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A Morte do Superman mostra que a DC faz animações melhores do que filmes

Roberto Sadovski

13/08/2018 18h21

Superman enfrenta Apocalypse. A batalha deixa Metrópolis devastada. Para salvar a todos, o maior de todos os super-heróis comete o sacrifício supremo. É curioso como, mesmo com toda máquina hollywoodiana nas costas, essa mesma batalha, mostrada em Batman vs Superman, não traz um décimo do impacto causado pelo clímax de A Morte do Superman, versão animada da série em quadrinhos criada por Dan Jurgens que se tornou um dos maiores eventos pop do começo dos anos 90. Não é nenhuma surpresa. Há alguns anos os desenhos animados inspirados no Universo DC trazem o tipo de profundidade emocional e ação em grande escala que os filmes com o selo da editora ainda não conseguem reproduzir. Mas poucas vezes a comparação esteve tão explícita quanto o retrato da batalha final do Homem de Aço.

A Morte do Superman versão 2018 (outra versão da mesma história foi lançada também como animação em 2007) é ambientada no universo Novos 52, com conceitos nascidos do reboot que a DC fez em seus quadrinhos em 2011, quase todos descartados com o mais recente reboot, Renascimento. Para o universo das animações, porém, foi um ponto de partida bem bolado para apresentar os personagens a um público novo, além de agradar aos fãs mais tradicionais dos heróis com uma narrativa conhecida. O filme mostra a chegada do alienígena Apocalypse à Terra, uma fera assassina impossível de racionalizar. A Liga da Justiça tenta detê-la, mas logo vê que seu poder combinado não é o bastante. Cabe ao Superman, em um combate que chega às ruas de Metrópolis, derrotar o vilão. Embora sigam cronologia própria, é possível assistir aos filmes sem ter de espiar os anteriores. Nesse caso, entretanto, a experiência fica mais rica ao complementar sessões de Liga da Justiça: Guerra e Liga da Justiça: Trono de Atlântida para entender como funciona a dinâmica dos heróis da editora nessa nova linha temporal – sem falar que são dois ótimos filmes!

Superman é a única esperança na batalha contra Apocalypse

O que parece, por sinal, ter se tornado clichê quando o assunto são as animações da DC: invariavelmente, trazem tramas e personagens mais satisfatórios que suas versões de carne e osso. São filmes melhores, mais redondos, que funcionam tanto como parte de um universo compartilhado como em aventuras-solo. A linha DC Animated, por sinal, não tem um, mas quatro universos compartilhados, além de histórias que se sustentam sozinhas. Além dos filmes claramente inspirados pelos Novos 52, ainda foram lançadas aventuras inspiradas na série de quadrinhos Superman/Batman, no relançamento da Liga da Justiça rebatizada JLA em 2000, nas tramas do Batman escritas por Frank Miller e até um bem vindo retorno ao traço e cronologia da já mítica Batman: The Animated Series. Existem, claro, alguns escorregões, como a inacreditavelmente equivocada adaptação da HQ de Alan Moore e Brian Bolland, Batman: A Piada Mortal, que mirou em diversos temas "modernos" e errou em todos. Mas a grande maioria dos filmes são de tirar o chapéu. Batman Contra o Capuz Vermelho e Liga da Justiça: A Nova Fronteira dão uma canseira até em pequenas obras-primas como a trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan.

O novo A Morte do Superman, embora tenha lá seus defeitos, pende para o lado bom da balança. A animação é repetitiva, e às vezes o senso de escala não acompanha sua ambição. Mas os diretores Sam Liu e James Tucker, trabalhando com um roteiro do veterano das HQs Peter J. Tomasi, fazem da aventura algo que Zack Snyder e centenas de milhões de dólares não conseguiram: um filme intenso, capaz de equilibrar ação com desenvolvimento de personagem (Clark Kent aqui tem um arco dramático tão importante quanto o de seu alter ego) e, acima de tudo, extremamente divertido. Mais ainda, a aventura entende exatamente a personalidade do Superman e, mesmo com um tema trágico (o título é auto-explicativo, convenhamos), nunca apresenta um herói sombrio ou pessimista – ao contrário da caricatura desenhada por Henry Cavill em seus três filmes como o Homem de Aço. Sem falar que A Morte do Superman deixa um gancho muito mais orgânico para a continuação e sugere uma conclusão para a saga ainda mais bombástica – O Reino do Superman sai ano que vem.

Nem o poder combinado da Liga da Justiça é o bastante para deter o monstro

Um dos argumentos mais repetidos pelos fãs dos quadrinhos da DC é por que o cinema não aproveita essas equipes que desenvolvem os longas em animação para fazer o salto para live action. Não funciona assim. A estrutura de um roteiro para animação é radicalmente diferentes das demandas de uma produção hollywoodiana, assim como o que funciona nas páginas dos quadrinhos nem sempre se traduz para outras mídias. Filmar um script de desenho animado, portanto, não funciona com atores de verdade. Mas já acho um avanço encontrar nos filmes com o selo DC Animated o tipo de história que coloca heróis com oito décadas de criação em aventuras empolgantes bem dentro do novo século. No fim, é isso que importa: boas histórias. Em tempo, A Morte do Superman chega ao Brasil somente em formato digital, privando os colecionadores em ter a mídia física. Uma decisão inexplicável se a ideia é fazer com que essa e futuras aventuras alcance um público digno do Superman.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.