Os 10 melhores filmes de 2016
2016 foi um ano de boas surpresas e grandes decepções. Foi o ano em que o público deu de ombros para a maioria das continuações que tentaram reviver séries já necrosadas, ao mesmo tempo que solidificou tendências que a cada ano mostram mais fôlego. Autores voltaram, outros tiraram férias. E muitos, mas muitos filmes me acompanharam na sala escura. Foi difícil fechar meus dez favoritos. Alguns filmes de 2016 eu não consegui assistir e poderiam integrar a lista final, como Moonlight, Silence e Toni Erdmann. Outros me proporcionaram momentos fantásticos, mas não chegaram no Top 10: o coreano Invasão Zumbi; a Marvel mostrando como se faz em Capitão América: Guerra Civil e Doutor Estranho; Capitão Fantástico; The Lobster; Jovens, Loucos e Mais Rebeldes… Rogue One: Uma História Star Wars. Todos excepcionais! São estes, portanto, os melhores filmes de 2016.
10. DEADPOOL
(Tim Miller)
Uma coisa que incomoda no cinemão é a falta de risco. Não que um filme "seguro" seja ruim, mas quebrar as regras deixa a experiência cinematográfica mais interessante. Deadpool não quebra as regras: ele as destroi, corta em pedacinhos e joga aos cães. O filme de Tim Miller é uma zoeira de moleque que custou 58 milhões de dólares, um filme de super-heróis que tem consciência de ser um filme de super-heróis e não alivia para nenhum lado, principalmente para ele mesmo. O moleque tem nome: Ryan Reynolds, que suou para tirar o filme da gaveta, conserta o desastre chamado X-Men Origens: Wolverine (tecnicamente sua primeira tentativa com o personagem no cinema) e redime um herói de quinta elevado ao primeiro time. Eu falei sobre Deadpool aqui.
9. ATÉ O ÚLTIMO HOMEM
(Hacksaw Ridge, Mel Gibson)
Existe uma certa boa vontade em Hollywood para acolher Mel Gibson de volta às suas fileiras. Antes um dos maiores astros de cinema do mundo, o ator e diretor deixou os problemas de sua vida pessoal atropelarem sua carreira e ele se tornou tóxico para o cinemão. Sinais (2002) foi seu último filme para um grande estúdio, e ele não dirigia desde Apocalypto, lançado há uma década. A ótima recepção a Até o Último Homem parece mudar essa disposição. Com louvor. A biografia de Desmond Doss (defendido com fibra por Andrew Garfield), soldado que, durante a Segunda Guerra Mundial, recusou-se a pegar numa arma, é Gibson em sua essência. Tem um teor religioso forte, acompanhado de uma jornada humana sem igual – tudo emoldurado por um filme de guerra intenso, o mais impactante desde O Resgate do Soldado Ryan. Um filme sobre o poder da fé, que restaura a nossa no talento de Mel Gibson.
Estreia 26 de janeiro
8. ZOOTOPIA
(Byron Howard e Rich Moore)
Confesso que animações fofinhas com animais antropomorfizados já encheram a lata há tempos. Mas Zootopia foi uma surpresa de ponta a ponta. Sim, tem bichinhos fofinhos. A diferença é que eles foram inseridos numa trama absurdamente sóbria com vários paralelos com o mundo real – política, representatividade, racismo e preconceito, tudo embalado num pacote do papai Walt Disney. A protagonista (sim, A protagonista) é uma policial que encontra zombaria por seus colegas até se envolver num caso misterioso: animais considerados violentos de repente passaram a ceder a seus instintos, criando uma cisão na sociedade. Temas complexos em um filme com Shakira no papel de uma cantora pop, a Gazela… Ah, e ainda traz a cena mais engraçada do ano, que envolve funcionários públicos – todos bichos-preguiça…
7. A QUALQUER CUSTO
(Hell or High Water, David MacKenzie)
Dois irmãos dão início a uma onda de roubos em cidadezinhas no norte do Texas. Dois agentes federais iniciam a investigação e partem atrás da dupla. O que parece um western moderno mergulhado em clichês logo se revela um filme poderoso sobre lei e justiça, sobre fazer o que é certo ou ser amarrado por freios morais. Sobre vida e morte. O diretor David MacKenzie tece com cuidado um roteiro em que nada é o que parece ser e extrai interpretações poderosas de seu elenco: se Ben Foster e Chris Pine trazem uma dinâmica natural e melancólica como os irmãos Toby e Tanner Howard, é Jeff Bridges quem carrega o centro emocional do filme. Como o federal Marcus Hamilton, ele foge do estereótipo do macho alfa durão, segura as pontas ao mostrar que boa parte do trabalho policial é observar, deduzir e esperar, e se torna um farrapo na virada inesperada no terceiro ato. A Qualquer Custo é uma pérola, um filme que pega a plateia desavisada, arrebata-lhe a alma e entrega um mundo sem mocinhos ou bandidos.
Estreia 2 de fevereiro
6. A INCRÍVEL AVENTURA DE RICK BAKER
(Hunt for the Wilderpeople, Taika Waititi)
O neo-zelandês Taika Waititi pode se preparar para um grande ano! Em novembro ele estreia Thor: Ragnarok, o filme do Universo Cinematográfico Marvel que me deixa mais curioso. O motivo é o seu currículo, que passa por séries de TV geniais (Flight of the Conchords, The Inbetweeners) e longas transbordando humor e originalidade (Loucos por Nada, o excepcional O Que Fazemos Nas Sombras). E este Rick Baker, seu filme (até então) mais ambicioso e emocional. O personagem-título é um garoto rebelde (longe do clichê, acredite) que, após a morte de sua mãe adotiva, foge para a mata, sendo seguido por seu "tio", Hec. Os dois criam um laço e decidem não voltar para a sociedade, começando uma caçada em todo o país. Waititi dirige como um jovem Peter Jackson, encontrando humor no absurdo e humanidade onde menos se espera. E esse sujeito vai dirigir Thor? Tô dentro!
Ainda sem data no Brasil
5. MANCHESTER À BEIRA MAR
(Manchester by the Sea, Kenneth Lonergan)
Em seu terceiro longa (o primeiro, Conte Comigo, revelou Mark Ruffalo), o dramaturgo, roteirista e diretor criou um filme sobre a dor da morte e como lidar com ela. No caso, como não lidar, e sim como enterrá-la nos cantos mais remotos da alma e viver como uma casca animada que se move por pura inércia. É assim que encontramos Lee (Casey Affleck, um monstro!), zelador de um par de prédios em Boston, obrigado a voltar para sua cidade no litoral da Nova Escócia quando recebe a notícia da morte do irmão. Em uma narrativa entrecortada por flashbacks, aos poucos descobrimos o que o levou a partir em primeiro lugar, e o impacto emocional reverbera em cada locação, cada tomada, cada pedaço de diálogo: não existe uma vírgula sem função dramática. Lee precisa se reconectar com o sobrinho (Lucas Hedges, uma revelação), esbarra em sua ex-mulher (Michelle Williams, brilhante) e a todo tempo parece gritar "eu não quero estar aqui!". Quando as luzes se acendem, estamos exaustos. E felizes, acredite, por estarmos vivos.
Estreia 19 de janeiro
4. A CRIADA
(The Handmaiden, Park Chan-Wook)
Assistir a este A Criada é como acompanhar um bom espetáculo de mágica: é fascinante, bem encenado e nunca deixa de surpreender. No palco certamente estaria o diretor Park Chan-Woo (Oldboy), movendo as mãos com delicadeza e criando um momento sublime – que é uma palavra adequada para este filme sobre ambição, traição, intriga, paixão e sexo. Paixão por dinheiro, paixão por controle, paixão por fetiches…. paixão entre mulheres. No caso, a milionária herdeira japonesa e sua criada, ligadas em uma trama de cobiça que, narrada sobre diferentes pontos de vista, revela-se como uma poderosa história de amor. Sem falar que tudo – o elenco, a fotografia, as locações, o figurino – é de uma beleza ímpar. Aplausos para Chan-Wook: não é qualquer um que coloca as mãos em uma história sufocante, até perversa, e cria uma obra de arte.
Estreia 12 de janeiro
3. ELLE
(Paul Verhoeven)
Eis que, aos 78 anos, Paul Verhoeven chuta a porta e mostra fôlego insuspeito e ainda mais vontade de mergulhar no lado sombrio da mente humana. Elle é excepcional por todos os lados: do elenco à execução, do roteiro aos temas que aborda sem hesitar. É sobre uma mulher com total controle de sua vida, que não se deixa abalar nem quando é violentada em sua própria casa. A partir daí a trama desdobra-se como um furacão, que poderia muito bem ser batizado Isabelle Hupert. Vi duas vezes, quero ver de novo! Falei sobre Elle aqui.
2. A CHEGADA
(Arrival, Denis Villeneuve)
Nessa imensa Babel que chamamos de Terra, o diretor Denis Villeneuve (vai ficar chato, mas ainda vou falar muito mais sobre ele!) criou uma ficção científica sobre nossa incapacidade de nos comunicar – e como isso eventualmente pode nos levar à ruína, a jogar fora nosso bem mais precioso. A Chegada é uma alegoria para o espírito de nosso tempo, mas está longe de ser um libelo verborrágico: quando alienígenas pousam entre nós, cabe a Amy Adams decifrar o que eles querem e o que eles oferecem. Um filmaço que nos faz questionar o quanto ruído barra nossa evolução – o que não é pouco. Falei mais sobre A Chegada aqui.
1. LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES
(La La Land, Damien Chazelle)
2016 foi percebido como um ano atípico. Até pelo efeito da roda do tempo, muitos ídolos que formaram toda uma geração pop se foram. Politicamente o planeta se tornou um lugar estranho e volátil. Mesmo espetáculos de puro entretenimento, como Rogue One: Uma História Star Wars, seguiram um caminho de esperança forjada na perda. Não que Damien Chazelle (Whiplash) mirasse num espelho quando concebeu seu musical numa Los Angeles banhada pelo entardecer, emoldurando o encontro fortuito de um pianista amargo pela realidade da vida e uma aspirante a atriz transpirando otimismo. Mas ele conseguiu um alento em forma de filme, uma história melancólica sem perder a luz. Uma ambiguidade encapsulada no filme que, talvez, seja exatamente o que precisamos neste momento. Um filme sobre seguir seus sonhos, sobre encontrar o amor de sua vida, sobre como coisas que se completam podem ser antagônicas. Sobre encontrar a felicidade, mesmo que para isso causemos uma ferida na alma. Tudo embalado por música, por cores, por dança, por magia… Não existe, hoje, experiência cinematográfica mais agridoce do que La La Land. Para assistir e carregar consigo pelo ano que começa. Nunca é fácil. Mas sempre vale a pena.
Estreia 19 de janeiro
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