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Diversidade, representatividade, cultura pop: o Oscar 2018 acertou o tom!

Roberto Sadovski

05/03/2018 03h01

Mandatory Credit: Photo by Chris Pizzello/Invision/AP/REX/Shutterstock (9448601hq) Guillermo del Toro, winner of the award for best director for

A Forma da Água levou o Oscar de melhor filme na festa que terminou pouco mais de uma hora atrás. Mas os grandes vencedores foram as centenas de artistas, à frente e atrás das câmeras, que nos últimos anos tem lutado para que o cinemão se torne um lugar mais plural, mais diverso e mais representativo. Não é de hoje. Desde que 12 Anos de Escravidão ganhou o prêmio máximo da indústria, a festa da Academia tenta se adaptar aos novos tempos, incorporando mudanças em suas fileiras para fazer com que os votos venham de experiências, nacionalidades e backgrounds diferentes. Ainda assim, o movimento que culminou com a vitória de Moonlight ano passado parecia, na falta de uma palavra melhor, fake. Era uma instituição antiga tentando, sem muito sucesso, andar no ritmo dos novos tempos. A festa de 2018, entretanto, finalmente acertou o tom. Sem que, para isso, tivesse de entregar estatuetas para agradar um ou outro grupo: foi a vitória do talento!

E foi a vitória dos artistas latinos, vale salientar. Rita Moreno, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante décadas atrás por Amor Sublime Amor, voltou ao palco do Oscar (com o mesmo vestido em que aceitou a estatueta tantos anos atrás). Gael Garcia Bernal, Miguel e Natalia Lafourcade tomaram os holofotes para executar "Remember Me", canção de Viva! – A Vida É Uma Festa, agraciada com um Oscar, assim como o próprio filme, premiado como melhor animação. O drama chileno Uma Mulher Fantástica foi escolhido melhor filme estrangeiro, com sua protagonista, a atriz Daniela Vega, sendo a primeira mulher trans a apresentar um prêmio em toda história da Academia. Sem falar do próprio Guillermo del Toro, ele mesmo um imigrante mexicano, celebrado como melhor diretor, além do prêmio de melhor filme para A Forma da Água, que foi rápido em deixar seu recado: "O melhor que nossa indústria faz é apagar as linhas na areia quando o mundo tenta deixá-las mais profundas".

Claro que, como um espetáculo para a televisão, exibido para o mundo inteiro, o Oscar pode (e deve) ser político, mas ainda é um espetáculo. A festa de 2018 pareceu mais rápida (mesmo batendo em quase quatro horas de transmissão, a mais longa desde 2007) e mais dinâmica, equilibrando humor, política (claro) e mensagens de esperança. Sim, porque a vitória de A Forma da Água, como del Toro pontuou, é inspiração para jovens cineastas que apostam em filmes de gênero como sua entrada no cinema. Jimmy Kimmel (retornando para apresentar a premiação) deu o tom em seu monólogo de abertura, falando sobre assédio e sobre como este momento de mudanças tardou a chegar. Ele não poupou (óbvio) cutucar o presidente Donald Trump e seu vice, Mike Pence, que representam a parcela da população mais apavorada com a mudança de status quo na história recente.

A partir daí, o Oscar 2018 equilibrou-se em graça e emoção. Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek, todas vítimas de assédio, falaram sobre o movimento #timesup. Lee Unkrich, diretor de Viva!, terminou seu discurso de agradecimento aplaudindo o povo, as histórias e a tradição do México e arrematou com um "Representatividade importa". Frances McDormand, vencedora como melhor atriz por Três Anúncios Para um Crime, puxou um aplauso coletivo para todas as indicadas e vencedoras em todas as categorias. Lupita Nyong'o e Kumail Nanjiani, dois estrangeiros em Hollywood, chamaram atenção para uma emenda no Congresso que dá status legal a imigrantes que chegaram nos Estados Unidos quando crianças. Nenhum discurso soou panfletário, ninguém erguei cartazes tolos ou gritou palavras de ordem. Ainda assim, com o enorme alcance da festa, o recado foi dado.

E a festa teve vencedores que, há alguns anos, sequer passariam pelo tapete vermelho do Oscar. Corra!, o filmaço de terror e ficção científica que entregou um comentário social poderoso e inteligente, foi agraciado com o Oscar de melhor roteiro original, com Jordan Peele aplaudido no palco. A montagem de abertura da festa, que celebrou nove décadas, foi tomada por dezenas de filmes que representam o melhor da cultura pop, de De Volta Para o Futuro a Aliens, O Resgate a O Exterminador do Futuro 2, alinhando filme de gênero com a cepa mais nobre do cinema, o miolo da Academia há décadas. O recado foi claro. Todos os filmes merecem seu lugar entre a elite, todos os públicos merecem ver seus favoritos agraciados com a estatueta dourada. Foi uma festa bonita e divertida, que não hesitou em trazer de volta Warren Beatty e Faye Dunaway, que ano passado leram por engano o vencedor de melhor filme (com o envelope errado, eles apontaram La La Land, quando na verdade o vencedor fora Moonlight) para entregar, mais uma vez, o prêmio principal. O grande vencedor? Mark Bridges, figurinista de Trama Fantasma, que levou para casa o Oscar… e um jet sky de 18 mil dólares, um mimo por ele ter feito o discurso mais curto. Seu agradecimento durou 36 segundos.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.