Topo

Pouco original, Quando as Luzes se Apagam ao menos entrega bons sustos

Roberto Sadovski

21/08/2016 04h39

dianalights

Não existe uma ideia original sequer em Quando as Luzes se Apagam, terror produzido por James Wan (Invocação do Mal, Sobrenatural), que estica em um longa metragem o curta de David F. Sandberg. Bom, "longa" é um exagero. Em enxutíssimos 81 minutos, o diretor pega a premissa de seu próprio filme, que fez barulho pela internet em 2013, e constroi a seu redor um fiapo de história que basicamente recicla beats narrativos de todo filme de terror no catálogo. O resultado é um Frankenstein com pedaços de Freddy Krueger, fragmentos de O Chamado e um naco generoso de qualquer trama com casas mal assombradas. Não é inovador como Corrente do Mal. Não tem a atmosfera sufocante de A Bruxa. Mas é eficiente e assustador – e é isso que conta.

Lights Out, o curta, não trazia nenhuma história, e sim um bicho-papão, que surgia para uma mulher assustada (Lotta Losten, mulher e musa do diretor) sempre que ela apagava a luz. E só. Mas trazia atmosfera, ritmo e um talento para cutucar medos mais simples – como temer o escuro. Para transformar pouco menos de três minutos em quase uma hora e meia, Sandberg e o roteirista Eric Heisserer tiveram de bolar uma "mitologia" e bolar uma origem para seu "monstro", agora batizado Diana. Ela é o espírito da paciente de um sanatório que, ao morrer, atrela-se à outra interna, Sophie (interpretada, quando adulta, por Maria Bello). Como morreu de maneira bizarra após ser eletrocutada, Diana não consegue suportar luz, manifestando-se apenas (você já adivinhou) quando está tudo escuro.

29472

Teresa Palmer empunha um sabre de luz para proteger Gabriel Bateman

A verdade é que Quando as Luzes se Apagam não está nem um pouco preocupado com a origem de Diana, o motivo de ela ter "voltado" (a explicação, em uma cena em que relatórios médicos são lidos, é que ela "entrava na mente das pessoas") ou qualquer fundação mais sólida para sua simbiose com Sophie. Sandberg tem mesmo sangue nos olhos para criar atmosfera e fazer com que cada canto escuro se torne um susto em potencial. A trama acompanha os filhos de Sophie: Rebecca (Teresa Palmer, que mais se aproxima de um protagonista) e Martin (Gabriel Bateman, seu irmão uma década mais novo) que, atacados por Diana, tentar salvar a mãe do parasita sobrenatural.

Claro que não há o menor espaço para sutileza. O plot até sugere uma relação entre a depressão e uma batalha com "demônios interiores", mas qualquer subtexto vai para o espaço quando, uma vez todos estão reunidos na casa de Sophie (o que inclui Alexander DiPersia, um Édgar Ramirez que coube no orçamento, como namorado de Palmer), o demônio parte para o ataque. David Sandberg é inventivo e faz limonada com os 5 milhões de dólares de orçamento. A ação se resume a duas locações (o apartamento de Rebecca e a casa de Sophie) e os efeitos digitais foram reduzidos ao mínimo, substituídos por trucagens no set, um bom jogo de câmera e luz e maquiagem cobrindo a atriz (e dublê) Alicia Vela-Bailey. Por sinal, parte do frio na espinha é justamente o trabalho corporal de Alice, que confere a Diana uma movimentação incômoda e inumana.

LIGHTS OUT

Maria Bello, porque sim

Quando as Luzes se Apagam é, por fim, mais um produto e menos o fruto de urgência criativa. James Wan tem bom faro para achar talento no gênero. Ele enxergou em Sandberg uma verdadeira fábrica de filmes baratos e potencialmente lucrativos – a bilheteria aqui já bateu nos 100 milhões de dólares. Depois de Lights Out, o diretor sueco criou mais seis curta-metragens de orçamento zero, todos com apenas sua mulher à frente das câmeras, e todos com fôlego para se tornar mais um longa. Não que ele pareça ter pressa. Sob as asas de Wan, Sandberg agora está dirigindo Annabelle 2 e parece contente em ser diretor de aluguel. Contanto que continue entregando sustos na medida certa, não é nenhum pecado.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.