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Depois do peso de Guerra Infinita, Marvel fica leve com novo Homem-Formiga

Roberto Sadovski

27/06/2018 14h57

Sorrir também é permitido no reino da Marvel. Depois de abraçar um filme político e pulsante com Pantera Negra, e de entregar uma aventura trágica e emocionante com Vingadores: Guerra Infinita, o estúdio dá uma guinada no tom e entrega em Homem-Formiga e a Vespa uma comédia de ação divertida, leve e empolgante. É a calmaria antes da tempestade que desaba ano que vem com a conclusão da saga de Thanos no quarto Vingadores. É, também, a prova de que a "fórmula" da Marvel consiste em, basicamente, entregar bons filmes em sequência. O diretor Peyton Reed trabalha aqui em terreno familiar e conta com a caixa de brinquedos do estúdio para fazer um filme que, ao mesmo tempo, funciona como aventura isolada e como parte da grande tapeçaria que é o Universo Cinematográfico Marvel.

As conexões com os outros filmes do MCU são explicadas logo nas primeiras cenas, quando reencontramos Scott Lang ao fim de dois anos em prisão domiciliar, consequência por ele ter auxiliado o Capitão América em Guerra Civil. Faltam apenas três dias para ele cumprir sua sentença quando Lang acorda de um pesadelo em que ele se viu novamente no Reino Quântico, de onde ele escapou após se reduzir a um tamanho subatômico, e onde ele está certo de ter interagido com Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) a mulher de Hank Pym (Michael Douglas), perdida nessa realidade paralela há três décadas. Pym, por sua vez, tornou-se fugitivo ao lado da filha, Hope (Evangeline Lilly), por ter cedido sua tecnologia a Lang. Clandestinos, eles procuram uma forma de acessar o Reino Quântico para resgatar Janet, e percebem que a chave está na mente do ex-ladrão. Para complicar a vida do trio, eles se tornam alvo de um traficante de armas de alta tecnologia (Walton Goggins) e de uma nova vilã, a Fantasma (Hannah John-Kamen), desesperada pela tecnologia quântica de Pym para salvar a própria pele.

Evangeline Lilly como a Vespa é a melhor surpresa do novo filme

A ameaça em Homem-Formiga e a Vespa é consideravelmente menor do que mostrado pela Marvel este ano. Nada de golpes de estado ou de cataclismos cósmicos: são ladrões comuns e antagonistas trágicos em busca de satisfação pessoal. O escopo reduzido tira o peso dos ombros do filme, deixando Reed e sua equipe com espaço para criar uma comédia assumida, envelopada num filme de ação e efeitos especiais incríveis. O modo como a produção intrincada combina com a narrativa cômica prova que a engrenagem da Marvel, com pequenos ajustes, é capaz de se adaptar a qualquer gênero. E o conjunto comédia funciona melhor ainda com o charme irresistível de Paul Rudd, que também assina como um dos roteiristas. Ele sempre acerta o timing das piadas, dispara linhas de diálogo que soariam deslocadas em qualquer outro super-herói e aceita seu papel no grande esquema das coisas com naturalidade desconcertante. Todo o resto do elenco cresce quando interage com ele, do sisudo Hank Pym de Michael Douglas ou acelerado Luis, criação brilhante de Michael Peña.

Como o título já entrega, porém, o show aqui não é inteiro de Rudd. A Marvel tem feito esforço genuíno para ampliar a diversidade em seus filmes, e elevar a importância da personagem de Evangeline Lilly foi a decisão mais acertada. Depois de herdar o traje especial de sua mãe ao fim do filme anterior, ela surge aqui totalmente confortável no papel da Vespa, que ganha poder de voo e de disparar pulsos de energia (ou "ferroadas") e se mostra uma combatente muito mais capaz do que o Homem-Formiga. Por todo o filme, ela não surge como sua ajudante, e sim como sua igual, assumindo os mesmos riscos e dividindo o mesmo tempo em cena. Sem falar que a dupla traz equilíbrio perfeito, com a impulsividade de Lang completada pela mente estratégica de Hope. A longa cena de perseguição pelas ruas de São Francisco, um triunfo no uso de efeitos especiais, mostra o quanto eles estão integrados como unidade de combate.

O sempre elegante Michael Douglas como Hank Pym

A grande adição ao MCU em Homem-Formiga e a Vespa é mesmo Michelle Pfeiffer. Se o filme traz algum revés é o pouco tempo em cena da atriz, vítima da abundância de novos rostos e tramas paralelas na aventura. Mas ela empresta classe e elegância à mulher perdida no Reino Quântico por tanto tempo, que enxerga em Lang a possibilidade de resgate, e faz ao lado de Michael Douglas um dos casais mais bacanas que o cinemão entregou em muito tempo. São pequenos pecados que não comprometem uma aventura tão inventiva quanto divertida – a Hot Wheels, por sinal, ganha chance de ouro em vender um "box especial do Dr. Pym". Bem melhor que seu antecessor, o novo filme é um respiro necessário para encarar o próximo Vingadores, e um lembrete da importância do Homem-Formiga na aventura que chega ano que vem, e que tem ligação direta com este novo filme. Ou seja: nem preciso dizer que ninguém deve perder a espetacular cena pós-créditos. A Marvel é boa em jogar a isca.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.