magia, entidade demoníaca que toma o corpo da arqueóloga June Moon (Cara Delevinge, menos estátua que o habitual). Ela se livra do controle de Amanda Waller e toca o terror na fictícia Midway City. É uma pena que o potencial de Esquadrão Suicida explorar cantos ainda intocados neste subgênero que são os filmes baseados em super-heróis dos gibis (como Batman – O Cavaleiro das Trevas ou Deadpool o fizeram) seja desperdiçado em prol de uma trama absolutamente banal.

Viola Davis devia ser a chefe da DC pra NADA sair do lugar...

Viola Davis devia ser a chefe da DC pra NADA sair do lugar…

Por outro lado, "banal" talvez faça bem à DC neste momento. Depois da pretensão tola de Batman vs Superman, é um alívio ver um filme com o selo da editora preocupado apenas em divertir. É colorido, não tem pudor em assumir que é um gibizão em celulóide (digital, mas você entendeu) e, apesar da montagem tosca e do inimigo bobão, entrega o que promete quando chega ao clímax. De bônus, o universo expandido ganha um novo capítulo, novos personagens e mais peças no tabuleiro. Mas, sem querer ser chato…. precisava mesmo usar uma música de Guardiões da Galáxia na trilha?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.