Maior estrela do nosso cinema, Ingrid Guimarães mostra que merece a coroa
Ingrid Guimarães é a maior estrela do cinema brasileiro. E não é só uma questão de números – mesmo que eles pesem bastante. Desde que foi protagonista de um longa pela primeira vez, em 2011, com De Pernas Pro Ar, seus filmes levaram mais de 12 milhões de pessoas aos cinemas. A única atriz a bater este número é Sonia Braga, que nos anos 70 arrastou um público de pouco mais de 17 milhões de pessoas para ver Dona Flor e Seus Dois Maridos e A Dama do Lotação. Mas isso foi século passado. Outros tempos. Com cinema sem competir com dúzias de outras mídias. O jogo agora é outro. Mesmo assim, e em apenas cinco anos, Ingrid reina absoluta nos cinemas.
Mas, repito, não são só os números. E nem também o acaso. A carreira da atriz goiana é uma combinação de tenacidade, imenso talento e um olhar atencioso sobre o que o brasileiro gosta de ver quando investe seus cascalhos para duas horinhas na sala escura. Até ela colocar seu nome no topo do cartaz em De Pernas pro Ar, Ingrid lapidou sua imagem no teatro e na TV. Foi nas novelas que o público conheceu a atriz de diálogos rápidos e timing para fazer rir. A precisão em descobrir risadas populares – mas não popularescas – veio nos palcos, em especial na comédia Cócegas, em que dividiu a cena com Heloísa Périssé e compos uma dezena de personagens distintos e com igual personalidade.
O cinema, porém, sempre empurrava a porta como paixão principal. Fez um papel pequeno em Alô?!, de Mara Mourão, em 1998. Repetiu a parceria com a diretora quatro anos depois e com mais destaque em Avassaladoras. O sucesso moderado caminhava junto ao novo fôlego do cinema brasileiro, mas a atriz entendia que, para conquistar a massa, era preciso abrir o leque. "Eu gosto de comédias populares, que falam a língua do público e combinam risadas com uma certa duçura", disse. "Como o cinema no Brasil sempre teve como base comédias assim, achei que era um caminho natural."
De Pernas pro Ar, lançado na virada de 2010 para 2011, provou ser o filme certo na hora certa. Combinando humor fácil com uma trama mais elaborada – o high concept, que não faria feio em nenhum filme do gênero importado –, a comédia sobre uma executiva falida que passa a trabalhar com um sex shop, caiu no gosto do povo, levando 3,5 milhões de pessoas aos cinemas. De repente, Ingrid deixava de ser a coadjuvante engraçada para provar que conseguia, com leveza, transformar um filme em um autêntico blockbuster. Não foi ao acaso. Foi um plano bem sucedido.
Sua carreira, já consagrada na TV, ganhou fôlego renovado no cinema. Apostar na comédia popular poderia garantir a ela um nicho de sucessos fáceis: bastava repetir a fórmula. Mas "fácil" não combina com Ingrid. Ela aumentou seu cachê com duas comédias que se tornaram mais um par de blockbusters (De Pernas pro Ar 2, que em 2012 levou quase 5 milhões de pessoas aos cinemas; Loucas Para Casar, de 2015, com público de 3,8 milhões) para chegar ao ponto de escolher – e viabilizar – outros projetos.
Um deles foi o road movie Entre Idas e Vindas, um drama simpático, com tintas cômicas, dirigido por José Eduardo Belmonte. "Não é um filme desenhado para atrair milhões", disse Ingrid, com franqueza, pouco antes da estreia. "Mas se eu puder ajudar a trazer parte do meu público, já é uma vitória." Lançado entre o estouro de Procurando Dory e a antecipação de Esquadrão Suicida, Entre Idas e Vindas batalhou para encontrar seu público e saiu de cartaz com pouco mais de 100 mil ingressos vendidos. Nem de longe uma derrota, mas um atestado que a atriz entende o chão que pisa e os passos que dá.
O novo Um Namorado Para Minha Mulher é mais um passo, a adaptação brasileira de um sucesso do cinema argentino que, embora não tenha a atmosfera de guerrilha do filme de Belmonte, também, não é uma comédia rasgada como De Pernas Pro Ar. É um filme divertido, que coloca os geralmente sisudos Caco Ciocler e Domingos Montagner em papéis mais leves, porque Ingrid queria atores que o público não soubesse o que esperar em uma comédia. "O filme original é lindíssimo, só que muito mais melancólico", explica a atriz. "O que eu gosto no texto é que dá pra seguir várias direções, da comédia mais leve ao drama mais pesado."
Ela interpreta Nena que, casada com o dono de um antiquário (Ciocler), tornou-se uma mulher presa a uma rotina. Com a paixão arrefecida, e sem coragem de pedir o divórcio, ele contrata um galanteador profissional (Montagner) para seduzir a mulher e forçar uma separação. No processo, porém, Nena reencontra sua leveza e sua paixão, deixando o marido e o sedutor sem saber como agir. Os momentos mais engraçados, por sinal, são quando o filme foge do fio condutor que permeia o original e rende-se à Ingrid malaca e divertida, a metralhadora verbal inteligente e esperta. Era um elemento ausente de Entre Idas e Vindas, e pode ser o gatilho para trazer a fatia do público que a colocou no topo do pódio.
Experimentar é um caminho que Ingrid Guimarães trilha sem pudor. Seu próximo filme, Um Homem Só, sobre um sujeito que clona a si mesmo para resolver seus problemas, é uma nova guinada em direção a um material diferente do que o cinemão está acostumado a entregar e, ao mesmo tempo, fácil de ser abraçado pelo público. "Nem todo filme pode ser um blockbuster", continua. "Encontrar esse filme médio, que tem uma carreira bacana e faz a indústria andar, é igualmente importante." Não são, portanto, os números. É a vontade de ver o cinema crescer – e crescer ao lado dele – que a deixa tão à vontade com a coroa.
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