A série Pokémon ganha sobrevida com o fofo e irreverente Detetive Pikachu
Já se foi o tempo em que Pokémon era uma das propriedades intelectuais mais poderosas do planeta. Claro que os monstros de bolso ainda movem uma indústria gigantesca, mas o auge de sua dominância ficou para trás. Talvez essa distância explique porque Pokémon: Detetive Pikachu seja um filme ao mesmo tempo tão simpático e tão bizarro. Ao se distanciar do fenômeno, o diretor Rob Letterman (Goosebumps) ganhou liberdade para tocar uma história longe das amarras dos videogames, mangás e animes. Ou seja: nada de Ash, ou Equipe Rocket, ou mesmo batalhas entre os monstros ao redor do mundo. Melhor assim. Nenhuma das outras encarnações de Pokémon teve a manha de ser tão surreal e tão divertido. Mesmo que também não traga nenhuma novidade.
O maior trunfo de Detetive Pikachu termina sendo Ryan Reynolds, que empresta sua voz e expressões faciais ao roedor (!) elétrico. O personagem é a oportunidade perfeita para o ator liberar seu lado mais bobão e irreverente, sem precisar mergulhar na censura proibida para menores de Deadpool. O anúncio de Reynolds como protagonista da aventura pegou muita gente de surpresa – e mais surpreendente ainda é constatar como a coisa toda funciona. Seu Pikachu traz um pouco do Rocket de Guardiões da Galáxia, com uma língua menos ferina e uma tonelada a mais de fofura. A química com Justice Smith, que merece aplausos por contracenar com o nada e criar uma química extremamente convincente com o monstrinho amarelo, faz com que a trama decididamente absurda não desabe no meio da empreitada.
Até porque, se Pokémon como conceito já é meio biruta (monstros guardados em esferas especiais, capazes de evoluir e treinados para competir entre si), o filme consegue ir além. Baseado levemente no jogo para o Nintendo 3DS lançado em 2016, o mundo de Detetive Pikachu traz humanos convivendo com as criaturas em uma cidade erguida por um bilionário visionário (Bill Nighy). Tim (Justice Smith), corretor de seguros que parece ser a única pessoa sem um pokémon, é obrigado a voltar à cidade após a aparente morte de seu pai, um investigador particular. Ele encontra o Pikachu (com voz de Reynolds) que seria seu parceiro e, para surpresa geral, consegue entender o que o bicho fala. Pikachu, por sua vez, tem amnésia e propõe uma parceria para descobrir o que aconteceu de fato com o pai de Tim, esperando recuperar a memória no processo. A trama ainda envolve uma jornalista novata (Kathryn Newton) em busca de um grande furo de reportagem e um plano que pode colocar a humanidade em risco – que envolve o mais poderoso dos pokémon, Mewtwo.
Apesar de surreal, o roteiro também é dolorosamente genérico, seguindo caminhos bem familiares para aventuras infanto-juvenis que duram um pacote de pipoca e um copo de refrigerante. Ainda assim, sua execução acerta no alvo. O mundo imaginado por Letterman é colorido e envolvente, e o humor nunca é boboca demais (o que deixaria os pais entediados) ou sofisticado demais (perdendo a atenção dos pequenos). Esse equilíbrio eleva Detetive Pikachu alguns degraus acima da média de seus pares. Sem falar que, para os fãs, principalmente a pivetada, esse Pokémon é um deleite, com uma variedade absurda de criaturas no melhor estilo Onde Está Wally? – mesmo que não chegue perto de mostrar as mais de 800 espécies desenvolvidas desde a estréia da franquia em 1995, com dois jogos inocentes para o Game Boy. Com o sucesso de Pokémon: Detetive Pikachu, que chegou aos cinemas ianques com gordos 58 milhões de dólares nas bilheterias, reapresentar mais algumas nas inevitáveis continuações é garantido. Pika pika!
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