Topo

Será que Star Wars precisa da volta da animação The Clone Wars?

Roberto Sadovski

20/07/2018 05h06

A San Diego Comic-Con tratou de corrigir um distúrbio inquietante na Força. No painel que comemorou os dez anos de Star Wars: The Clone Wars, série criada por George Lucas que retratava o conflito entre os episódios dois e três da saga, a LucasFilm anunciou a volta da animação em mais doze episódios inéditos, que servem para amarrar a trama, que nunca teve uma conclusão apropriada. O anúncio pegou os fãs de surpresa, já que muitos acreditavam que, depois de a Disney comprar a LucasFilm, o estúdio do Mickey apontaria novas direções, deixando de lado as Guerras Clônicas, um período da saga fortemente ligado à visão de Lucas. Com a continuação da série faturando mais de 1 bilhão por cabeça nos cinemas, além das antologias (Rogue One, Han Solo), o surgimento de Rebels, o anúncio de Star Wars Resistence, a série live action capitaneada por Jon Favreau, a nova trilogia de Rian Johnson e os filmes misteriosos sendo desenvolvidos pelos criadores de Game of Thrones, será que investir em The Clone Wars não seria o famigerado fan service para agradar os devotos mais radicais?

Embora possa parecer o caso, a resposta é que Star Wars precisa de um pouco de nostalgia "do bem". As novas encarnações da série abriram espaço para novos personagens e novas mitologias, amarrando com inteligência a história de alguns heróis clássicos (Han Solo em O Despertar da Força, Luke Skywalker em Os Últimos Jedi) e apontando novas direções para manter a marca Star Wars sempre surpreendente. A recepção morna a Han Solo, porém, mostrou que dar uma nova roupagem a velhos conhecidos é um processo que exige muito cuidado – e não uma produção acelerada e atribulada. The Clone Wars, por outro lado, conseguiu a façanha de dar bem vinda relevância à nova trilogia da saga, que o próprio George Lucas dirigiu entre 1999 e 2005. Embora muitos fãs torcessem o nariz para a jornada ao Lado Negro da Força de Anakin Skywalker, eventos que o levaram a se tornar Darth Vader, a série animada deu ao personagem mais densidade e uma personalidade ainda mais conflituosa, sem nunca esquecer que ele ainda era um herói.

The Clone Wars consiste no período de três anos entre Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith, quando o recém-formado exército de clones da República entra em choque com as forças separatistas do Conde Dookan (ou Dooku no original, você escolhe). A série, portanto, abraça personagens já conhecidos do público. Além de Anakin, vemos o general Obi-Wan Kenobi mostrar todo seu poder como Cavaleiro Jedi, em tramas que traziam outros favoritos como Padme Amidala, o Chanceler Palpatine, Mace Windu e Yoda. Novos personagens também foram apresentados, em especial Ahsoka Tano, que se torna padawan de Anakin, e soldados do exército de clones que ganham personalidade e arcos completos, como o Comandante Cody e o Capitão Rex. Foi em The Clone Wars que o guerreiro Sith Darth Maul mostrou não ter morrido em A Ameaça Fantasma, em uma sequência de eventos que o colocou posteriormente em Han Solo até seu fim definitivo em Star Wars Rebels.

Toda essa mitologia é o tipo de material que deixa o típico fã de Star Wars salivando, e a possibilidade de concluir The Clone Wars – que teve cinco temporadas exibidas no Cartoon Network, com a sexta ganhando espaço na Netflix – se tornou também uma oportunidade para uma turma grande se reconectar com o que os fez se apaixonar pela saga em primeiro lugar. Revisitar a animação também abre espaço para mostrar que a narrativa da criação de Lucas independe de o público já saber o destino dos personagens – uma lição valiosa que Han Solo deixou de lado quando decidiu se concentrar na velocidade da ação. Sem falar no óbvio apelo comercial da empreitada. Os doze episódios que vão amarrar The Clone Wars serão exibidos no futuro serviço de streaming que a Disney está cozinhando para 2019. Será o suficiente para aplacar a fúria de alguns devotos mais radicais, e também um modo esperto de não deixar a saga longe dos holofotes até o lançamento de Episódio IX em dezembro do ano que vem, supostamente encerrando a saga da família Skywalker com direção de J.J. Abrams. Ganham os fãs, ganham os executivos: não existe ponto sem nó no mundo de Star Wars.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.