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Por que La La Land é o melhor filme para você assistir no cinema neste começo de ano

Roberto Sadovski

12/01/2017 04h31

Sebastian (Ryan Gosling) und Mia (Emma Stone)

La La Land – Cantando Estações não é só a melhor experiência que tive no cinema em muito tempo: é também o filme perfeito para começar o novo ano. Cantei a bola quando escolhi o musical de Damien Chazelle como melhor filme de 2016. O Globo de Ouro acabou de lhe conferir sete estatuetas na premiação, inclusive melhor filme, direção, roteiro, protagonistas… E não será nenhuma surpresa quando ele repetir a performance da próxima cerimônia do Oscar. La La Land merece cada predicado, cada louro, cada aplauso. E nem é difícil entender o motivo: em uma época dominada pelo cinismo, pela brutalidade e por um mundo real de futuro indefinido, é uma história com zero espaço para cinismo, agridoce e otimista, que tem a paixão como combustível.

É bom deixar algo claro desde já. Eu não gosto do musical da Hollywood contemporânea. Aberrações como Chicago ou Os Miseráveis não usam a música como ferramenta narrativa: ela surge como uma obrigação, que em nada eleva o material. O que é um pecado, já que o gênero é uma das fundações do entretenimento moderno, um estilo que, apesar de extremamente popular no teatro, ganha proporções lúdicas quando usado com paixão em filme. Damien Chazelle é claramente um apaixonado por cinema. Apaixonado por sua magia e sua capacidade de dar um salto fora da realidade para contar uma história. É apaixonado por personagens. E, em La La Land, seu caso de amor mais explícito é com Los Angeles.

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Ryan Gosling canta por Los Angeles

Seria impossível a trama de La La Land se desenrolar em outra cidade: nenhum lugar do mundo respira cinema como Los Angeles, nenhum outro lugar atrai sonhadores como Los Angeles. A trama do filme, também de autoria de Chazelle, gira em torno de sonhos. Mia (Emma Stone) chegou na cidade com aspirações de se tornar uma atriz, equilibrando uma rotina interminável de testes (e negativas) com o trabalho mundano em um café dentro de um estúdio: ela vive dentro do mundo do cinema, mesmo que permaneça sempre à sua margem. Já Sebastian (Ryan Gosling) é outro tipo de sonhador, um pianista obrigado a tocar num restaurante para pagar as contas, mas que imagina ser a pessoa capaz de devolver a "alma" do jazz a uma cidade constantemente envolta em talentos de plástico. Já em sua primeira troca de olhares, fica claro que o destino de um repousa nos ombros do outro.

Seria muito fácil para Chazelle construir uma história de amor tradicional com a "fábrica de sonhos" hollywoodiana como pano de fundo – um caminho traçado com sucesso por literalmente centenas de filmes. Mas para o artista, o interesse jaz nas ligações tão efêmeras tecidas por estes mesmos sonhos, e como a realidade teima em atropelar com fúria os sonhadores. Redefinir o musical no século 21 significa aprender suas regras e, sutilmente, pervertê-las. Em sua construção narrativa, a música nunca surge em La La Land como um apêndice, mas como elemento crucial para causar um estado emocional específico em seus protagonistas, sentimento que a plateia assimila sem ao menos perceber. É aí onde se encontra a genialidade do diretor, em encontrar os momentos em que a fantasia anaboliza a história, em que a música rompe a barreira da realidade e eleva a experiência.

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Damien Chazelle mostra serviço e dirige Emma Stone

A tarefa de Chazelle fica mais fácil com o elenco não menos que perfeito que ele escalou. Gosling e Stone são dois dos atores mais simpáticos e carismáticos do cinema moderno, e sua química aqui é ainda mais palpável do que em Amor a Toda Prova, em que eles dividiram a cena em 2011. Existe uma certa doçura na atriz que encontra complemento perfeito no charme meio canalha de seu companheiro: eles não são pessoas perfeitas, mas fica evidente que são perfeitos um para o outro. O que torna as escolhas criativas de La La Land ainda mais dolorosas, já que, no mundo tecido por Chazelle, nem sempre os nossos sonhos são compatíveis com os desejos do coração. A pergunta que surge na Cidade dos Anjos é, você abriria mão de seu amor por um sonho? Você abriria mão de seus sonhos por um amor?

É o dilema que Chazelle emoldura com dança, cor, lirismo e muita música. Com apenas 32 anos, ele mostra que entende o legado que carrega, a enorme tradição do musical no cinema de Hollywood, e consegue fazer uma releitura moderna sem esbarrar nas características mais tediosas do gênero. Toda a perfeição técnica do filme – da fotografia banhada nas cores mornas de Los Angeles à montagem fluente que, já no clímax, rende uma sequência inesquecível e emocionante – surge como apoio ao roteiro e ao elenco. Essa "cozinha" surge desprovida de frieza, mesmo com um diretor tão seguro de sua visão e do modo como executá-la. Assim como em Whiplash, Damien Chazelle entende que cinema é território da emoção. Em La La Land, essa emoção vem banhada em paixão irrefreável. Como no doce dueto de Ryan Gosling e Emma Stone na delicada "City of Stars", que joga a pergunta feita por todos os sonhadores, todos os otimistas, que nele se agarram mesmo quando o mundo real não se furta em triturar a esperança e partir seu coração: "Cidade de estrelas, você brilha só para mim? Seu brilho nunca foi tão intenso". Tão intenso, como a experiência que você terá no cinema. Prepare o coração.
La La Land estreia em 19 de janeiro, mas já está em alguns cinemas pelo Brasil a partir de hoje!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.