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Será que o novo Homem-Aranha pode salvar a temporada de verão do cinemão americano?

Roberto Sadovski

27/06/2017 18h37

Qual o problema com a temporada dos grandes blockbusters este ano? O verão ianque começou bem com Guardiões da Galáxia Vol. 2 e teve uma grande surpresa com Mulher-Maravilha. Mas as maiores apostas dos grandes estúdios deixou a temperatura, até o momento, não mais do que morna. Com Transformers: O Último Cavaleiro começando sua carreira nas bilheterias ianques com uma estreia de 45,3 milhões de dólares em seu primeiro fim de semana, menor entre os cinco filmes da série de Michael Bay, o cinemão viu mais um filme começar com um tropeço. Os robôs somam-se a outras decepções, como Rei Arthur: A Lenda da Espada, Alien Covenant, Baywatch, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, A Múmia e Carros 3. Todos variando entre resultados abaixo da expectativa dos estúdios e o fracasso total.

Dá para chegar a uma pá de conclusões observando os números. Primeiro, o público está dando de ombros para filmes derivativos e com cara de lancheira de fast food. Segundo, por mais que seja um esporte bacana criticar a invasão dos super-heróis no cinema, são eles quem estão segurando a onda e, de fato, levando multidões aos multiplexes. O jogo dos blockbusters é uma equação complexa, e embalar um conceito familiar em um pacote pouco original e nada empolgante não parece mais estar marcando pontos. A temporada, porém, ainda está longe de terminar, e alguns filmes já estão arrancando aplausos nas prévias realizadas na gringa. Planeta dos Macacos: A Guerra é um deles. Em Ritmo de Fuga pode ser uma surpresa (nas bilheterias, o filme é um arraso e um dos melhores do ano!). Dunkirk, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas e Atômica prometem chacoalhar com conceitos fora da caixinha. Mas a grande chance de o ano render um fenômeno está nas mãos de um certo Cabeça de Teia.

O poster para Imax de Homem-Aranha; De Volta ao Lar é insano!

Homem-Aranha: De Volta ao Lar começou a ser exibido para a imprensa internacional e para convidados do estúdio semana passada. Os resultados já estão pipocando nas redes sociais, com um veredicto absurdamente positivo para o filme. Depois das duas aventuras protagonizadas por Andrew Garfield, que fracassaram em incendiar a imaginação dos fãs, parece que a versão do herói interpretada por Tom Holland acertou em todos os alvos – sexta-feira dá uma espiada aqui no blog para ver o que eu achei do filme! A combinação de ação e humor, misturada com escolhas perfeitos no elenco e na narrativa, desenharam um caminho para que De Volta ao Lar possa ser o filme que o cinemão precisa: um protagonista fácil de o público se identificar, um tom de filme adolescente dos anos 80, e a marca mais poderosa do entretenimento atual amarrando a coisa toda. Já não era sem tempo!

Daí a gente volta um pouco no tempo, mais precisamente para 2002. Super-heróis ainda testavam as águas no cinema do novo século. X-Men abrira as portas dois anos antes, mas sem grandes fanfarras. O Homem-Aranha sempre foi a jóia da coroa da Marvel e, uma década de trapalhadas legais depois, o personagem virava filme pelas mãos de Sam Raimi. O mundo do entretenimento não era como hoje, recheado de universos compartilhados e gente superpoderosa dando as caras semana sim, semana não. Homem-Aranha era um animal único, uma novidade e uma revolução. Se desse errado, a caixinha dos super-heróis no cinema com certeza seria lacrada por mais uma geração. A responsabilidade de Raimi, Tobey Maguire e cia era grande. Mas as estrelas se alinharam e tudo deu certo. Eu sei, eu estava lá!

O Homem-Aranha de 2002 só observa o movimento…

O lançamento de Homem-Aranha foi uma aposta arriscadíssima, começando com a apresentação do elenco e equipe à imprensa em janeiro de 2001. Tudo era um mistério, e Sam Raimi aos poucos se tornava confortável com a transição de autor indie e coringa dos grandes estúdios para comandante de uma superprodução. Dirigindo uma revista especializada em cinema, a SET, decidi acompanhar cada passo do filme, dando updates em cada edição até o lançamento da aventura. "O filme-evento com coração", chamei na época, depois de papear com todos os envolvidos e assistir ao filme em primeira mão num cinema novinho em folha em Los Angeles. Todo mundo, de Raimi ao produtor Avi Arad ao elenco, estampava um largo sorriso, com a certeza de dever cumprido.

Voltei aos EUA no mês seguinte para cobrir o lançamento de Star Wars – Episódio II: Ataque dos Clones, justamente no fim de semana de estreia de Homem-Aranha. As filas eram momumentais, e não se falava em outra coisa a não ser em Homem-Aranha. George Lucas, papeando comigo, também estava genuinamente empolgado para conferir a aventura do herói aracnídeo. Não deu outra. Recorde na estreia, maior filme do ano, eclipsando Star Wars e a concorrência e escancarando as portas para o filme de super-herói moderno como existe hoje. O sucesso não tinha segredo: uma boa história, contada com um grande elenco e amarrada por um diretor apaixonado. Era emoção, e não aposta para vender toalhas e combos de sanduíche. Talvez esta seja a grande lição do primeiro Homem-Aranha, que os blockbusters da temporada teimam em não aprender, e que Homem-Aranha: De Volta ao Lar parece ter abraçado com louvor. Eu estou curioso com o resultado. E você?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.