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Hobbs & Shaw promete um retorno ao tempos gloriosos das duplas policiais

Roberto Sadovski

01/02/2019 12h23

Riggs e Murtaugh. Carter e Lee. Lowrey e Burnett. J e K! O cinema está recheado de grandes duplas policiais, sujeitos de personalidades opostas obrigados a trabalhar juntos para o bem maior. Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw entra em cena com a missão de cravar mais uma dupla no panteão das parcerias inesquecíveis. E o filme chega com uma vantagem: como o título já entrega para os desavisados, o novo filme, dirigido com o medidor de testosterona no 11 por David Leitch (Atômica, Deadpool 2), é um spin off esperto de Velozes & Furiosos, série de ação que, como Jason Voorhees, recusa-se a seguir o caminho do dodo. Hobbs & Shaw, que traz Dwayne Johnson e Jason Statham medindo músculos e bordões, é um novo ponto de partida, a tentativa em expandir um universo que o público sequer imaginava existir.

"Quando rodamos a fuga da prisão em Velozes 8 percebemos que havia algo muito especial com esses dois", diz Chris Morgan, roteirista de Hobbs & Shaw e dono da caneta na série desde Velozes & Furiosos: Desafio em Tóquio, que papeou comigo pouco antes do lançamento do trailer. "Dwayne é a força irrefreável, Jason é mais preciso e táctil, eles são tão diferentes que surgiu a necessidade de criar uma aventura em que eles fossem OBRIGADOS a trabalhar juntos." Morgan explica que os outros filmes da série, mesmo com um elenco cada vez mais numeroso, sempre teve em Dominic Toretto seu foco principal. "Mas eu queria ver o que cada um deles faz entre as aventuras que mostramos nos filmes", continua. "O que Letty faz, o que Roman faz. E, principalmente, como é a vida de Hobbs e Shaw longe daquele ambiente, com suas próprias famílias e origens e preocupações." Ou seja: nada de Vin Diesel, nada de drinking games sempre que alguém menciona "família".

Hobbs e Shaw não se suportam, mas PRECISAM trabalhar juntos!

A execução dessa vontade ficou nas mãos de David Leitch, que construiu sua carreira como coordenador de dublês, antes de co-dirigir John Wick: De Volta ao Jogo, com Keanu Reeves, e assumir o comando de Atômica e Deadpool 2. "David esteve por trás da criação de muitas coisas que definiram o cinema de ação moderno – ele trabalhou em Matrix", empolga-se Morgan. "Às vezes ele chegava no set e arrebentava em uma cena de ação, mas sem nunca esquecer o desenvolvimento e a emoção de seus personagens. Mesmo já tendo feito dois filmes enormes, David tem essa vontade de entregar algo novo." No caso de Hobbs & Shaw, o trailer já sugere (ou melhor, grita no topo de uma montanha) que a plateia pode esperar um passo além da ação já absurda e exagerada mostrada em Velozes & Furiosos, desde que a série passou de um drama sobre corridas urbanas, passando por filme de roubo, e chegando em verdadeiras aventuras de super-heróis, com carros envenenados e motoristas endiabrados no lugar de super poderes.

Hobbs & Shaw coloca seus protagonistas ante uma ameaça perigosa o bastante para fazer com que eles deixem suas diferenças de lado – materializada no vilão interpretado por Idris Elba, Brixton, que experimenta aperfeiçoamentos cibernéticos em seu corpo, o que o tornam à prova de balas, super forte e quase invulnerável. "Minha regra para escrever esses filmes é nunca esquecer ação espetacular e personagens críveis", continua Morgan. "A ação precisa ser exagerada e divertida. Existe um limite para a plateia embarcar nos absurdos que esses filmes trazem, e meu trabalho é nunca ultrapassar esse limite. A plateia tem de torcer pelos personagens e nunca rir deles, tem de acreditar que o impossível é possível sem se desligar da história. Quando conseguimos isso, dá para exagerar!" A ferramenta, claro, são os personagens: "A trama sempre gira em torno do que eles sentem, então eles precisam acreditar no que eles dizem. Se eles acreditam, a plateia acredita".

Jason Statham é orientado pelo diretor David Leitch

Pelo que Hobbs & Shaw mostra em seu primeiro trailer, o público terá muito para absorver e acreditar. Mas a química entre Dwayne Johnson e Jason Statham ajuda a abraçar as cenas de ação que desafiam as leis da física. Uma ferramenta óbvia – que acompanha os filmes de duplas policiais desde pelo menos o neoclássico 48 Horas -, é o humor. Em pouco menos de três minutos, somos borbardeados com uma avalanche de bordões que deixaria Arnold Schwarzenegger orgulhoso. "Todo o processo é uma grande colaboração, todos sabem como esses personagens funcionam", continua Morgan. "Eu coloco tudo no roteiro, David, Dwayne e Jason tem suas próprias ideias, e às vezes a mágica acontece no set. A melhor ideia sempre vence!"

Chris Morgan jogou sua ideia na série com Desafio em Tóquio, e a ideia da expansão da série começou bem no fim do filme de 2006, quando o personagem de Lucas Black encontra Dom Toretto. "Eu entrei na série como fã, e desde o começo eu queria trazer Vin e Paul de volta, juntos", lembra. "A cena no fim do terceiro levou à criação de Velozes 4, que por sua vez possibilitou a mudança de tema, de corridas urbanas para heist movie, no quinto." Tudo, para Morgan, volta ao sentimento que a aventura original trouxe. "Eu adorei que era um grande filme de ação com o coração de uma família, e eu quis que a plateia se sentisse parte dessa família", conclui. "E acho que esse sentimento é o que faz Velozes & Furiosos funcionar."

Statham, Idris Elba e Dwayne Johnson: trio casca grossa

Antes de terminar o papo, não resisto cutucar Chris Morgan, fã de cinema, sobre um de seus roteiros não produzidos, que me parecia trabalho de alguém apaixonado pelo tema: A Lenda de Conan, que traria Schwarzenegger de volta como o bárbaro da Era Hiboriana. "Conan, o Bárbaro é um dos filmes mais importantes da minha vida", empolga-se o roteirista. "Muita gente subestima o trabalho de (John) Milius, mas ele dirigiu um filmee complexo e único." Morgan recebeu o convite para escrever A Lenda de Conan e deixou sua mente voltar no tempo. "Tudo sobre o Conan original, sobre desenvolvimento de personagens, sobre narrativa, são parte do meu trabalho hoje", continua. "Seria uma história três décadas depois daquele filme, uma continuação direta que traria Arnold no mesmo registro de antes. Ainda tenho interesse em retomar o roteiro, em ver ele tomar vida, mas é uma questão de direitos que o estúdio precisa resolver antes de a gente seguir em frente." Quando eu digo que o diretor da trilogia Como Treinar Seu Dragão, Dean DeBlois, usou a série em quadrinhos A Espada Selvagem de Conan como base para criar seu mundo de fantasia, e que adoraria criar uma nova aventura do bárbaro, Morgan é direto: "Acho que já sei com quem preciso marcar minha próxima reunião".

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.