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80 anos de Batman: Quem foi o melhor ator no papel do herói no cinema?

Roberto Sadovski

30/03/2019 04h08

 

Oito décadas atrás, chegava nas bancas ianques a edição 27 do gibi Detective Comics. Era uma mudança de rumo para a publicação, que aos poucos abandonava as histórias em quadrinhos policiais para abraçar um conceito novinho em folha: os super-heróis, inaugurado no ano anterior com a criação do Superman. Batman foi uma encomenda da editora para o desenhista Bob Kane, que bolou o novo herói ao lado de Bill Finger. O sucesso foi imediato e logo espalhou-se por outras mídias. Nestes 80 anos, o Batman foi representado no cinema por uma dezena de atores que contribuíram, cada um à sua maneira, para a expansão da mitologia do Cavaleiro das Trevas. A ideia aqui, portanto, é entender quem vestiu melhor o capuz do Homem-Morcego – independente da qualidade do filme que ele protagonizou. A regra é clara: estamos falando do Batman no cinema, então ficam de fora todos os outros atores que emprestaram voz e/ou corpo para o herói em outras mídias. Ou seja, nada de Clark Bartram em Batman: Dead End. Nerd.

10. LEWIS WILSON
(O Morcego, 1943)

Ok, se existe algum mérito na performance de Wilson, é que ele foi o primeiro Batman do cinema, em quinze episódios do seriado lançado apenas quatro anos depois da estreia do personagem nos quadrinhos. Mas tudo estava contra ele: o traje tosco, seu porte físico nada heroico, a série que servia como mais uma peça de propaganda da máquina militar americana na Segunda Guerra Mundial. Passável como curiosidade histórica; reprovado como retrato de um paladino da justiça.

9. ROBERT LOWERY
(A Volta do Homem-Morcego, 1949)

Segundo Batman do cinema, Lowery era veterano de westerns classe B quando foi convocado para vestir um (ainda tosco) traje colante para combater o crime. Profissional corretíssimo, o ator encarou o trabalho à sério e terminou como uma leve melhora em relação a seu antecessor – ao menos ele puxou um ferro para vestir melhor o traje do Homem-Morcego. Como bônus, seu Bruce Wayne foi representado como um conquistador barato, jogando um papo mole para a repórter Vicky Vale (Jane Adams). Isso que eu chamo de vida dupla!

8. VAL KILMER
(Batman Eternamente, 1995)

Um dos grandes astros dos anos 90, Val Kilmer entrou no jogo com a missão de continuar o trabalho iniciado por Michael Keaton – e se deu muito mal. Trabalhando no automático, seu Bruce Wayne tinha zero personalidade e seu Batman, zero imponência. Claro que a mudança de tom imposta pelo diretor Joel Schumacher, que basicamente transformou Gotham City em um imenso circo, não ajudou na caracterização. Mas Kilmer parecia mais preocupado em fazer caras e bocas do que em criar a mínima complexidade emocional para fazer sua visão do personagem funcionar.

7. GEORGE CLOONEY
(Batman & Robin, 1997)

Esse é o primeiro (mas não o último) caso de "ator certo no filme errado" dessa lista. Ao contrário de Kilmer, George Clooney entendeu a dualidade na construção de Bruce Wayne e de seu alter ego. Como Wayne, o astro de Plantão Médico aos poucos fazia as pazes com sua vida dupla e tentava construir uma persona que ia além da máscara – suas interações com Alfred Pennyworth, trabalho sempre impecável de Michael Gough, conseguiam desenhar alguma emoção e profundidade. Mas este Batman não conseguiu derrotar seu pior inimigo: um filme menos preocupado com narrativa coesa e mais em vender brinquedos. A confusão teve seu preço, e Clooney teve de pagar.

6. ADAM WEST
(Batman – O Homem-Morcego, 1966)

Eu juro que entendo o carinho que muitos fãs tem pela versão criada por Adam West para o Batman. Não é à toa: mais de cinco décadas depois de transformar o Cavaleiro das Trevas num bobo da corte, em três temporadas na TV e em único longa para o cinema, West ainda é para um oceano de gente a imagem do herói fora dos quadrinhos. Como bônus, talvez este tenha sido o único Batman que realmente tinha prazer em sua vida dupla, com sua origem trágica raramente mencionada em histórias marcadas pela explosão cultural pop da época. Mesmo cercado por tanta bobagem e tanto absurdo, West ganhou status icônico por nunca, mas nunca mesmo, deixar de levar seu trabalho a sério. Santo legado, Batman!

5. WILL ARNETT
(Uma Aventura Lego, 2014;
LEGO Batman – O Filme, 2017;
Uma Aventura Lego 2, 2019)

 

 

O aspecto mais bacana de super-heróis dos quadrinhos é perceber que eles não existem para uma faixa etária: existe para todas. Muito fã ranheta insiste que o Batman tem de ser "sombrio e realista" para funcionar, e a interpretação de Will Arnett para o Homem-Morcego é uma bofetada em quem insiste nessa asneira. Assumidamente infantil, seu Cavaleiro das Trevas em dois Uma Aventura Lego, e mais um filme-solo, é prova de que é possível recriar o Morcegão em uma ambientação assumidamente infantil, e ainda se divertir um bocado com isso. Sem falar que Arnett tem a voz perfeita para essa versão casca-grossa-light do personagem, exacerbando sua arrogância e também tirando sarro de sua condição de vítima de uma tragédia. É um Batman jóia!

4. KEVIN CONROY
(Batman – A Máscara do Fantasma, 1993)

Para muitos, Kevin Conroy é o Batman definitivo. Não é para menos. Na espetacular série animada do herói (para mim o melhor desenho animado de todos os tempos, sorry Simpsons), o ator criou um estilo vocal inconfundível, separando claramente as personalidades de Bruce Wayne e do Homem-Morcego, ao mesmo tempo em que conseguia trazer a dor que o fez assumir o fardo de proteger Gotham. A série teve episódios absolutamente brilhantes, sempre conduzidos pelo genial Bruce Timm. Quando A Máscara do Fantasma expandiu o escopo da série para o cinema, Conroy esteve à frente de uma das histórias mais melancólicas e sensacionais do herói, que resumiu todo o sacrifício feito por Bruce Wayne ao abdicar de uma vida normal para viabilizar a existência do Batman. Kevin Conroy é o cara!

3. BEN AFFLECK
(Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, 2016;
Esquadrão Suicida, 2016;
Liga da Justiça, 2017)

Chegamos ao segundo caso de ator certo em filmes errados da lista. Quando Ben Affleck foi anunciado como o Cavaleiro das Trevas em Batman vs. Superman, o mundo coletivamente torceu o nariz. Eis que o ator provou ser um intérprete sólido para o personagem, criando um vigilante envelhecido e endurecido por anos de combate ao crime. Sem falar que Affleck ficou perfeito usando um traje reminiscente do design de Frank Miller para o gibi clássico Batman – O Cavaleiro das Trevas, materializando um Homem-Morcego visualmente perfeito e um Bruce Wayne dolorosamente perturbado. Pena mesmo que ele teve de dar as caras em três filmes péssimos, em especial o horroroso Liga da Justiça, que jogou no mato tudo que faz o personagem funcionar. O culpado tem nome e sobrenome: Zack Snyder. Entendam-se com ele.

2. CHRISTIAN BALE
(Batman Begins, 2005;
Batman – O Cavaleiro das Trevas, 2008;
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012)

Christian Bale foi o Batman certo na hora certa – e nos filmes certos! O diretor Christopher Nolan foi preciso no casting de Bale quando tomou para si a tarefa de reinventar o personagem para o cinema em Batman Begins. Ele precisava de um ator talentoso, de expressão, que soubesse a hora de interpretar Bruce Wayne, e encontrasse o tom certo ao assumir o papel do Homem-Morcego. Havia aí uma terceira personalidade: Wayne como órfão, depois de caminhar pelo mundo aprendendo a ser o Batman, retornando a Gotham disposto a começar sua cruzada – uma personalidade conhecida apenas pelo mordomo Alfred. Bale conseguiu a temperatura exata para cada aspecto do personagem e entregou uma performance completa, cheia de nuances, que conseguia conexão emocional imediata com a plateia. Ele aperfeiçoou a "fórmula" em sua segunda rodada, com sua dualidade dolorosamente exposta pelo Coringa de Heath Ledger. No terceiro filme Christian Bale já estava no piloto automático, mas a essa altura ele já havia redefinido o que é ser um super-herói no cinema moderno.

1. MICHAEL KEATON
(Batman, 1989;
Batman – O Retorno, 1992)

Essa história já é lendária: se existisse Internet em 1988, quando Tim Burton anunciou Michael Keaton como protagonista de Batman, os servidores do estúdio estariam entupidos de mensagens de ódio. Mas o diretor sabia exatamente o que procurava quando convocou Keaton para fazer frente a Jack Nicholson no fenômeno lançado no ano seguinte: um ator de olhos expressivos, que pudesse transmitir em silêncio a dor carregada por Bruce Wayne. Isso sempre foi o principal, já que como o Homem-Morcego, o traje realizava parte do trabalho. Burton, por sinal, fez questão de manter os olhos de seu astro em evidência dentro e fora do traje, porque era ali que o público encontraria a tristeza, a determinação e os sacrifícios que Wayne estava disposto ao trocar a vida de playboy pela de vingador noturno. Keaton se mostrou ainda mais perfeito em Batman – O Retorno, em que ele vê sua vida dupla entrar em choque com seus adversários, o Pinguim e a Mulher-Gato. Elegante como Bruce Wayne e irrefreável como o Cavaleiro das Trevas, Michael Keaton ainda é o melhor Batman que o cinema já viu. A bola está contigo, Matt Reeves!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.