John Hurt, astro de Alien: O Oitavo Passageiro e Harry Potter, morre aos 77 anos
O cinema ficou mais pobre hoje. John Hurt, ator de voz rouca e expressão grave, morreu hoje aos 77 anos, segundo a imprensa britânica. Ele havia anunciado sofrer de câncer no pâncreas em junho de 2015, mas ainda assim não interrompeu seu fluxo de trabalho, com três filmes já concluídos para 2017 – Darkest Hour, com Gary Oldman e Lily James, ainda está em produção. Indicado duas vezes ao Oscar (por O Expresso da Meia-Noite, em 1978, e por O Homem-Elefante, de 1980), Hurt protagonizou uma das cenas mais emblemáticas do cinema moderno em Alien: O Oitavo Passageiro, quando ele "dá à luz" uma criatura no filme que Ridley Scott dirigiu em 1979.
"Ridley nunca contou ao elenco como seria a cena", lembrou o produtor executivo Ronald Shusset em uma entrevista de 2009. "Ele só avisou que eles veriam algo acontecer." O "algo" em questão era Hurt, depois de acordar de um coma ao ser atacado por um parasita alienígena, ter a criatura explodir de seu peito durante o jantar, com sangue e vísceras saltando sobre todo o elenco. A cena foi criada com uma prótese de seu corpo presa à mesa, enquanto Hurt se posicionada abaixo dela. Sem perder o humor britânico, o ator repetiu a cena na paródia S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço, que Mel Brooks dirigiu em 1987.
Nascido em 22 de janeiro de 1940, em Chesterfield, Derbyshire, na Inglaterra, o ator começou a estudar artes a pedido de seus pais, graduando-se para ser professor. Mas a perspectiva de passar a vida numa sala de aula não o agradou e Hurt logo se mudou para Londres para estudar na Royal Academy of Dramatic Art com uma bolsa de estudos. Por dois anos, ele dividiu a sala de aula com pontas em séries de TV. Em 1962 ele estreou nos palcos britânicos com a peça Infanticide in the House of Fred Ginger – mesmo ano em que fez seu primeiro longa, Um Grito de Revolta. Quatro anos depois, Hurt interpretou o barão Richard Rich no clássico O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, de Fred Zinnemann, e abriu as portas para o cinemão ianque.
O astro logo foi para o topo da lista de produtores e diretores por ser versátil e confiável, trabalhando em TV, cinema e teatro com o mesmo ardor. A indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante por O Expresso da Meia-Noite, filme sufocante de Alan Parker sobre um homem (Brad Davis) encarcerado em uma prisão turca, coroou seu talento. Mas foi com O Homem-Elefante, lançado um ano depois que o alien explodiu de seu peito, que Hurt foi além. No papel de John Merrick, nascido com uma deformidade física severa e exibido como atração de circo no século 19, o ator conseguiu passar uma gama de emoções extensa, mesmo coberto por uma parede de maquiagem.
Mesmo com o extenso trabalho no cinema, John Hurt não abria mão dos palcos. "É como praticar esportes diferentes", disse. "Você usa uma série de músculos completamente distintos." Apesar dos louros e do constante aplauso de seus pares (ele ganhou um prêmio honorário pelo conjunto da obra em 2012 pelo BAFTA, a Academia Britânica de Artes para o Cinema e Televisão). Curiosamente, John Hurt se divertia com o fato de ter morrido em dezenas de seus filmes. "Eu acho que tenho algum tipo de recorde", chegou a brincar. O ator chegou a compilar em seu canal no you tube um vídeo batizado As Muitas Mortes de John Hurt, cobrindo, em quatro minutos e meio, todas as vezes que ele perdeu a vida em cena, de Um Grito de Revolta ao excepcional O Espião Que Sabia Demais, de 2011. No total foram 40.
Apesar do prestígio, Hurt não diminuiu seu ritmo de trabalho e continuou a traçar uma carreira eclética, passando da comédia (A História do Mundo – Parte 1, de 1981) ao thriller político (O Casal Osterman, 1983), do drama distópico (1984, do mesmo ano) a animações de fantasia (O Caldeirão Mágico, de 1985). Curiosamente, sua maior bilheteria se deu já no novo século, quando foi o Sr. Ollivander, dono da loja de varinhas mágicas em Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), papel que repetiu mais duas vezes em As Relíquias da Morte Parte 1 (2010) e Parte 2 (2011).
Antenado com o cinema pop moderno, Hurt ainda engrossou o elenco das adaptações de quadrinhos Hellboy (2004), V de Vingança (2005) e O Expresso do Amanhã (2013), encarou uma aventura com Indiana Jones (O Segredo da Caveira de Cristal, 2008) e ainda viu o nascer de um novo Hércules, que Dwayne Johnson interpretou em 2014. Mas seu maior contato com fãs do universo pop se deu quando o ator interpretou o War Doctor por uma temporada da absurdamente popular série britânica Doctor Who, entre 2013 e 2014. "Participei de algumas convenções, tirando fotos e dando autógrafos a muitas pessoas vestidas como aliens ou como o próprio Doctor Who", disse. "E aquilo me apavorava, pois não sabia se era um bando de malucos. Mas os fãs sempre foram encantadores. Não estou dizendo que é a coisa mais saudável…. mas eles são encantadores!"
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