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Murilo Benício em O Beijo no Asfalto: “Paguei o filme com meu dinheiro”

Roberto Sadovski

19/12/2018 05h45

Está chovendo na sala da casa de Murilo Benício. Não é metafórico, não é uma alegoria: é chuva literal. O ator e agora diretor está há 4 anos reformando sua nova casa no Rio, e o telhado deu trabalho quando a cidade foi atingida pela estação de chuvas. "Aprendi que é mais difícil reformar do que começar do zero", conta. "Eu queria um certo terreno em um certo lugar, já tinha uma casa e eu decidi construir em cima do que já estava lá. Dá mais trabalho, mas é a vida."

Em sua estreia como diretor, a adaptação de O Beijo no Asfalto, peça clássica de Nelson Rodrigues, Murilo também pegou uma base sólida e construiu suas ideias em cima dessa fundação. Sem formação formal em cinema, sem uma escola de direção, ele participou de todas as etapas durante todo o processo, um diretor curioso e com vontade de aprender sobre a engenharia do cinema. O principal ele já tem: uma visão muito clara do filme que queria fazer. O Beijo no Asfalto, que traz Lázaro Ramos, Débora Falabella e Stênio Garcia, é um filme que tem prazer em ser filme, com Murilo Benício usando o texto para descortinar o processo de criação, o estudo das palavras, a criação da narrativa, usando para isso performances poderosas também de Fernanda Montenegro e Amir Haddad. A história de um homem que beija um estranho na rua, que acabou de ser atropelado e morre em seus braços, diz muito sobre preconceito, sobre histeria, sobre o poder da mídia e a ignorância do próximo. Benício montou seu filme como uma leitura de roteiro, seu elenco discutindo o texto em uma mesa, ao mesmo tempo em que retoma a narrativa de forma mais tradicional, não raro quebrando a cena ao se afastar da ação, revelando que tudo também não passa de teatro. É fascinante!

Eu sentei com Murilo para falar sobre O Beijo no Asfalto, e o papo terminou respingando sobre seu fascínio pelo cinema, sobre o futuro da arte no novo Brasil que chega ano que vem, sobre arquitetura, sobre televisão, sobre seu próximo filme, a comédia Pérola. E, principalmente, sobre paixão, sobre um ímpeto criativo que fez de O Beijo no Asfalto uma obra única, um filme surpreendente, tenso e emocionante, mesmo com um texto que todo brasileiro que gosta de arte conhece de olhos fechados. É, sem exagero, o melhor filme nacional do ano, o melhor em anos, na verdade. E marca o nascimento de um talento atrás das câmeras que, se depender de seu entusiasmo, ainda terá muitas histórias para compartilhar.

Lázaro Ramos como o protagonista de O Beijo no Asfalto

Por que Nelson Rodrigues hoje?
Pois é, essa pergunta eu não vou saber te responder. Eu pensei nesse projeto no começo do século, em 2000, 2001. Na época eu comprei os direitos, dinheiro meu, estava bem animado pra fazer. Fui na Petrobrás, vendi o projeto, se empolgaram, iam patrocinar. E eu pensei, "Maravilha, vou estrear". Mas daí eu não lembro o que houve naquele ano, parece que a Petrobrás tinha prometido mais do que podia, então tirou 50 por cento de cada projeto que ia bancar. Isso me deixou tendo de ir na praça atrás dos outros 50 por cento, mas eu entrei em uma novela, e daí você dá adeus, dá tchau pros parentes. Deixei de fazer, perdi os direitos, fiquei frustrado e dei uma largada. Depender de dinheiro é complicado, e pedir dinheiro é uma coisa tão chata… (risos). Comprei os direitos de novo, não consegui vender de novo.

Mas nada de desistir.
Nada! Vou te dizer, eu conhecia as histórias de atores malucos. Quando a Maria Padilha me disse que colocou um apartamento numa peça, eu disse que ela tinha de ser internada! Mas, pra você ver, no fim, eu paguei. Fiz com meu dinheiro.

É um investimento de risco, mas como artista era algo que você precisava realizar?
Eu acho que sim. De repente ficaria muito mais caro se eu ficasse com uma frustração. Ela não tem tamanho, a gente fica assombrado pela dimensão do que aquilo poderia ser.

Achei curioso, vendo o filme agora, no fim de 2018, depois de tudo que o ano nos deu, as últimas falas da Fernanda Montenegro, dizendo que "a gente sempre resistiu e vamos continuar". Como estava sua bola de cristal quando você desenvolveu o filme?
(risos) Infelizmente a gente teve essa sorte, e é muito louco. E olha que eu montei o filme muito antes de todo esse cenário político. O filme passou na Mostra (de Cinema) de 2017! Eu estudo teatro desde os 11 anos de idade, e desde então eu conheço a diversidade, conheço pessoas diferentes. Acho que minha cabeça já foi pra um lugar bom. Moro na Zona Sul do Rio de Janeiro, então um beijo na boca entre dois homens não é nada. E aí a gente vê essas notícias, de gente apanhando na rua, e eu pensei que a gente tem uma turma aí esquisita. Sei lá. Simetria.

O texto foi escrito há muito tempo e ainda tem tantos elementos que não envelhecem. Truculência policial, imprensa tendenciosa. Parece que as pessoas querem tirar uma rava que está no armário…
Eles só não tinham a tecnologia. De resto, o ser humano não mudou em nada. Para o bem e para o mal.

O elenco discute o texto, como deuses observando o cotidiano

Quando eu li pela primeira vez que você ia adaptar O Beijo no Asfalto, pensei em um filme tradicional, história linear. Mas nunca imaginei essa mistura que você bolou. O que você tinha em mente quando começou a desenhar essa que seria sua versão?
Eu lembro que…. Bom, eu comecei no teatro aos 11 anos. Só fui ter minha primeira oportunidade de fato aos 22, ganhando dinheiro com isso. Era muito estudo e era muito frustrante. Chega um momento que não sabemos se alguém vai nos dar uma chance, se alguém vai nos ver… se vamos passar em branco! O estudo nunca para, e as pessoas na época acharam que eu era vagabundo por fazer teatro. Então eu tive esse sentimento em mostrar o que é o trabalho de um ator, a seriedade do processo. Não é só pegar um texto e ler. Por isso que eu chamei o Amir (Haddad), porque ele tem essa precisão de dar dimensões diferentes em uma frase que ele diz. Uma frase e a gente entende a geografia da peça e o peso de cada ação. Eu vejo muito filme, mas muito filme mesmo. E quando eu gosto de um filme, eu compro e a primeira coisa que eu faço é ver os extras, pra entender como o cara fez aquilo. Aquela cena. Mas não é um interesse só meu, muita gente tem vontade de ver o processo. Não do set, mas até o que vem antes do set.

A decupagem é muito curiosa, a montagem também, misturando esse lado por trás da cortina com a ação mais tradicional. O que te informou para decidir o que funcionava melhor em cada formato?
Olha, eu na minha noção do quanto que eu não sei (risos) e do medo de chegar num set sem saber o que fazer, eu desenhei o storyboard de tudo. O filme que eu tô fazendo agora, Pérola, já tem um livro de storyboards com mais de 500 desenhos. Eu nunca ficava perdido, e era algo que eu pensava muito em casa. Em casa eu tinha tempo, no set não. Agora, a mesa foi um mistério. Era solta. Chamei o Amir, chamei a Fernanda (Montenegro), e disse que eles tinham liberdade pra parar a qualquer momento, para pontuar a qualquer momento sua impressão sobre o Nelson. E aí é montagem. Só de mesa a gente tinha 4 horas, e essa seleção foi cruel. Entender como sair de uma cena e voltar pra mesa sem perder o ritmo também foi um processo. A mesa eram os deuses! (risos) Até o momento, no final do segundo ato, que eu volto à mesa e ninguém fala nada. Como se as pessoas na mesa fossem testemunhas da história que estava se desenrolando.

Eu gosto muito do modo como você usa o silêncio como ferramenta narrativa, quebrando um pouco a verborragia de muitos filmes feitos no Brasil…
Mas aí também entra o lado do ator veterano. Eu usei o que eu acho que funciona na atuação. Acho que meu maior ganho como diretor não é um enquadramento ou uma grua, isso eu sei que as pessoas fazem muito melhor do que eu. (risos) Eu acho que sei falar com os atores, direcionar os atores pra um lugar. A gente vive uma falta de comunicação muito grande de diretor como ator. Acho que no mundo inteiro deve ser assim. E é onde eu vivo! Se algum ator tinha alguma dúvida eu consigo reconhecer aquela dúvida em mim, em algum momento de minha carreira. Então eu tive a segurança pra apontar um caminho.

E você se colocou muito de lado, mesmo em cena, você está como observador. Como ator e como diretor foi muito difícil não se colocar na frente do holofote?
Foi fácil, eu detesto me ver! (risos) Essa é uma das grandes coisas que eu descobri dirigindo. É uma obra minha que eu não vou me ver em nenhum momento! Eu nem precisava aparecer ali na mesa, a Fernandona só foi naquele dia. E ela quase não fez! Entrou em uma novela das oito, e já é uma senhora, tava exausta. Então eu pedi uma tarde, achei que fosse certo estar ali com ela, como um cavalheiro. Eu ficava no canto vendo as câmeras, falando com o (diretor de fotografia) Waltinho (Carvalho), dando umas instruções. E dava pra cortar tudo isso.

Por sinal, que time que você montou!
E você sabe o que é mais legal? Fizeram por nada, fizeram pelo projeto. Isso é mais do que montar um time, os atores têm essa vontade de fazer Nelson Rodrigues. Mas foi muita sorte encontrar pessoas com vontade de fazer. A primeira pessoa que eu chamei pra fazer foi a Débora (Falabella). A gente tava na escada do cenário do Tufão, em Avenida Brasil, esperando uma cena. E eu joguei um "Você faz meu filme?". E ela, "Faço". Ela falou com uma segurança que eu não tinha! (risos) Achei essa confiança tão legal que me deu esse gás pra seguir com o projeto.

Sua carreira é mais marcada por televisão, por novelas. Mas parece que chegou o momento em que a própria Globo parece expandir os limites atuais da TV, investindo em novos formatos. Dentro da TV, tem sentido esse movimento? E como você se insere nisso?
Olha, eu não tenho previsão de fazer nenhuma série no momento. Eu estava escalado pra uma novela que foi adiada, então devo estar ano que vem nisso. O carro-chefe da Rede Globo ainda é novela, isso ainda não mudou. Mas eles também sabem que é preciso investir nesse novo tipo de séries porque senão ela será atropelada. Isso porque a Amazon ainda nem chegou com suas séries! Tem outros a caminho, nunca teve tanta oferta no mercado. A gente tem de batalhar pra não perder esse mercado, e a Globo tem um desafio incrível em manter uma qualidade absurda e entrar nesse mundo. Eu ainda não pensei em dirigir lá. Eu penso assim, novela é um exercício de frustração. O diretor faz trinta cenas, alguma coisa ele vai jogar fora. Ainda estou muito no começo pra jogar tudo fora. E gosto de desenhar cenas, ainda não pensei em dirigir na Globo.

Muitas vezes o cinema brasileiro anda numa velocidade ditada pelo orçamento que fica disponível, e eu tô aqui ouvindo você falar em preparação, em chegar ao set sempre pronto. De onde veio essa percepção de que você precisava estar mega afiado nesse novo trabalho?
Medo. (risos) Puro medo. Chegar lá, ter o Walter Carvalho como fotógrafo, ele perguntar o que é pra fazer e eu não saber? Não dava, não queria me colocar nessa situação. Se isso acontecesse de repente eu jamais voltaria a filmar. Uma coisa que eu fiz com o Beijo e eu fiz com o Pérola, na primeira reunião da equipe eu disse, "Olha, gente, a melhor ideia leva!". Eu tenho todo o filme desenhado na cabeça, mas se alguém pintasse com uma ideia melhor, eu faria essa ideia. A gente nunca sabe de onde vem as melhores ideias. Foi por isso que o Beijo seria feito em estúdio, e o Tiago, que era assistente de direção, sugeriu que a gente rodasse tudo em um teatro. E foi a melhor ideia!

Você sentiu a equipe mais envolvida?
Acho que mais envolvida, mais respeitada, as pessoas se sentem mais importantes dentro do processo.

Você fez recentemente O Animal Cordial, que já tem uma pegada diferente no panorama do cinema nacional. O que você gosta de consumir?
Tudo! Tudo, até aqueles filmes americanos que eu vou sabendo o começo, meio e fim. E é ótimo! Tem filme que eu vou pensando na pipoca com Coca-Cola. Mas chego a sincronizar a mordida pra não atrapalhar ninguém no cinema. (risos) A gente precisa ter essa gentileza com os outros. A gente tá vivendo um complexo de vaga-lume no cinema, tudo acendendo no escuro! Meu irmão é médico e cinéfilo. Eu estava uma vez em Nova York e veio aquele aviso de desligar o celular, porque a luz também atrapalha. Eu filmei e mandei pra ele! Será que as pessoas não percebem que é proibido? Ou que incomoda? Eu acho que devia ter uma chapelaria e ninguém poderia entrar com celular no cinema.

O Alamo Drafthouse, em Austin, tem essa política de tolerância zero, se alguém ligar o celular, é convidado a se retirar.
É como a Broadway! Se alguém liga o celular, já tem uma lanterna na cara! Se acender de novo, sai. Parece que o povo gosta de ser tratado assim. Sabe que, anteontem, eu fui ver o filme novo do Spike Lee. E é chato ver quando é inocência mesmo. Tinha um casal do meu lado, 18, 19 anos. Pela agitação, eu percebi que era segundo, terceiro encontro. Aqueles papos de querer se conhecer. Daí começaram os trailers, e eles lá. De repente começou o filme e eles continuaram. Aí, rapaz, eu não gosto de me indispor com ninguém porque eu me sinto mal em causar o clima. Eu levantei com minha coca e com minha pipoca, dei uma espiada, não tinha outro lugar. Sessão das 9 da noite no sábado, lotada. Sentei de novo, 20 minutos e nada de eles pararem. E eu não aguentei. Falei, "Cara, eu não quero atrapalhar o encontro de vocês, mas vocês estão falando o tempo inteiro!". O menino fez uma cara tão sem graça, eu me senti tão mal com aquele constrangimento que eu causei, que eu levantei e fui embora! Acabou pra mim! Cinema é uma energia, tem de estar nessa energia, compartilhar essa energia.

Profissão, diretor: Murilo Benício orienta seu time em cena

Você tem histórias que tenha vontade de contar como diretor que fujam do padrão do que é esperado no cinema nacional? Explorar outros gêneros, outras ideias. Nelson Rodrigues, claro, é básico pra quem trabalha com arte no Brasil…
Era um pouco isso. A gente infelizmente vive numa sociedade de esquecimento. Ninguém conhece Nelson Rodrigues, a não ser quem está envolvido com cultura, alguém que estude teatro. Mas um aluno numa escola de ensino médio dificilmente sabe quem é Nelson. No começo eu tinha vontade de ter sessões em escolas. Não pra ver o meu filme, mas pra essa geração entender que cara é esse que a gente tem e que a gente esquece. Agora, eu admiro muito o Kubrick. Parece que cada filme foi feito por uma pessoa diferente. Isso que me interessa! Não sei que direção é essa. Eu quero fazer diferente, sempre. Pérola é totalmente diferente do Beijo, é um filme colorido, é um filme engraçado, leve, que tem esse universo meio Almodóvar.

O que te emociona?
Olha….. Eu fui ao cinema numa sala VIP, menos pelo conforto e mais pela distância das outras pessoas, pra ficar imerso no filme. Mas um senhor atendeu o telefone atrás de mim, veio com aquele "Não posso falar, estou no cinema", e eu fiquei em pânico pra ele não destruir minha sessão! Mas deu tudo certo e eu amei o filme, que era Manchester à Beira-Mar. Amei, a atuação do Casey Affleck é maravilhosa, milimétrica. E eu sou um cara que chora muito, quando eu tô sozinho no cinema eu aproveito pra chorar. Tem que me mover de alguma forma. Gostei muito também de Brooklyn. É de uma… é tão… é foda fazer aquilo. É sutil, emocionante. É bonito.

Você sente falta dessa sensação quando vê filmes feitos aqui?
Eu sinto falta de uma coisa que eu não sei se é coisa de brasileiro, se é uma tendência mundial, mas as pessoas correm pra fazer o que está dando certo, sem saber se elas podem fazer aquilo ou não. Por isso que a gente destrói tanta coisa, por isso que o besteirol no Rio de Janeiro foi destruído. Quando deu certo, era muito genial. Daí acharam que era simples, era subir no palco e falar qualquer coisa. Comédia dá certo? Então todo mundo faz comédia. Claro que vai surgir muita coisa ruim. E o público começa a enjoar. A gente precisa entender o que temos dentro da gente pra contar. Precisamos ser verdadeiros, trabalhar com o que faz parte de nosso universo. Faz o que você acredita, é o caminho mais curto para o sucesso. Vai ter tanta verdade que a possibilidade de acontecer é bem maior porque, sei lá, dá dinheiro.

E o que fez você se apaixonar por Pérola?
É a comédia que eu gostaria de contar. Ela emociona, a minha montadora diz que chora em alguns momentos. Então é sobre os personagens. Às vezes a gente força falas na boca de personagens porque é engraçado, mas não é natural. Então o que estamos fazendo é contar a história. Nela, enxergar o humor. A gente constrói a estrutura e depois pinta como quiser, a estrutura é sólida. Eu queria estrear no Dia das Mães, é o sonho. Estou terminando de montar, depois vem a mixagem. Vamos ver.

Como fica a arte agora que a perspectiva para o futuro começa a ficar um pouco nublada? Você tem conversado sobre o futuro com as pessoas com quem você convive? Como está hoje o espírito do artista?
Cara, eu tenho a sensação que as pessoas estavam mais tensas antes do que agora. Mas é muito preocupante. Só que eu volto à frase: sobreviveremos sempre. O teatro pode sofrer mais, mas a Netflix não vai deixar de investir, a Amazon não vai deixar de chegar, a Apple também vai entrar no jogo. As coisas estarão acontecendo. Não sei onde será mais atingido, é um momento de apreensão… Eu fico pensando às vezes que, hoje, acho que todo mundo tem de ser Bolsonaro, no sentido de todo mundo tem de torcer pelo Brasil. A campanha acabou, precisa dar certo, ponto final. Mas o mais interessante de toda a trajetória do Bolsonaro foi a gente descobrir quem é o brasileiro, de verdade, que a gente fala no Beijo. Quem somos de verdade? Entender é importante. A gente achava que tudo era Ipanema. E não é. É bom a gente saber. E tem mais: todo mundo na família tinha alguém votando ali. É muito próximo, são pessoas do nosso lado.

A impressão é que gostar de arte ou de cultura é algo muito ruim para certas pessoas…
Eu falo pros meus filhos que a única coisa que eles têm de ficar atentos na vida é o que eles querem fazer. Porque a maioria das pessoas espera cinco dias para viver dois. Quase ninguém gosta de trabalhar, e a gente tem esse estigma no Brasil que trabalhar é ruim. Tem um cara em um noticiário que grita "Graças a Deus é sexta-feira!", e eu acho isso um absurdo! Passa a impressão que trabalhar é uma merda! As pessoas infelizes no trabalho têm raiva da gente, tem raiva de quem é feliz trabalhando. É um mundo completamente diferente, mas é a gente que faz esse entretenimento. É o Caetano que cria as músicas que a gente gosta de ouvir, e não é o cara que acha um saco trabalhar.

Alguma vez você já pensou no que faria se não trabalhasse com arte?
Sabe que, depois de adulto, eu me apaixonei por arquitetura. Amo arquitetura! Pra fazer a minha casa eu chamei um arquiteto, muito amigo meu, que teve a generosidade de transformar em projeto um rabisco que eu fiz. Então a minha casa foi bolada por mim, e ele fez tudo. Me disse o que ficava cafona, o que não ficava com cara de caixote. Mas 90 por cento foi meu desenho! Acho incrível arquitetura. Por isso que eu faço tanta obra em casa. (risos)

Qual sua lembrança mais antiga no cinema?
Olha…. Cinema é muito mais do que um filme, é uma emoção. Eu nunca mais vou esquecer quando eu vi E.T., na hora da bicicleta eu levantei, eu e o cinema inteiro. Isso foi em 1982 e eu nunca esqueci. Essa emoção que você carrega. E eu lembro que o meu irmão ficou com vergonha de sair comigo porque eu tava inchado de chorar. A gente esperou a outra sessão começar pra sair no meio.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.