Topo

Por que os Super Gêmeos ficaram de fora do filme da Liga da Justiça

Roberto Sadovski

25/07/2017 15h18

"Super Gêmeos, ativar!" Quem tem, digamos, uma certa idade, lembra dos personagens mais populares da animação Superamigos. Para uma geração inteira, o desenho animado foi a porta de entrada para o mundo dos super-heróis, com a Liga da Justiça (Superman, Batman etc) em uma versão mirada para a molecada dos anos 70, encabeçando uma série levemente ingênua, bastante colorida e imensamente divertida. Como os heróis tradicionais já eram adultos, os produtores decidiram criar personagens adolescentes, um gancho para o público se identificar. Entram em cena os alienígenas Zan e Jayna (e o fiel macaco, Gleek). Foi um sucesso. Mas só por um momento. Até segunda ordem, os gêmeos estão fora de qualquer pedaço do universo DC, seja no papel, seja na TV, seja no cinema.

O que não deixa de ser curioso, tamanho o sucesso dos heróis teens quando estrearam em The All New Super-Friends Hour, em 1977. Produzida pela Hanna-Barbera, a série durou um ano e fio o suficiente para imprimir Zan e Jayna (e o fiel macaco, Gleek) no imaginário pop. Criados por Norman Maurer, editor dos roteiros da série, eles tinham clara inspiração nos irmãos da vida real Donnie e Marie Osmond, que faziam um sucesso absurdo na época. Seus poderes eram divertidos: um toque de suas mãos ativava a habilidade de Zan em criar qualquer objeto feito de gelo ou água (ele era sempre carregado em um balde) e a de Jayna em se tornar qualquer animal. Eles funcionavam como alívio cômico (um pouco como o Gorpo de He-Man e os Mestres do Universo) e também como condutores para uma "mensagem" dirigida à petizada. Funcionava, tanto que eles continuaram na equipe nas séries seguintes, The World´s Greatest Super Friends, Super Friends e Super Friends: The Legendary Super Powers Show.

Zan e Jayna (sem o fiel macaco Gleek) em Extreme Justice

Os roteiristas dos programas subsequentes ao de 1977, porém, optaram por usar personagens jovens que na época despontavam nos quadrinhos, como Cyborg e Nuclear, ao mesmo tempo em que as tramas começavam a ficar mais sofisticadas. Num cenário menos ingênuo, os Super Gêmeos perderam espaço, tornaram-se irrelevantes e foram gradualmente esquecidos. Em 1996, na série Extreme Justice, o roteirista Ivan Velez reintroduziu os personagens como escravos alienígenas que esbarravam em uma equipe da Liga da Justiça ao fugir de um ditador interestelar. Velez, fã da dupla desde Superamigos, planejava um revival caprichado, mas ele foi ejetado do título logo depois da edição com os heróis adolescentes, que foram mais uma vez para escanteio.

O tempo trouxe o poder comercial da nostalgia, e os Super Gêmeos vez por outra são ventilados por algum executivo/roteirista/desenhista ávido por uma reconecção com a própria infância. Eles surgiram eventualmente, com outros nomes, em episódios de Justice League United, e ganharam versão em carne e osso em um episódio da nona temporada da defunta série Smallville. Recentemente, Zan e Jayna (sem o fiel macaco, Gleek) surgiram num episódio da websérie Porta dos Fundos, uma tiração de sarro com seus superpoderes inúteis. Mas seu lugar no panteão dos grandes heróis da DC continua a ser continuamente negado.

Os gêmeos alienígenas em Smallville

O que não impede de os fãs (que devem somar uma dúzia, imagino) manterem uma fagulha de esperança acesa. Há alguns anos, como piada de Primeiro de Abril, um pôster caprichado com Zan e Jayna (e o fiel macaco, Gleek) circulou pela internet como se fosse uma proposta séria para um filme protagonizado com a dupla. Mas não era pra ser. os Super Gêmeos, ecos de uma geração já distante, provavelmente estão mais seguros habitando a memória de quem acompanhou suas aventuras com os maiores heróis da Terra. Pelo andar das coisas, se eles tivessem espaço no universo cinematográfico que o diretor Zack Snyder teceu com O Homem de Aço e Batman vs Superman, provavelmente encontrariam uma morte horrível "por ser divertido". Jimmy Olsen que o diga.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.