Tom Hardy pode ter cometido o maior erro de sua carreira com Venom
Poxa, Tom Hardy, ajuda a gente a te ajudar! A essa altura pode parecer implicância, já que eu fiquei com sono com a primeira imagem de Venom e nem um pouco impressionado com seu primeiro teaser. Mas tá ficando difícil. Com o lançamento da aventura já virando a esquina, o estúdio soltou um trailer mais parrudo, que conserta alguns problemas de tudo que foi mostrado até agora, ao mesmo tempo em que cria um oceano de outros, novinhos em folha. Não colou. A sensação de que Hardy cometeu um sério deslize em sua carreira é inevitável. Antes de mais nada, dá uma espiada no novo trailer de Venom. E volta pra se lamentar comigo…
É é isso, um pedaço de O Médico e o Monstro, uma pitada de violência sanitizada para adolescentes, uma dose de Marvel, a marca mais valiosa do cinemão atual, e voilá: temos um anti-herói gosmento e linguarudo, ameaçando devorar o pâncreas de um capanga anônimo. Tudo parece mal amarrado, derivativo e muito, mas muito bobo. A verdade é que Venom é um personagem que envelheceu muito mal, dolorosamente tentando se distanciar da época de sua criação, em que tudo nos quadrinhos era "radical", com mulheres de curvas impossíveis e homens com músculos até na língua. Nos quadrinhos a Marvel já tentou de tudo, mas a verdade é que o monstrengo dificilmente funciona longe do Homem-Aranha – em sua série atual, Venom voltou a ser o repórter Eddie Brock, que já passou por tantas mudanças de personalidade que eu cansei de tentar acompanhar.
Mas talvez eu esteja pegando pesado. Talvez a vantagem de Venom, o filme, seja justamente se despir do universo Marvel (não temos nem o Homem-Aranha neste show) para tentar encontrar uma personalidade que transcenda seu papel como sombra. A história não foi generosa com as tentativas anteriores. Quando o cinema insiste em espremer até o último dólar de personagens clássicos, elevando coadjuvantes a protagonistas, o resultado são martírios como Aço (que não tem o Superman) ou Mulher-Gato (que não tem o Batman). É como ir a uma festa que o convidado de honra sequer dá as caras. Ao menos este novo trailer do filme de Ruben Fleisher (Zumbilândia) revela a criatura em toda sua glória: Venom surge gigante, tentáculos gosmentos ouriçados, com novecentos dentes em sua arcada e uma língua quilométrica. Por outro lado, Tom Hardy continua parecendo desconfortável, indeciso nas cenas de ação e perdido no desenvolvimento do personagem – o humor forçado no fim, quando ele engole um meliante e diz a uma testemunha, já na forma humana, que "tem um parasita", é de doer.
Claro que Venom ainda pode surpreender e se mostrar como uma boa aventura infanto-juvenil – não espere aqui a intensidade de Logan ou a violência gráfica de Deadpool. A aposta do estúdio sem seu principal astro – o Homem-Aranha tem suas aventuras no Universo Cinematográfico Marvel e vai muito bem, obrigado – é este genérico, que ainda precisa de um polimento nos efeitos digitais e reza brava para o tom desconcertado encontrar um foco quando o filme finalmente for liberado para consumo. O curioso é que o mesmo estúdio parece estar fazendo um trabalho brilhante em Homem-Aranha no Aranhaverso, com uma animação absolutamente inovadora e uma versão do Amigão da Vizinhança que pode sobreviver longe dos colegas Vingadores. Venom pode ser um ponto fora da curva. Mesmo que seja um desastre, porém, Tom Hardy ainda tem crédito para experimentar bastante e errar um monte. Afinal, ele fez Mad Max: Estrada da Fúria.
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