Menos sexo e mais mistério marcam o trailer do novo 50 Tons Mais Escuros
50 Tons de Cinza é um troço estranho. O livro nasceu como fan fiction de Crepúsculo, com o sobrenatural teen trocado por pornô soft. Ou quase. Em três volumes, a escritora E.L. James discorreu sobre fantasias e fetiches imaginados por alguém que claramente nunca saiu da teoria. "Sexo para quem não faz sexo" foi a melhor definição. Mas foi um fenômeno inegável, um conto de fadas com pitadas de sadomasoquismo. E um fenômeno estranho, já que as aventuras sexuais de Christian Grey e Anastasia Steele em nada diferem de décadas e décadas de literatura trash ao estilo Barbara Cartland, a autora inglesa que invariavelmente colocava mocinhas virgens envolvidas com ricaços da alta sociedade em seus romances. No Brasil, não tem nada que a literatura popularesca de séries como Sabrina, Bianca ou Julia não colocassem nas bancas de jornal.
O filme veio na esteira do fenômeno e fez barulho quando chegou aos cinemas em fevereiro de 2015. No mundo todo, 50 Tons faturou 570 milhões de dólares, com Dakota Johnson fazendo o possível para se tornar uma estrela (não conseguiu) e Jamie Dornan tentando esconder o constrangimento por dar vida a um personagem tão opaco (não conseguiu). O sucesso foi alimentado pela curiosidade e por uma regra básica: sexo vende. Sexo com ousadia de supermercado, adequado para o consumo da massa, sem vocação para chocar, vende mais ainda. A diretora Sam Taylor-Johnson penou para transformar a trama, cafona e previsível, em um filme coerente e envolvente. A interferência constante de E.L. James tornou a tarefa frustrante, e o filme não vai além do drama sexual morno, mas espetacularmente bem produzido. Zalman King, com seu Orquídea Selvagem e a série Red Shoe Diaries, lá atrás nos anos 80/meados dos 90, ficaria orgulhoso.
Eis que chega o trailer de 50 Tons Mais Escuros, a prova que em time campeão não se mexe. A estética cafona é a mesma, o clima de conto de fadas ligeiramente safado, idem. Pouco é revelado da trama, a não ser que Anastasia (Dakota Johnson, ainda alternando duas únicas expressões) volta ao mundo milionário de Grey (Jamie Dornan parece mais à vontade) e descobre que ela não é a primeira mulher a ter tamanho envolvimento em sua vida. O aspecto sadomasoquista parece reduzido, substituido por mais locações nababescas e por uma trama de mistério que ao menos pode injetar um pouco de vigor na série. Pode ser consequência do novo diretor, James Foley, responsável pelo genial O Sucesso a Qualquer Preço, de 1992, e por vários episódios da série House of Cards. O sexo? Continua lá. Mais discreto. Em segundo plano. O fenômeno, afinal, esfriou. Agora, 50 Tons Mais Escuros tem de ser um filme de verdade para garantir seu espaço.
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