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Fim da mordaça: vítimas do produtor Harvey Weinstein são livres para falar

Roberto Sadovski

20/03/2018 16h15

O produtor Harvey Weinstein, que foi o centro de uma avalanche de acusações de assédio sexual e estupro em um movimento que abalou as estruturas do poder em Hollywood, perdeu sua última "arma secreta" para manter suas vítimas em silência. Com a falência de sua empresa a The Weinstein Company, os acionistas decidiram anular todas as cláusulas de confidencialidade que mantinham dúzias de mulheres vítimas do produtor impedidas de ir a público com suas acusações. Era o poder econômico mantendo uma mordaça em mulheres temerosas em perder uma fortuna nos tribunais caso quebrassem o contrato – muitas vezes assinado sob coerção moral e financeira. Foi um acordo assim, por exemplo, que impediu que a atriz Rose McGowan, que teve sua carreira prejudicada por Weinstein, denunciasse os ataques que sofreu.

A The Weinstein Company viu seu capital ruir ante as acusações contra seu principal acionista e encarou uma jornada rumo à falência. O movimento legal foi a última manobra antes de a empresa capitular após várias tentativas frustradas de encontrar um comprador ou investidor. O nome de Weinstein tornou-se tóxico na indústria, e sua queda arrastou junto a empresa que ele e seu irmão, Bob, ergueram por décadas, criando um estúdio capaz de competir com gigantes como Warner e Paramount, gerando uma série de 277 filmes de sucesso artístico e comercial, coletando cerca de 2 bilhões de dólares e uma fileira de 28 Oscar. Nada, porém, fez diferença ante os relatos de mulheres abusadas sistematicamente por Weinstein ao longo de décadas.

A falência da The Weinstein Company coloca uma pedra nos eventos iniciados em outubro do ano passado, quando as primeiras acusações contra Harvey foram reveladas em uma reportagem do New York Times. De lá para cá, parceiros comerciais importantes e cerca de 25 por cento de seus funcionários deixaram a empresa, que foi iniciada em outubro de 2005 depois de os irmãos Weinstein encerrarem as atividades de sua produtora anterior, a Miramax, de onde saíram filmes definitivos para o cinema moderno, como Pulp Fiction e Gênio Indomável. E empresa lista um equilíbrio de ativos e passivos entre 500 milhões e 1 bilhão de dólares. Com a falência judicial, é provável que seus ativos, como o invejável catálogo de filmes, vá a leilão.

Mas tudo isso é blablablá financeiro e só interessa a investidores. O importante aqui é a vitória, se não definitiva, certamente a ser festejada, de um movimento no coração do cinemão que deu voz à centenas de vítimas e começou uma onda para revelar os elementos mais nocivos nos bastidores de Hollywood – não importa sua importância ou influência. A história de assédio e violência contra a mulher está longe de terminar. Mas este capítulo, doloroso e determinante, aproxima-se do fim.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.