Pouco original, Quando as Luzes se Apagam ao menos entrega bons sustos
Não existe uma ideia original sequer em Quando as Luzes se Apagam, terror produzido por James Wan (Invocação do Mal, Sobrenatural), que estica em um longa metragem o curta de David F. Sandberg. Bom, "longa" é um exagero. Em enxutíssimos 81 minutos, o diretor pega a premissa de seu próprio filme, que fez barulho pela internet em 2013, e constroi a seu redor um fiapo de história que basicamente recicla beats narrativos de todo filme de terror no catálogo. O resultado é um Frankenstein com pedaços de Freddy Krueger, fragmentos de O Chamado e um naco generoso de qualquer trama com casas mal assombradas. Não é inovador como Corrente do Mal. Não tem a atmosfera sufocante de A Bruxa. Mas é eficiente e assustador – e é isso que conta.
Lights Out, o curta, não trazia nenhuma história, e sim um bicho-papão, que surgia para uma mulher assustada (Lotta Losten, mulher e musa do diretor) sempre que ela apagava a luz. E só. Mas trazia atmosfera, ritmo e um talento para cutucar medos mais simples – como temer o escuro. Para transformar pouco menos de três minutos em quase uma hora e meia, Sandberg e o roteirista Eric Heisserer tiveram de bolar uma "mitologia" e bolar uma origem para seu "monstro", agora batizado Diana. Ela é o espírito da paciente de um sanatório que, ao morrer, atrela-se à outra interna, Sophie (interpretada, quando adulta, por Maria Bello). Como morreu de maneira bizarra após ser eletrocutada, Diana não consegue suportar luz, manifestando-se apenas (você já adivinhou) quando está tudo escuro.
A verdade é que Quando as Luzes se Apagam não está nem um pouco preocupado com a origem de Diana, o motivo de ela ter "voltado" (a explicação, em uma cena em que relatórios médicos são lidos, é que ela "entrava na mente das pessoas") ou qualquer fundação mais sólida para sua simbiose com Sophie. Sandberg tem mesmo sangue nos olhos para criar atmosfera e fazer com que cada canto escuro se torne um susto em potencial. A trama acompanha os filhos de Sophie: Rebecca (Teresa Palmer, que mais se aproxima de um protagonista) e Martin (Gabriel Bateman, seu irmão uma década mais novo) que, atacados por Diana, tentar salvar a mãe do parasita sobrenatural.
Claro que não há o menor espaço para sutileza. O plot até sugere uma relação entre a depressão e uma batalha com "demônios interiores", mas qualquer subtexto vai para o espaço quando, uma vez todos estão reunidos na casa de Sophie (o que inclui Alexander DiPersia, um Édgar Ramirez que coube no orçamento, como namorado de Palmer), o demônio parte para o ataque. David Sandberg é inventivo e faz limonada com os 5 milhões de dólares de orçamento. A ação se resume a duas locações (o apartamento de Rebecca e a casa de Sophie) e os efeitos digitais foram reduzidos ao mínimo, substituídos por trucagens no set, um bom jogo de câmera e luz e maquiagem cobrindo a atriz (e dublê) Alicia Vela-Bailey. Por sinal, parte do frio na espinha é justamente o trabalho corporal de Alice, que confere a Diana uma movimentação incômoda e inumana.
Quando as Luzes se Apagam é, por fim, mais um produto e menos o fruto de urgência criativa. James Wan tem bom faro para achar talento no gênero. Ele enxergou em Sandberg uma verdadeira fábrica de filmes baratos e potencialmente lucrativos – a bilheteria aqui já bateu nos 100 milhões de dólares. Depois de Lights Out, o diretor sueco criou mais seis curta-metragens de orçamento zero, todos com apenas sua mulher à frente das câmeras, e todos com fôlego para se tornar mais um longa. Não que ele pareça ter pressa. Sob as asas de Wan, Sandberg agora está dirigindo Annabelle 2 e parece contente em ser diretor de aluguel. Contanto que continue entregando sustos na medida certa, não é nenhum pecado.
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