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James Gunn em Esquadrão Suicida: vacilo da Marvel, golaço da DC

Roberto Sadovski

10/10/2018 03h10

Essa a gente pode arquivar na gaveta de "notícias que não surpreendem". James Gunn está em negociação para escrever, e possivelmente dirigir, uma sequência de Esquadrão Suicida para a DC. Desde que foi ejetado de Guardiões da Galáxia Vol. 3 pela Disney, possivelmente a decisão mais equivocada da história do estúdio do Mickey, Gunn parou de se manifestar em redes sociais e ficou na dele. Fãs esperavam, em vão, que a demissão fosse revertida, mas os executivos do estúdio foram irredutíveis, mesmo cientes de que as acusações contra o cineasta não faziam o menor sentido. Ele levou um bilhete azul depois que um blogueiro de extrema direita desenterrou uma série de tuítes publicados uma década antes, quando Gunn se considerava um artista mais provocador e polêmico, e pelos quais ele já havia se desculpado em 2012. Com a pulada de cerca para o quintal da concorrência, a Marvel perde, a DC ganha uma sobrevida e os fãs, sem a menor dúvida, saem ganhando.

Esquadrão Suicida pode ser o veículo perfeito, até por ter sido concebido para o cinema como resposta justamente a Guardiões da Galáxia. A intenção original era criar uma aventura com a equipe formada por vilões da DC, equilibrando uma visão sobre esse lado sombrio com o absurdo de transformar bandidos em heróis. O tom inicial na mira do diretor David Ayer era justamente as risadas nervosas que surgem quando dois de seus jogadores são o Coringa e a Arlequina, combinados com um elenco de personalidades conflitantes. O resultado, porém, foi um desastre. Ayer bateu de frente com uma muralha de executivos que basicamente sequestraram seu filme durante a edição, substituindo o desenvolvimento dos personagens e suas conexões mais complexas por um oba-oba colorido e confuso, em que a lógica do roteiro foi jogada pela janela, substituída por uma série de montagens que, para os olhos de um moleque de 12 anos, poderia ser "radical". Esquadrão Suicida é um paradoxo: faturou 750 milhões de dólares mas foi eviscerado pelos críticos, renegado por seu diretor e considerado tóxico pelo estúdio.

Não espere essa turma na versão de James Gunn para o Esquadrão Suicida

Quando James Gunn foi demitido pela Disney, era questão de tempo até a concorrência bater em sua porta. E não é apenas o caso de um profissional trocando um projeto pelo outro. Parte do enorme sucesso do Universo Cinematográfico Marvel estava nas mãos de Gunn, não só como mentor de Guardiões da Galáxia, mas também como consultor nos bastidores e produtor executivo de Vingadores: Guerra Infinita. A Marvel depositara em suas mãos o futuro do MCU após a conclusão da Saga de Thanos em 2019, ampliando os horizontes cósmicos do universo compartilhado, apresentando novos personagens e novas ameaças, e imprimindo um tom pop, emocionante, acelerado, melancólico e divertido ao Senhor das Estrelas e cia. Sua demissão jogou areia na engrenagem da Marvel, que ainda não anunciou seu futuro no cinema depois de 2019 – como muita coisa estava nas mãos e na mente de Gunn, um plano B teve de ser acionado. E o terceiro Guardiões da Galáxia, com roteiro pronto e produção na linha de partida, foi para o estaleiro.

Se sua ida para a DC se concretizar, é a chance concreta de criar alguma coesão depois do fiasco de seu Universo Estendido, a rigor sepultado depois de Liga da Justiça. Desde o começo do ano, os novos cabeças da Warner tentam colocar ordem na bagunça, e os resultados aos poucos são mostrados. Aquaman, como mostrado no último trailer, trocou as sombras e o clima de desgraça por mais cores, mais luz, mais humor e uma estrutura que parece espelhar a concorrência. Shazam!, o próximo na linha de montagem, é uma aventura infanto-juvenil que parece abraçar ainda mais o humor – finalmente os produtores aprenderam que humanizar seus personagens cria uma conexão emocional mais verdadeira com a plateia. Mulher-Maravilha 1984 parece ter rompido todos os laços com o UEDC, ignorando informações apresentadas em Batman vs Superman (como o fato de ela ter se desligado da humanidade por um século após a Primeira Guerra Mundial) ao ambientar o novo filme nos anos 80. Os filmes da DC além desse ponto parecem apostar em aventuras fora dessa cronologia, como Coringa, de Todd Philips, ou Aves de Rapina, que encontra-se em pré-produção.

Dave Bautista só está esperando o telefone tocar para mudar de time

Daí entra em cena o fator tempo. Aves de Rapina, que traz Cathy Yan como diretora, tem como protagonista a Arlequina interpretada por Margot Robbie, o que deve morder um tempo considerável na agenda da atriz. Um novo Esquadrão Suicida teria de amargar um bom par de anos em desenvolvimento para contar com sua maior estrela. Mas o The Wrap, que revelou a negociação de James Gunn com a Warner, apontou que um novo filme começaria do zero, abraçando a visão e os conceitos de Gunn sem uma incômoda preocupação com continuidade. Funcionou com Guardiões da Galáxia, que operou em dois filmes mantendo distância do resto do MCU. Pode funcionar aqui, já que nos quadrinhos várias equipes com a denominação Esquadrão Suicida foram apresentadas: o conceito que permanece é juntar vilões para missões sujas, sangrentas e amorais, que o Batman ou o Superman não chegariam perto. Pode ser o ponto de partida perfeito para uma nova série ainda mais ousada que Guardiões, já que Esquadrão é, por natureza, mais violento e exagerado. Sempre existe o risco de executivos meterem o bedelho, mas com confusão com os filmes da DC nos últimos anos, talvez seja melhor entregar as chaves do reino para Gunn e sair de seu caminho.

Claro que isso é definitivamente a pá de cal no relacionamento de James Gunn com a Disney. A essa altura, contar com seu retorno era só um fiapo de esperança alimentado por alguns fãs e, principalmente, por Dave Bautista. O intérprete do brutal Drax simplesmente não se conformou com a decisão da Disney e já deixou bem claro que, se possível, ele adoraria ser liberado de seu contrato para Guardiões da Galáxia Vol 3. Mesmo que a Marvel já tenha sua agenda planejada pelo menos pela próxima década (alguém mais esperando a revelação do título do quarto Vingadores?), perder uma voz criativa tão brilhante, calada pela manipulação de um ativista da extrema-direita, é um golpe e tanto. Os fãs do cinema pop, por outro lado, só têm motivos para comemorar, já que é a chance de finalmente o universo DC nos cinemas entrar nos eixos definitivamente. E eu aposto que Bautista terá lugar nesse novo Esquadrão Suicida – a notícia sequer esfriou e o ator já se colocou à disposição do amigo pelo twitter. Quem ele poderia interpretar? O Parasita? O Garra, da Corte das Corujas? O Mão Negra? Que comece o jogo da especulação!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.