Por que a Marvel está relançando, mais uma vez, seus heróis dos quadrinhos

A Marvel está relançando sua série de quadrinhos com a iniciativa Fresh Start, ou seja, um "novo começo". Espera um pouco…. de novo? O anúncio, feito no começo da semana, pegou fãs de surpresa, já que é o OITAVO relançamento que os heróis da editora experimentam em seis anos! Sempre que surge esse papo de "novos criadores, nova direção", com títulos tradicionais recomeçando com uma edição número 1, a pulga atrás de minha orelha fica inquieta. Afinal, foi exatamente o que a Marvel fez com a bandeira Legacy, pouco mais de cinco meses atrás. O modus operandi é basicamente o mesmo: um mega evento, um crossover que reúne toda a prata da casa, resultando em uma página (quase) em branco para recomeçar o ciclo. Ou seja, o clichê de sempre.

A novidade desta vez fica por conta da ênfase em personagens clássicos (bom, "novidade"…) que parecem de fato os personagens clássicos que os fãs se interessaram em primeiro lugar. Thor, Capitão América e Homem de Ferro voltam definitivamente a ser Odinson, Steve Rogers e Tony Stark, encabeçando a nova equipe dos Vingadores (com Mulher-Hulk, Homem-Formiga, Vespa e o Pantera Negra firmes no line up). Peter Parker deixa sua fortuna e seu império tecnológico para trás, fazendo com que o Homem-Aranha seja mais uma vez um herói do povão. E vale ressaltar que a imagem de divulgação de Fresh Start deixa Wolverine, Jean Grey, Deadpool e o Coisa em destaque, mostrando que a editora pode estar abraçando com mais ternura personagens de séries que, no cinema, não são da Marvel/Disney, e sim da Fox. Talvez eles estejam apostando pesado na fusão das empresas e em todas as crias mais uma vez sob o mesmo teto.

Claro que uma reviravolta assim, com tanto apelo midiático, não surge sem tensão nos bastidores. Nos últimos meses, a Marvel perdeu seu editor-chefe, o talentoso Axel Alonso, além de ver sua principal força criativa, o roteirista Brian Michael Bendis, deixar a Casa de Ideias para escrever o Superman para a rival DC Comics. Seus personagens, porém, continuam em destaque nos títulos da Marvel e em outras mídias, como Jessica Jones (que tem sua segunda temporada começando em breve no Netflix), Miles Morales (o Homem-Aranha mais jovem, protagonista de uma animação que chega aos cinemas no fim do ano) e Riri Williams (ok, Iron Heart ainda não saiu do papel….). A empresa, que na última década tornou-se um gigante pop graças ao sucesso de seu Universo Cinematográfico, parece ter perdido o foco com os quadrinhos, e essa mudança pode servir para colocar a casa em ordem. A maior evidência é ver seu presidente criativo, Joe Quesada, deixando seu trabalho com as séries de TV de lado para dar mais atenção aos gibis.

E são os gibis, no fim das contas, que interessam. Embora essa mania de zerar tudo seja cansativa, nem sempre é um passo na direção errada. A Marvel, que investiu pesado na diversidade e em personagens novos usando roupagens antigas (como o Falcão assumindo o papel do Capitão América e Thor sendo uma mulher), parece agora entrar num movimento de não só abraçar seu passado, como deixar que o novo seja, de fato, novo! A DC mesmo parece ter aprendido com seus próprios erros. Quando a editora do Superman e do Batman zerou toda sua linha com os Novos 52, a resposta foi desastrosa, já que o legado de seus títulos mais preciosos foi, com uma canetada, jogado no lixo. Outro reboot foi anunciado, os fãs resmungaram, mas Renascimento terminou sendo a melhor iniciativa dos quadrinhos mainstream em anos, com todos os títulos, em especial os do Homem de Aço, experimentando uma renovação criativa merecida. Será que Fresh Start vai seguir por esse caminho? Ou será que chegou a hora de abandonar as HQs e fazer com que a Marvel exista, com sucesso, apenas no cinema?