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Por que Bingo é o filme nacional com mais chances de levar o Oscar em anos

Roberto Sadovski

15/09/2017 15h13

Bingo: O Rei das Manhãs foi o filme escolhido para representar o Brasil no Oscar 2018. Antes do anúncio em 23 de janeiro de todos os concorrentes para o prêmio da Academia, nove produções estrangeiras ficam na disputa em uma peneira anunciada ainda em dezembro. Aposto que Bingo passa por essa primeira seleção. E que entra entre os cinco finalistas para o maior prêmio do cinema mundial. O filme de Daniel Rezende é, ao menos, nosso representante com maiores chances em anos. Traz uma história universal, um personagem reconhecível e uma produção que, apesar de ter elementos brasileiros em cada poro, não é hermética. Sem falar que é um filmaço!

Claro que ser um bom filme não basta. Mas é impossível adivinhar o que procuram os membros da Academia quando remiam um filme estrangeiro. Os vencedores na categoria nos últimos anos não poderiam ser mais diferentes, indo de O Apartamento a O Filho de Saul, passando por Ida e A Grande Beleza. Em comum, são filmes que respeitam suas raízes e que nunca esquecem que cinema é espetáculo, narrativa, uma história bem contada. Em nada adianta colocar na disputa produções que esquecem que cinema ainda é storytelling, não adianta empurrar filmes que precisam ser "sentidos", não adianta apostar em teses. Cinema é uma boa história. Ponto. E Bingo acerta no alvo ao tratar a trajetória do ator Arlindo Barreto, um dos primeiros a interpretar o palhaço Bozo na TV, como narrativa dramatizada, não como peça semi-documental.

O caminho ainda é longo, já que o Oscar continua sendo, acima de tudo, um jogo de marketing, uma premiação de engrenagens complexas em seus bastidores. Ou seja, o filme não precisa só ser incrível, ele também precisa ser bem vendido, precisa de uma campanha bem estruturada para fazer com que ele seja visto pelos membros da Academia. E a primeira peneira para cavar uma vaga entre os finalistas passa pelos integrantes veteranos que votam no Oscar, os que tem mais tempo para ver os filmes, os que tem gosto mais conservador. Nesse ponto, Bingo tem prós e contras. O filme de Rezende traz uma trama convencional, de fácil compreensão, ainda que conduzida com criatividade e extrema habilidade. Por outro lado, os "velhinhos" podem achar fora da curva a escolha de uma história sobre um ator que se vestia de palhaço e animava um programa infantil movido a cocaína. Passando dessa primeira seletiva, porém, os filmes vão para a apreciação de um corpo maior e mais jovem de votantes, o que amplia as chances do filme.

2017 está sendo um ano particularmente feliz para o cinema brasileiro. Bingo: O Rei das Manhãs, foi escolhido com louvor. Mas deve ter passado raspando em ao menos duas outras produções que teriam chances no Oscar. O Filme da Minha Vida, de Selton Mello, traz uma trama nostálgica e sensível, que não precisa de passaporte para ser apreciada. Já o delicado Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, é o recorte da vida de uma mulher de 40 anos, lidando com revelações inesperadas e a relação atribulada com seus pais. Bingo entra, agora, numa disputa acirrada, concorrendo com filmes excelentes como Happy End, de Michael Haneke (indicação da Áustria), o alemão In the Fade, de Fatih Akin, The Square, produção sueca de Ruben Östlund, e o chileno Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio, atualmente em cartaz no Brasil. Em dezembro a gente vê as cenas do próximo capítulo.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.