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As 25 melhores histórias em quadrinhos da Liga da Justiça

Roberto Sadovski

19/11/2017 06h26

Pincelar as melhores histórias da Liga da Justiça é um trabalho complexo. Não pela falta de qualidade, mas pelo contraste: muita coisa entre os primórdios da equipe e o final dos anos 80 tem mais valor por sua inegável importância histórica do que por seus predicados artísticos. O gibi da Liga, afinal, viveu por anos na sombra da animação Superamigos, e isso deixou o tom das histórias mais ingênuo e infantil até a reformulação pós-Crise nas Infinitas Terras. Mas garimpar todas as fases em décadas de aventuras trouxe boas surpresas e ótimas descobertas – além do perceber que, em boas, mãos, a Liga pode ser incrível! A leitura rendeu algumas conclusões. Primeiro, não há absolutamente nada errado em usar histórias de super-heróis para fazer humor! Segundo, o horrendo período dos Novos 52, que privilegiou forma, ignorou substância e fez um flashback sinistro dos primórdios da Image Comics nos anos 90 (urgh), não foi tão cruel com a Liga. Terceiro, pouca gente escreve e entende os herói tão bem quanto Grant Morrisson e Mark Waid. No mais, a Liga da Justiça, em usas diversas encarnações, ainda é aposta certeira quando o assunto é entretenimento – afinal, só uma equipe criativa muito canhestra poderia melar uma mistura de personagens e personalidades e superpoderes tão diversa e tão bacana! Acredite, se os super-heróis mais lendários do mundo sobreviveram a Extreme Justice, nada é capaz de derrotá-los!

"Starro, o Conquistador"
(The Brave and the Bold vol. 1 #28, março de 1960)

Embora a data na capa fosse o começo de 1960, a primeira aventura da Liga da Justiça chegou às bancas alguns meses antes, em dezembro do ano anterior. Cria de Gardner Fox com o editor Julius Schwartz, a equipe surgia com a tarefa de repetir o sucesso da Sociedade da Justiça, astros da HQ All Star Comics, usando a denominação das agremiações de baseball e futebol para batizar a reunião dos maiores heróis dos quadrinhos da época. E que época! A Era de Prata, com as novas versões do Flash e Lanterna Verde, e a "modernização" de medalhões como Mulher-Maravilha e Batman, estava a todo vapor, e o momento era ideal para fazer o que os quadrinhos fazem melhor: olhar para o futuro com inspiração do passado. A ameaça da estreia, o conquistador estelar Starro (duh…), estava alinhada com o zeitgeist pop-espacial-fantástico da época, e o traço leve de Mike Sekowsky não deixou a receita de uma dúzia de personagens em cena desandar. A partir daqui era correr pro abraço!

 

"A Espaçonave de Escravos"
(Justice League of America vol. 1 #3, fevereiro de 1961)

Pouco depois de ganhar seu título próprio, a Liga da Justiça encontrou seu ritmo já em sua terceira edição, com a equipe enfrentando mais ameaças cósmicas, dessa vez materializadas no alienígena escravagista Kanjar Ro, que prende o Superman numa câmara com gás de kryptonita (é sério) e força o resto da equipe a derrotar seus inimigos. O ritmo é dinâmico, a interação dos heróis é equilibrada, a aventura é uma delícia. Foi aqui que Liga da Justiça deixou em definitivo de ser uma experiência da DC para se tornar um título em que tudo poderia acontecer. Gardner Fox e Mike Sekowsky, ainda no comando criativo, parecem não buscar nenhum limite para sua criatividade, e por anos plantaram as sementes que reverberam nas aventuras da equipe até hoje.

 

"Crise na Terra-3"
(Justice League of America vol. 1 #29-30, julho e agosto de 1964)

 

Relendo uma tonelada de quadrinhos da Liga, percebi que as equipes criativas se soltavam ainda mais quando a trama envolvia não só a equipe "moderna", como também seus predecessores da Sociedade da Justiça – então habitando outro mundo, a Terra-2, que tornou-se lar dos heróis da Era de Ouro da DC. Tudo bem que os anos e as realidades paralelas, fruto da aquisição de outras editoras pela DC, terminariam numa confusão absurda. Mas as tramas eram deliciosas, com uma dezena de super-seres interagindo no papel. Em duas partes, este segundo encontro das equipes introduz ainda mais uma realidade paralela, a Terra-3 (!), lar do Sindicato do Crime, que trazia versões malignas do Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash e Lanterna Verde. O traço de Sekowsky pode parecer pouco sofisticado para os padrões atuais, mas seu design para os vilões – como o Coruja, basicamente o Batman com uma máscara do pássaro – durou um bom par de décadas.

"O Soldado Desconhecido da Vitória"
(Justice League of America vol. 1 #100-102, julho a setembro de 1972)

Os anos 70 viram uma revolução na DC, com Superman, Batman e Mulher-Maravilha experimentando mudanças radicais no papel e nos bastidores. Uma das mais evidentes foi a substituição da equipe criativa de Liga da Justiça da América, com Gardner Fox e Mike Sekowsky abrindo espaço para o desenhista Dick Dillin e para uma turma de roteiristas que incluia Dennis O'Neil (responsável pela modernização do Batman e do Arqueiro Verde), Gerry Conway (que, na concorrência, definiria o Homem-Aranha ao matar Gwen Stacy) e o responsável por mais um encontro da Liga e da Sociedade da Justiça, Len Wein. Nessa trama nostálgica, as duas equipes precisam encontrar os remanescentes dos Sete Soldados da Vitória (que foram atualizado há alguns anos por Grant Morrisson) que foram apagados da memória coletiva da humanidade – preço que tiveram de pagar para salvar o planeta de (mais) uma ameaça cósmica. Como as melhores histórias da Liga, essa também passeia por tempo e espaço e capricha nos convidados especiais.

 

"Alvos de Dois Mundos"
(Justice League of America vol. 1 #195-197, setembro a novembro de 1981)

O lendário artista George Perez responde pelo traço de mais um encontro das equipes dos mundos paralelos – e provavelmente o melhor! O Ultra-Humanita, inimigo jurado do Superman da Terra-2, traça um plano ousado para dominação mundial (o que mais). Ele recruta vilões das duas Terras, entre eles o Homem-Florônico, Nevasca e o Pirata Psíquico, e recria sua Sociedade Secreta dos Super-Vilões (os nomes eram um barato). O objetivo é jogar dez heróis específicos no limbo, criando um desequilíbrio cósmico que culminaria com a erradicação de todos os heróis de uma Terra. Gerry Conway escreve as batalhas incríveis nas duas realidades, mas o show é de Perez e seu estilo inconfundível, que trouxe uma beleza plástica que ajudou a mudar a cara dos quadrinhos. Seu melhor, porém, ainda estava por vir…

 

Crise nas Infinitas Terras
(Crisis on Infinite Earths #1-12, abril de 1985 a março de 1986)

Nos anos 80, a DC vivia uma bagunça absurda com uma profusão sem fim de realidades paralelas, com heróis repetidos (já havia dois Superman, por exemplo) e universos inteiros colocados na sacola da editora ao adquirir concorrentes (como a Charlton, do Besouro Azul e do Questão, e a Fawcett, lar da Família Marvel). Crise nas Infinitas Terras surgiu com a missão de passar a régua e unificar todos estes mundos. Mas conseguiu muito mais. Bem sucedidos como a dupla criativa à frente de Novos Titãs, Marv Wolfman e George Perez criaram um épico em doze partes tão insano quanto espetaculas: basicamente TODOS os personagens que já haviam passado pelas páginas dos gibis da DC tiveram algum papel. As consequências da Crise foram profundas, com a morte da Supergirl e do Flash (eles já foram reintroduzidos na cronologia, pode ficar tranquilo), em capítulos que combinavam emoção genuína e ação espetacular. Um clássico, com a Liga da Justiça ao centro de tudo.

 

Lendas
(Legends #1-6, novembro de 1986 a abril de 1987)

Depois da Crise, os principais heróis da DC tiveram suas origens recontadas e reformuladas (Superman por John Byrne, Mulher-Maravilha por George Perez, Batman por Frank Miller), mas faltava um grande evento para justificar a recriação da Liga da Justiça – na época, o título contava com heróis de quinta categoria que tinham Detroit como base. Lendas surgiu com este propósito, colocando um servo do vilão cósmico Darkseid em uma campanha para desacreditar os super-heróis da Terra. Em meio ao caos, o mundo é apresentado à nova Mulher-Maravilha, Guy Gardner assume o manto do Lanterna Verde de nosso planeta e, de quebra, os roteiristas John Ostrander e Len Wein (com arte de Byrne) criaram uma personagem-chave para o futuro da DC, inclusive no cinema: Amanda Waller, a líder implacável do Esquadrão Suicida. Olha, Lendas daria um filmaço…

 

"Um Novo Começo"
(Justice League #1-6, Justice League Internacional #7, abril a outubro de 1987)

De todas as séries protagonizadas pela Liga, esse "novo começo" foi, de longe, sua versão mais ousada – e uma das mais sensacionais! Keith Giffen e J.M. DeMatteis deixaram de lado todo conflito sombrio de Crise e Lendas pra trás e fizeram de Liga da Justiça uma série cômica, um sitcom em que Ross e Joey calham de ter super poderes. Foi um choque para quem esperava a combinação drama + ação, mas foi também um momento criativo sem igual, que deu à equipe algumas de suas melhores sagas – além do über vilão Max Lord. Relendo este primeiro arco, em que Lord conduz a equipe a seu status internacional, é perceptível o quanto os roteiristas estavam se divertido e provando, com louvor, que super-heróis, mesmo desse quilate, funcionam perfeitamente quando o tom é cômico. A série também revelou ao mundo o talento absurdo de Kevin Maguire, o artista que melhor sabe desenhar emoções em toda a história dos quadrinhos! O sucesso foi tão retumbante que o título logo se expandiu para mais meia dúzia de gibis, que entraram nos anos 90 com os pés na porta, definindo a Liga da Justiça para toda uma geração. E uma dose de G'nort nunca, nunca é demais!

 

"Despero"
(Justice League America #38-40, abril a junho de 1990)

Apesar dos aplausos com a fase "engraçadinha" da Liga, a dupla Giffen e DeMatteis não foi imune às críticas de fãs bobões que "não admitiam" humor na série dos heróis. A resposta dos roteiristas não podia ser mais espetacular: em três edições, eles trouxeram o vilão cósmico Despero num banho de sangue e violência que agiu como soco no estômago. A trama de vingança colocou o gigante homicida em rota de vingança contra os membros da Liga da Justiça Detroit, deixou uma trilha de corpos e culminou com um combate em que nem toda a Liga saiu com vida. Adam Hughes assumira a função de desenhista no lugar de Maguire e não deixou por menos, criando painéis graficamente espetaculares e uma fluidez narrativa sem igual. Essa é uma daquelas histórias que, mesmo pouco lidas, deixou marcas profundas na equipe.

 

"O Vetor dos Extremistas"
(Justice League Europe #15-19, junho a outubro de 1990)

O sucesso da "Liga engraçadinha" foi tamanho que logo o título gerou cria, a principal sendo Liga da Justiça Europa. Logo, os roteiristas Keith Giffen e Gerard Jones deram à equipe vilões casca-grossa. Vindos de outra dimensão, onde eles já haviam arrasado o planeta e seus defensores, os Extremistas eram, basicamente, avatares de vilões da Marvel (Doutor Destino, Doutor Octopus, Dentes de Sabre) que atacavam sem piedade e com violência extrema. O mais bacana dessa fase – e desse arco – é a escalada do perigo, com os heróis cada vez mais impotentes ante o poder da ameaça. É história de gente grande, que ganha ainda mais pontos com a arte inconfundível de Bart Sears. Pena que, depois, os anos 90 desceriam ladeira abaixo.

 

O Reino do Amanhã
(Kingdom Come #1-4, maio a agosto de 1996)

Se O Reino do Amanhã não é a melhor história da Liga, ao menos é, de longe, a mais bonita. Alex Ross já havia deixado o mundo de queixo caído com a minissérie Marvels, mas aqui ele engatou uma segunda e não poupou detalhes. No futuro, o Superman precisa abandonar seu exílio e reunir os maiores heróis do mundo para impedir que a nova geração de seres superpoderosos destrua o planeta em batalhas sem sentido. Uma tragédia nuclear força a ação dos governos contra os heróis, e a situação escala para uma guerra entre as forças do Superman, os detentos e o exército reunido pelo Batman. Mark Waid humaniza a história ao colocar como protagonista silencioso um pastor que, guiado pelo Espectro, pode decidir o futuro da humanidade e sua convivência com os meta humanos. Um clássico moderno que, olha, daria um filme espetacular….

 

"Nova Ordem Mundial"
(JLA #1-4, janeiro a abril de 1997)

Ninguém soube escrever a Liga da Justiça melhor que Grant Morrisson. Ninguém. Ao assumir o novo título com os heróis perto da virada do milênio, no traço elegante de Howard Porter, ele exigiu que a editora liberasse os pesos-pesados. E pela primeira vez em anos a equipe contou com Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde, o Flash e o Caçador de Marte – uma reunião de poder invejável. Para Morrisson, a Liga representa uma alegoria para os deuses que influenciam o rumo da civilização. ,De cara, o roteirista quebrou a equipe, trazendo uma nova geração de heróis que os derrota. O segredo: eram marcianos brancos, seres superpoderosos que capturam a Liga e deixam escapar quem eles acreditam ser seu elo mais fraco: o Batman. "Ele é só um humano", resmunga um, que ouve a resposta de um Superman às gargalhadas: "Vocês deixaram livre nosso membro mais perigoso". Big mistake.

 

"A Pedra da Eternidade"
(JLA #10-15, setembro de 1997 a fevereiro de 1998)

Grant Morrisson estava pegando fogo quando assumiu JLA! Já em seu terceiro arco, ele mistura viagem no tempo, a nova Liga da Injustiça, um Batman quebrado e Darkseid reinando em uma Terra destruida no futuro. A trama segue o Flash, o Lanterna Verde e o Aquaman viajando no tempo para reunir uma nova equipe, ao lado de um Cavaleiro das Trevas derrotado e uma Mulher-Maravilha enlouquecida pela guerra, na tentativa de derrotar Darkseid. Na verdade, tudo que Morrisson escreveu com a Liga da Justiça seria um ótimo ponto de partida para dar continuidade às aventuras da equipe no cinema: a escala é gigante, os personagens são mergulhados em conflito e a ação é sempre bombástica. Fica a dica….

 

Liga da Justiça: Ano Um
(JLA: Year One #1-12, janeiro a dezembro de 1998)

Mais de uma década depois de Crise nas Infinitas Terras, a DC decidiu apresentar a história definitiva da Liga da Justiça, sem multiversos, terras paralelas ou heróis duplicados. No processo, o time Mark Waid e Barry Kitson prestaram uma homenagem bacana à Era de Ouro dos quadrinhos, ao mesmo tempo em que deram mais peso e dimensão a personagens que fatalmente ficavam à margem do universo DC. Este Ano Um, portanto, mal traz Superman ou Batman, nada de Mulher-Maravilha: o foco é nos fundadores da Liga, um time de novatos formado por Lanterna Verde, Aquaman, Flash, Caçador de Marte e Canário Negro. Em doze edições, Waid caprichou na caracterização do time, fazendo do Aquaman um lutador solitário e enfatizando a amizade entre Hal Jordan e Barry Allen. Claro que, nos anos seguintes, a editora bagunçou toda a cronologia de seus universos (de novo), o que não tira o mérito dessa origem – que prova a força da Liga da Justiça mesmo sem os seus pesos pesados.

 

Liga da Justiça: O Prego
(Justice League: The Nail #1-3, agosto a outubro de 1998)

Histórias em realidades alternativas às vezes rendem verdadeiras pérolas. Como é o caso de O Prego, em que Alan Davis e Mark Farmer criam uma situação inusitada. Pouco mais de duas décadas atrás, um prego fura o pneu da caminhonete de Jonathan e Martha Kent, impedindo que eles descubram o foguete que trouxe o pequeno Kal-El. Como resultado, o mundo é privado do Superman. Corta para o presente, quando a Liga da Justiça (Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, Mulher-Gavião, Eléktron e o Caçador de Marte) enfrenta uma campanha contra metahumanos, que aos poucos vai ceifando a vida de vários heróis do planeta. Com a ajuda de Lois Lane, a equipe descobre uma conspiração para transformar a Terra numa sociedade híbrida de kriptonianos (criados com o DNA recuperado do foguete que trouxe o bebê Kal-El), um plano que só pode ser impedido com o surgimento do maior heróis que o planeta já viu: o Superman.

 

Terra 2
(JLA: Earth-2, graphic novel, janeiro de 2000)

Prestes a terminar sua sequência de histórias na série mensal da Liga, Grant Morrisson teceu a saga mais explosiva da equipe neste especial, desenhado pelo excepcional Frank Quitely. Em Terra 2, a superequipe enfrenta o Sindicato do Crime, sua contraparte maligna vinda de uma Terra paralela. Alexander Luther, único herói de um universo de antimatéria, rompe a barreira entre os mundos para pedir ajuda à Liga. Quando Superman, Batman e cia. chegam à outra Terra para livrar a população do jugo do Sindicato do Crime, o equilíbrio cósmico transporta os vilões a nosso mundo, onde eles descobrem novos inocentes para pilhar. Morrisson usa uma história de super-heróis para criar uma alegoria sobre a inevitabilidade do Mal e ordem natural do universo. Temas densos, traduzidos em ação ininterrupta, caracterização perfeita – todos os personagens encontram sua voz – e um final surpreendente. Nem vou dizer que daria um filme incrível….

 

"Torre de Babel"
(JLA #43-46, julho a outubro de 2000)

Mark Waid assumiu JLA após a partida de Grant Morrisson, e não decepcionou. Em "Torre de Babel", o roteirista foi fundo na paranóia do Batman e nos limites que o Homem-Morcego está disposto a chegar para proteger o planeta. No caso, Waid revela que o herói traçou planos de contingência para desabilitar cada um de seus companheiros em caso de uma emergência, como controle mental – inclusive o Superman. Seus planos, porém, são roubados pelo megalomaníaco Ra's al Ghul, que pretende incapacitar a Liga para prosseguir com seu esquema para genocídio e redução da população global. A trama marcou para sempre o papel do Batman entre a Liga que, embora possam ver o raciocínio por trás de suas ações, hesitam em manter o herói, sempre agindo nas sombras e em segredo, na equipe. Parte da trama foi base para o roteiro de Justice League: Mortal, o filme que seria dirigido por George Miller em 2008 mas (infelizmente) nunca saiu do papel.

 

Planetary/LJA: Terra Oculta
(Planetary/JLA: Terra Occulta, graphic novel, novembro de 2002)

Warren Ellis fez de Planetary uma das melhores séries de ficção científica da história. Terra Occulta imagina um mundo em que a equipe, liderada pelo misterioso Elijah Snow, conspirou para eliminar a possibilidade de a Liga da Justiça existir, dominando o mundo nas sombras. Neste mundo, Clark Kent, Diana Prince e Bruce Wayne trabalham para revelar a existência do Planetary e, em sua base secreta na Lua, enfrentá-los para libertar um mundo que sequer sabe que não controla seu destino. Ellis, com arte do veterano Jerry Ordway, cria uma história violenta e intensa, que reimagina os maiores heróis da Terra como vingadores obstinados, ainda que continuem sua luta por justiça. E poucas sequências nos quadrinhos modernos são tão empolgantes quanto a luta de Diana contra Jakita Wagner, que surge quase como sua igual. Quase.

 

Liga da Justiça/Vingadores
(JLA/Avengers #1-4, setembro de 2003 a fevereiro de 2004)

Ok, vou dar uma tapeada aqui e bisar o texto que usei quando listei as melhores histórias dos Vingadores. Adicionando esse pedaço de informação: enquanto a Terra dos Vingadores é mais parecida com o mundo real, imperfeito e caótico, o lar da Liga da Justiça é um lugar que, apesar das ameaças, ainda está mergulhado em otimismo. Informação que o pessoal que faz os filmes da DC parece não ter "captado"…. Enfim, flashback time!

O encontro de personagens da Marvel e da DC era uma tradição nos anos 70, interrompida por disputas editoriais na década seguinte, e esticada à exaustão nos cansativos anos 90/começo dos 00. Mas o canto do cisne dos crossovers é também o melhor deles. Kurt Busiek escreveu e George Pérez desenhou o que pode ser descrito como um épico cinematográfico que, se um dia fosse levado às telas, seria a aventura mais espetacular de todos os tempos. No papel, é quase isso. Busiek teceu uma trama em que Vingadores e Liga da Justiça existem em mundos paralelos, mas que terminam se misturando por maquinações do vilão Krona. Ao longo de quatro edições, os heróis entram em conflito e depois veem seus mundos se misturarem, com as configurações mais impressionantes das duas equipes sendo criadas. É, ao mesmo tempo, uma grande história de ação e uma viagem no tempo pela histórias dos dois times, culminando com o momento em que o Superman empunha tanto o escudo do Capitão América quanto o martelo de Thor. Até o momento, a saga é o último encontro de heróis da Marvel e da DC.

 

DC: A Nova Fronteira
(DC: The New Frontier #1-6, março a novembro de 2004)

O genial Darwyn Cooke acreditava nos super-heróis como um farol de esperança na escuridão do mundo. Este A Nova Fronteira captura o momento mais brilhante da DC, quando a Era de Ouro dos quadrinhos, que viu o surgimento do Superman, Batman e Mulher-Maravilha, encontra a Era de Prata da corrida espacial, da ameaça vermelha, de John Kennedy e do surgimento de super-heróis alinhados com este mundo pós-Segunda Guerra, como Lanterna Verde e o Flash. Colocando o centro de sua história entre 1953 e 1960, Cooke fez uma belíssima homenagem aos quadrinhos da época, colocando acontecimentos reais, como o movimento dos Direitos Civis e os testes atômicos americanos como contexto histórico. A trama coloca estes novos heróis ao lado dos veteranos para conter uma ameaça alienígena. Se você ler uma única história da Liga da Justiça em sua vida, escolha A Nova Fronteira e seja feliz!

 

Crise de Identidade
(Identity Crisis #1-7, agosto de 2004 a fevereiro de 2005)

Menos uma história de super-heróis e mais uma trama de assassinato, Crise de Identidade marcou o fim da inocência na nova encarnação da Liga da Justiça. O ponto de partida é o assassinato brutal de Sue Dibny, mulher do Homem-Elástico, morta e carbonizada. A (rápida) descoberta do culpado remete a uma história da equipe publicada décadas atrás e desencadeia uma série de decisões erradas, de momentos dramáticos (que levam a mais mortes) e de uma virada na dinâmica da equipe. O romancista Brad Meltzer mostra um conhecimento enciclopédico da história dos quadrinhos da Liga da Justiça da América e conta com um Rags Moralez especialmente inspirado, principalmente ao retratar a dor de um dos heróis mais inexpressivos dos quadrinhos, o bobão Homem-Elástico, em especial ao descobrir o verdadeiro culpado de todos os crimes.

 

Justiça
(Justice #1-12, outubro de 2005 a agosto de 2007)

 

Alex Ross nunca escondeu que a série animada Superamigos foi uma de suas maiores inspirações como artista de quadrinhos. Justiça é uma grande homenagem ao desenho, uma aventura da Liga da Justiça contra a Legião do Mal, reimaginada como uma série madura e intensa. Ross trabalhou com o roteirista Jim Krueger e pintou os quadros desenhados por Doug Braithwaite em doze edições de cair o queixo. A trama traz os maiores supervilões da DC (Espantalho, Capitão Frio, Hera Venenosa) unidos para resolver os maiores problemas da humanidade, voltando a opinião pública contra a Liga da Justiça. Tudo é uma distração para um plano de Lex Luthor em derrotar os heróis e erguer sua Legião do Mal para dominar o planeta. Quase todos os heróis que foram parte da Liga entram em cena, e a série caminha numa escalada de tensão e aventura, culminando com uma batalha épica. Justiça é a Liga em seu melhor, agindo como um farol de esperança em um mundo que teima em convergir para a escuridão. Sem falar que é um gibi bonito pra caramba!

 

Crise Infinita
(Infinite Crisis #1-7, dezembro de 2005 a junho de 2006)

Duas décadas depois de realinhar a cronologia com Crise nas Infinitas Terras, a DC arriscou uma continuação e se deu bem. Com Geoff Johns no comando, e arte dividida entre Phil Jimenez, George Pérez, Ivan Reis e Jerry Ordway, Crise Infinita recupera Kal-L, Superman da Terra Paralela, que retorna a nosso mundo com a ajuda de Alexander Luthor e do Superboy Prime, enlouquecido com poder e disposto a recuperar seu mundo, apagado durante a Crise. Johns foi esperto em usar o "heroísmo" como tema central, colocando Kal-L revoltado com o rumo do mundo, principalmente depois de testemunhar, de uma dimensão paralela, a Mulher-Maravilha tirar a vida de Max Lord, um telepata capaz de controlar o Superman. Ao fim da trama, a pergunta que fica é: será que os heróis de uma era mais inocente e menos "realista" eram tão mais nobres assim? Ah, e fica a lição: nunca deixe o Coringa fora da festa. Nunca.

 

"O Caminho do Tornado"
(Justice League of America vol. 2 #1-6, outubro de 2006 a abril de 2007)

Depois de Crise Infinita, a palavra-chave para a Liga da Justiça foi "reconstrução". Em seu primeiro arco na nova encarnação de Liga da Justiça da América, o escritor Brad Meltzer coloca o foco nos indivíduos que formam a equipe e como eles funcionam bem como um time – na verdade, o motivo pelo qual a Liga da Justiça precisa existir. Para amarrar a trama, ele traz a jornada do andróide Tornado Vermelho ao habitar um corpo humano de verdade. "O Caminho do Tornado" equilibra os momentos de ação (que são incríveis, cortesia da arte do brasileiro Ed Benes) com os conflitos dos personagens, culminando com a nova formação da Liga, escolhida cuidadosamente pela tríade Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Pena que essa encarnação da série chegasse ao fim com o fiasco Novos 52. Mas nem tudo está perdido…

 

 

"Origem"
(Justice League vol 2 #1-6, novembro de 2011 a abril de 2012)

Ah, Novos 52. A tentativa da DC em zerar (de novo) sua cronologia rendeu alguns dos piores momentos dos heróis da editora – felizmente, muitos já consertados após o ótimo Renascimento, que devolveu o prazer em ler as sagas da DC. No meio do caos, Geoff Johns e Jim Lee recontaram a origem do supergrupo nessa nova realidade, mostrando o primeiro encontro do Superman com o Batman, a Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman, Lanterna Verde e Cyborg. A ameaça capaz de juntar tamanho poder de fogo é a invasão da Terra pelas forças de Darkseid, regente de Apokolips, e único capaz de se impor ante a força combinada da Liga. Johns encara a série com fôlego de blockbuster, em uma escalada de ação que não deixa de lado a caracterização precisa de cada personagem, sem deixar de lado o humor que humaniza os heróis. Jim Lee capricha na arte, renderizando cada quadro como um frame de aventura cinematográfica, culminando em uma história redondinha e bem acabada. Que, vai saber por que, não foi a base do filme da Liga da Justiça. Caras, não dá pra errar assim!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.