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O que estão esperando para dar ao Batman uma nova série na TV?

Roberto Sadovski

08/08/2018 03h01

Batwoman fará sua estreia na TV como parte do Arrowverse da DC. Robin é o protagonista de Titans, série que deve inaugurar o DC Universe, serviço de streaming com o selo da editora. Gotham aproxima-se do final, com Bruce Wayne crescendo em uma cidade tomada por criminosos bizarros, mas dificilmente vestindo seu capuz icônico. É curioso como personagens do universo do Batman continuam a orbitar a programação da DC na TV. Mais curioso ainda é sua total ausência em séries que por mais de uma vez já apontaram sua existência. Por que, então, existe tanta resistência em trazer o Homem-Morcego para o conforto do lar. Porque, vamos ser honestos, foi na televisão que o Cavaleiro das Trevas tornou-se verdadeiramente popular em todo o mundo. Não seria a hora de orquestrar um retorno triunfal?

Ok, eu entendo os argumentos contrários. O Batman ainda é a joia da coroa da DC, único de seus personagens dos quadrinhos capaz de ancorar espetáculos cinematográficos que podem bater em 1 bilhão de dólares nas bilheterias. Mesmo com o fiasco do Universo Estendido DC, seria desonesto colocar o peso do fracasso em Ben Affleck e seu retrato do Homem-Morcego – indiscutivelmente um dos pontos altos tanto de Batman vs Superman quanto de Liga da Justiça. Com o estúdio pronto para investir outros gordos milhões de dólares em The Batman, que Matt Reeves está atualmente cozinhando (e eu nem descarto um retorno de Affleck ao papel), é compreensível que o personagem seja preservado como o filé da DC no cinema. Por outro lado, investir na TV não só ajudaria a aliviar a visão excessivamente sombria do personagem, além de integrá-lo a um universo mais aventureiro e menos… errr… "realista" – coisa que o que o produtor Greg Berlanti tem construído com paciência e talento por quase uma década.

O Batman de Zur-En-Arrh resgatado por Grant Morrison

E o Batman só ganharia ao não se levar tão a sério. Antes de suas aventuras seguirem um caminho rocambolesco e surpreendente com o roteirista Scott Snyder (nenhum parentesco com o…. outro Snyder), o gibi do herói passou um bom tempo nas mãos do genial Grant Morrison, um dos melhores escritores de quadrinhos de todos os tempos. Sua maior contribuição foi enxergar o quanto o conceito do Batman pode ser bobo se levado muito a sério, o que resultou numa série de histórias com influência pesada de gibis dos anos 50, com conceitos absurdos para o "mundo real" que muitos fãs teimam em enquadrar o personagem, como viagem no tempo, realidades paralelas e violência de mentirinha. Ele ganhou até um filho, Damien, um pivete que se acha um adulto, um soldado assassino talhado em um corpo infantil – impossível algo mais estapafúrdio que, mesmo assim, funcionou como relógio no cânone do herói. Como resultado, as HQs do Homem-Morcego ganharam oxigênio e relevância, ao mesmo tempo que não se furtaram em assumir que faziam parte do grande e colorido universo em que habitam os heróis da DC.

Isso não significa que um Batman na televisão fosse mimetizar sua versão galhofeira dos anos 60. Era outra época, com os Estados Unidos mergulhados na Guerra do Vietnã, e a TV cumpria a única função de manter o povo americano entretido e com um sorriso bobo desenhado no rosto. Ter um Cavaleiro das Trevas introduzido no Arrowverse, por exemplo, seria uma ótima maneira de contrapor seu jeitão soturno com o otimismo irrefreável de outros personagens, como o Flash e o Átomo. Na verdade, eu enxergo o Batman na TV como uma versão live action de Liga da Justiça Internacional, gibi que nos anos 80, sob o comando de Keith Giffen, J.M. DeMatteis e Kevin Maguire, misturou ação espetacular com senso de humor apurado, usando um Homem-Morcego carrancudo entre heróis que não se levavam tão a sério. Foi um sucesso arrebatador, um contraponto à tragédia de Crise nas Infinitas Terras e a prova de que não existe um único modo de retratar personagens heroicos dos quadrinhos.

Kate Kane, a Batwoman, estreia no Arrowverse da TV em dezembro

Sem falar que Batman na TV seria como assinar um cheque em branco para os engravatado dos estúdio/emissora/editora. Com um personagem tão poderoso, o orçamento de uma série poderia ser anabolizado para que a produção fosse mais caprichada. Ou será que o Batman não justificaria algo do porte de um Game of Thrones, que está torrando 15 milhões de dólares em cada um de seus seis episódios finais? Culturalmente, o Cavaleiro das Trevas tem tanta importância quanto Star Wars, e a Disney, segundo o New York Times, vai investir 100 milhões de dólares em uma temporada de dez capítulos da nova série produzida e dirigida por Jon Favreau. Arrow, Supergirl, Flash e Legends of Tomorrow certamente cresceriam junto, criando um universo poderoso, lucrativo, ousado e divertido. Vale lembrar que o Superman, numa interpretação acertadíssima de Tyler Hoechlin, surgiu como convidado no começo da segunda temporada de Supergirl. E o mundo não parou de girar com o Homem de Aço cavando seu espaço na TV.

Ainda assim, os donos do dinheiro no canto televisivo da DC não parecem dispostos a parar de dançar ao redor do Batman e puxá-lo de vez para a roda. A atenção no momento está em Batwoman, que será interpretada por Ruby Rose, atriz de olhar magnético que despontou na série Orange Is the New Black, antes de chutar traseiros no cinema em XXX: Reativado, John Wick: Um Novo Dia Para Matar e, ainda essa semana, às voltas com um predador pré-histórico em Megatubarão. A vigilante é a identidade mascarada de Kate Kane, lésbica assumida e lutadora de rua habilidosa que caça a escória de Gotham, que estreia em um crossover entre as séries Supergirl, Arrow e Flash em dezembro. A cota para vigilantes mascarados, infelizmente, deve ficar por aí. "Batman já existe no Arrowverse porque Oliver Queen mencionou seu nome durante a última temporada", diz Mike Pedowitz, presidente da CW. "E a Batwoman, se a série seguir em frente, mora em Gotham, mas não existe absolutamente nenhum plano neste momento para o Batman aparecer." Lágrimas.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.